Descrição de chapéu Governo Lula

Lula diz na TV que ódio deixou cicatrizes e fala em restaurar paz após provocações no mandato

Presidente também usa pronunciamento de Natal para exaltar aprovação da reforma tributária e fala que resultados econômicos virão em 2024

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Brasília

O presidente Lula (PT) disse na noite deste domingo (24), véspera de Natal, que o ódio de alguns contra a democracia deixou cicatrizes e dividiu o país, mas que ela saiu vitoriosa após o 8 de janeiro, quando apoiadores de Jair Bolsonaro (PL) depredaram as sedes dos três Poderes, no que o petista chamou de "tentativa de golpe".

Lula reconheceu que ainda "falta restaurar a paz e a união", pregou reconciliação nas famílias e afirmou que o primeiro ano de seu mandato —aprovado por 38% e reprovado por 30% da população, segundo o Datafolha— foi o tempo de "plantar e de reconstruir". Disse que resultados econômicos serão colhidos em 2024 e exaltou a recente aprovação da reforma tributária, promulgada na semana passada.

O presidente Lula (PT) durante pronunciamento na TV na noite deste domingo (24), véspera de Natal
O presidente Lula (PT) durante pronunciamento na TV na noite deste domingo (24), véspera de Natal - Reprodução

Lula fez as declarações durante pronunciamento em cadeia nacional de rádio e televisão para celebrar o Natal. O mandatário usou a sua fala de pouco mais de 5 minutos para pedir união no país, particularmente entre familiares e amigos, no intuito de superar as divergências causadas pela polarização política.

"O ódio de alguns contra a democracia deixou cicatrizes profundas e dividiu o país. Desuniu famílias. Colocou em risco a democracia. Quebraram vidraças, invadiram e depredaram prédios públicos, destruíram obras de arte e objetos históricos", afirmou o petista, sem citar nomes.

"Felizmente, a tentativa de golpe causou efeito contrário", disse, justificando que o episódio "uniu todas as instituições, mobilizou partidos políticos acima das ideologias, provocou a pronta reação da sociedade".

"Ao final daquele triste 8 de janeiro, a democracia saiu vitoriosa e fortalecida. Fomos capazes de restaurar as vidraças em tempo recorde, mas falta restaurar a paz e a união entre amigos e familiares", continuou.

Essa postura, no entanto, contrasta com outros discursos, no qual mantém ataques ao seu antecessor e a seus apoiadores. Chamou Bolsonaro recentemente de "facínora" e "coisa", entre outros adjetivos.

Ainda no pronunciamento, Lula afirmou que "somos um mesmo povo e um só país" —mote de uma campanha publicitária recém-lançada pelo governo na linha de estímulo à pacificação— e pregou o combate às fake news, à desinformação e aos discursos de ódio.

O presidente também realizou um balanço do primeiro ano do seu terceiro mandato. Como já vinha afirmando, ele buscou transmitir otimismo, recorrendo à imagem de que a sementes foram plantadas em 2023 e listou uma série de exemplos de que os principais resultados ainda estão por vir.

Ressaltou as perspectivas positivas para o Brasil em relação ao meio ambiente e à transição energética. O mandatário e seu governo vêm difundindo a mensagem de que o país pode se tornar uma Arábia Saudita da energia verde —em referência ao país líder mundial na exportação de petróleo.

"2023 foi o tempo de plantar e de reconstruir. Aramos o terreno, lançamos as sementes, aguamos todos os dias, cuidamos com todo o carinho do Brasil e do povo brasileiro. Criamos todas as condições para termos uma colheita generosa em 2024", afirmou Lula na TV.

Ele ressaltou ainda a volta e o fortalecimento de algumas marcas de gestões petistas, como o Bolsa Família, o Minha Casa, Minha Vida e o Mais Médicos. As falas gravadas por Lula foram acompanhadas por imagens do país e cenas de alguns dos compromissos internacionais que ele teve ao longo do ano.

