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Congresso Nacional

Xadrez de Pacheco e Zema realinha jogo político nacional em Minas

Negociação de dívida antecipa lances de sucessão local e pode mudar peso de outros atores na disputa

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Brasília

Rodrigo Pacheco (PSD-MG) embrulhou com laço de fita um presente para o bolsonarismo ao bancar a votação da proposta que limita decisões do STF. Mas o principal lance do presidente do Senado nesta semana foi uma dobradinha com o governo Lula (PT).

A proposta de Pacheco para federalizar estatais e garantir um alívio à dívida de Minas tem potencial para realinhar o quadro político do estado. Se tiver o efeito projetado, o plano torna o senador um candidato competitivo ao governo em 2026, complica Romeu Zema (Novo) e muda o peso de atores nacionais em território mineiro.

Pacheco se aproveitou de uma longa crise para marcar sua entrada na disputa local. Enquanto Zema patinava para encontrar uma solução para a dívida de R$ 160 bilhões do estado, o presidente do Senado explorou uma aliança com o Palácio do Planalto e driblou seu adversário político.

O presidente Lula (PT) se reúne com os ministros Rui Costa (Casa Civil) e Alexandre Silveira (Minas e Energia) e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), para discutir a situação fiscal de Minas Gerais
O presidente Lula (PT) se reúne com os ministros Rui Costa (Casa Civil) e Alexandre Silveira (Minas e Energia) e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), para discutir a situação fiscal de Minas Gerais - Ricardo Stuckert/Presidência

O senador mineiro levou a Lula uma proposta que, na prática, evitaria impactos dramáticos como o atraso do pagamento de salários de servidores do estado. Em troca da redução da dívida, a ideia é repassar à União o controle de empresas como a Cemig (Companhia Energética Minas Gerais) e a Copasa (Companhia de Saneamento de Minas Gerais).

A conta de Pacheco envolve contrapontos diversos à gestão de Zema. Um deles é o papel das estatais mineiras no plano. Enquanto o governador seguia a cartilha do liberalismo e planejava um processo de privatização das empresas para abater a dívida, o senador propôs pendurá-las no governo federal.

Pacheco tenta demonstrar uma capacidade de extrair ganhos concretos de sua parceria com Lula. Como tradicionalmente o eleitorado mineiro se divide entre direita e esquerda, a ideia é colorir a aliança com um tom de pragmatismo.

Pelo mesmo motivo, o presidente do Senado também lança acenos em outra direção. Ainda que a PEC das decisões monocráticas tenha como objetivo principal selar o apoio da bancada bolsonarista à eleição de Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) ao comando da Casa em 2025, aliados de Pacheco acreditam que a aprovação do texto ajudará a reduzir pressões da direita sobre ele numa futura disputa pelo governo de Minas.

Mas é a jogada da dívida que pode fincar os alicerces para os palanques da eleição de 2026 em Minas. Se esse acordo for mesmo a principal plataforma de Pacheco para a disputa local, o presidente do Senado se torna o candidato natural de Lula ao governo do estado e esvazia articulações dentro do PT para a formação de uma chapa própria.

Pacheco não é o candidato favorito dos petistas, mas muitos deles entendem que o presidente também pode se beneficiar da aliança em sua provável campanha à reeleição. Apesar de o estado ter sido crucial para o retorno de Lula ao Planalto, ele não pisou em Minas em 11 meses de governo.

Zema identificou o impacto precoce desses movimentos. O governador se viu sentado no banco do carona de um acerto que pode ser decisivo para o futuro de sua gestão e buscou uma reação improvisada.

Depois de ter sua ausência criticada publicamente por Lula, ele viajou a Brasília e decidiu entrar nas negociações. Na quarta (22), Zema se reuniu com o presidente do Senado e com o ministro Fernando Haddad (Fazenda). Na saída do encontro com Pacheco, o governador disse concordar com o plano envolvendo as estatais.

A negociação da dívida afeta diretamente as condições que o grupo de Zema terá para encarar 2026. O governador mineiro, em segundo mandato, não tem um sucessor com força própria para enfrentar a disputa estadual e depende de dinheiro em caixa para entregar resultados que possam pavimentar a campanha de um apadrinhado daqui a três anos.

O futuro político de Zema, em particular, também depende dessa questão. O empresário chegou ao governo mineiro com a promessa de uma gestão fiscal firme para equilibrar as finanças do estado. Agora, ele gerencia uma máquina em ruínas e corre o risco de ver um adversário político entregar uma solução para o problema.

Nesse sentido, Zema perderia uma bandeira que esperava usar para se lançar na cena nacional como um possível candidato à Presidência em 2026, seja com o apoio de Bolsonaro ou como uma espécie de alternativa à direita.

A posição do bolsonarismo em Minas, aliás, dependeria das condições políticas de Zema. Se o governador chegar ao próximo ciclo eleitoral com força limitada, Bolsonaro teria um incentivo para buscar um candidato próprio ao governo do estado, fora do campo político de seu atual aliado.

O comportamento de Zema nas negociações da dívida pode criar ainda uma aresta adicional. Bolsonaro é um político que se pauta pela intolerância com certas composições –vide a crítica recente às "escorregadas" de Tarcísio de Freitas (Republicanos) em negociações "com a esquerda". Não seria surpresa se ele pintasse como traição o apoio do governador mineiro ao pacote de Pacheco e Lula.

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