Na economia, o petista citou o crescimento do PIB "acima das previsões do mercado" e a inflação sob controle. Disse que o preço dos combustíveis está caindo e a comida ficando mais barata, algumas de suas promessas de campanha. "O dólar caiu e a bolsa de valores está batendo recordes."

O presidente mencionou ainda que o país passou da posição de 12ª para a de 9ª maior economia do planeta. Segundo projeções monetárias do FMI (Fundo Monetário Internacional), o Brasil está no 9º lugar —lideram a lista Estados Unidos, China e Alemanha.

Lula disse que foi recuperado o diálogo com o mundo e a credibilidade internacional. "O país voltou a ser ouvido nos mais importantes fóruns internacionais, em temas como o combate à fome, à desigualdade, a busca pela paz e o enfrentamento da emergência climática", disse.

Ele dedicou o primeiro ano de seu governo a viagens e à participação em discussões como as da guerras da Ucrânia e da Rússia e de Israel contra o Hamas.

Lula também disse que o governo, junto com os estados, está combatendo o crime organizado. A escalada da violência na Bahia e no Rio de Janeiro, o avanço da letalidade policial e os sinais trocados ao lidar com governadores aliados e adversários fizeram a gestão federal ser criticada e acusada de patinar nas crises da segurança pública.

Segundo o presidente, o governo está apoiando os estados. "Além de armamento pesado, apreendemos R$ 6 bilhões de reais em bens do narcotráfico, entre dinheiro vivo, apartamentos, mansões, automóveis de luxo e até aviões e helicópteros", destacou, em aceno a uma pauta cara ao eleitorado bolsonarista.

O governo Bolsonaro tinha como uma de suas bandeiras o tema da segurança pública, obtendo respaldo de servidores da área. Embora tenha prometido a reestruturação das carreiras dos servidores federais, essa promessa não se concretizou.

As principais medidas foram em relação à flexibilização das normas para acesso a armas de fogo. Isso resultou em 17 decretos, 19 portarias, duas resoluções, três instruções normativas e dois projetos de lei, gerando críticas de organizações da sociedade civil.

Contrastando com essa postura, o presidente Lula, em julho deste ano, assinou um decreto que estabelece mais restrições ao acesso de armamentos no Brasil.

Apesar da mensagem de reconciliação, Lula tem feito falas que segue estimulando a polarização política.

A uma plateia de candidatos do partido, no último dia 17, ele disse: "Não pode aceitar provocação nem ficar com medo. Quando o cachorro late para a gente, a gente não baixa a cabeça, a gente late para ele também".

Dois dias antes, em inauguração de um contorno rodoviário na BR-101 em Serra (ES), o petista chamou Bolsonaro de "facínora" e "aquela coisa", além de acusar o adversário político de "usar a fé dos evangélicos". Lula também já se referiu ao rival como "gente ruim" por liderar um governo que "gostava de brigar".

Este foi o terceiro pronunciamento do petista em cadeia de rádio e televisão na atual gestão. O primeiro foi às vésperas do 1º de maio, Dia do Trabalho, quando o mandatário confirmou que seu governo enviaria uma proposta ao Congresso Nacional para estabelecer uma nova política de valorização do salário mínimo.

O pronunciamento seguinte aconteceu às vésperas das celebrações do Dia da Independência, quando o mandatário usou, como agora, uma mensagem de união e de superação do ódio.

"Amanhã não será um dia nem de ódio, nem de medo, e sim de união. O dia de lembrarmos que o Brasil é um só. Que sonhamos os mesmos sonhos", afirmou o presidente, na ocasião.

O slogan daquela cerimônia foi "Democracia, soberania e união" e teve como um dos objetivos associar as Forças Armadas com o conceito de democracia, após meses de desconfiança por causa da aproximação da cúpula militar com o bolsonarismo e mesmo as suspeitas relativas ao 8 de janeiro.

Aquele pronunciamento também foi usado para mostrar avanços econômicos nos primeiros meses de governo.

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