PF faz operação contra célula do PCC que planejava ataques a autoridades e 'missão em Brasília'

Supostos alvos dos criminosos ainda não foram identificados pelos investigadores

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Brasília

A Polícia Federal, a Polícia Militar e o Ministério Público de São Paulo cumpriram nesta quinta-feira (14) mandados de busca e apreensão contra integrantes de uma célula do PCC (Primeiro Comando da Capital) responsável pelo planejamento e execução de atentados contra autoridades e rivais.

Batizada de Irrestrita, a operação mirou o grupo de faccionados que integram a célula "Restrita" e que planejava, entre outras ações, uma "missão" em Brasília.

A ação é um desdobramento da investigação que prendeu em março suspeitos de envolvimento em um plano para sequestrar o ex-juiz Sergio Moro, hoje senador pela União Brasil-PR.

De acordo com a PF, o "grupo criminoso é suspeito de planejar ataques a autoridades, mas não é possível afirmar ainda quem seriam esses alvos". "A PF pretende esclarecer isso após a análise dos materiais apreendidos nesta fase", diz nota da corporação.

A célula Restrita é o mesmo grupo que, como mostrou a Folha, pesquisou endereços dos presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).

Segundo apurou a Folha, a PF até o momento não encontrou indícios de planejamento de ações contra os chefes do Legislativo.

Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, apontado como líder do PCC, durante transferência entre presídios federais
Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, apontado como líder do PCC, durante transferência entre presídios federais - AFP

Documentos aos quais a Folha teve acesso mostram que o Ministério Público paulista em Presidente Prudente encontrou anotações de maio, junho e julho deste ano sobre a "missão em Brasília" ter gasto R$ 2.500 por mês com o aluguel na capital federal.

O imóvel —os relatórios não apontam a localização— seria utilizado como base de apoio para os integrantes do PCC.

Os registros também indicam o gasto do grupo com Uber utilizado por 15 dias para "correr atrás de terreno para compra".

Com base nas anotações, o MP-SP afirma que em dois meses a célula gastou cerca de R$ 44 mil para a compra de "aparelhos celulares, aluguel de imóvel, transporte, seguro, IPTU, alimentação, hospedagem, mobília do imóvel, compra de eletroeletrônicos, etc."

"É possível verificar ainda que o dinheiro gasto com a missão estava sendo fornecido pela FM Baixada, célula que gerencia os pontos de venda de droga da organização no litoral paulista e Vale do Paraíba", diz trecho do documento.

A operação da PF desta quinta cita essas informações, mas também tem outros focos. Um dos alvos, Eduardo Marcos da Silva, foi preso nesta manhã em flagrante por porte de arma ilegal.

Segundo apuração da Folha, ele seria ligado ao grupo próximo de Marcos Willians Herbas Camacho, conhecido como Marcola, apontado como líder do PCC.

À época da operação que desarticulou o plano contra Moro, a célula Restrita, segundo a PF, tinha como responsável Janeferson Aparecido Mariano Gomes, conhecido como Nefo.

Informações do MP-SP dão conta que em maio deste ano Nefo, mesmo preso, teria acionado outros integrantes para colocar em prática a missão em Brasília.

Nefo destacou, segundo relatório do MP-SP, ao menos quatro faccionados para a missão em Brasília: Sandro Olimpio, conhecido como Cizão, Matheus, Felipe e Neymar, cujos nomes completos os investigadores não conseguiram identificar até a produção dos relatórios.

O relatório do MP-SP também atrela a Nefo, responsável pelo plano contra Sergio Moro, o acesso a informações sobre o funcionamento da célula Restrita.

O grupo foi criado, dizem os promotores paulistas, "para atuar em situações diferenciadas, de alto grau de sigilo e risco, normalmente a partir de ordens emanadas de líderes da facção paulista que estão isolados nas penitenciárias federais".

O documento afirma ainda que as ações desenvolvidas por essa célula costumam ser "extremamente graves e de grande repercussão nacional, normalmente ligadas a atentados contra autoridades e servidores graduados, não só das forças de segurança, mas também do Ministério Público e dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário do país".

No início de novembro, a Senappen (Secretaria Nacional de Políticas Penais), órgão do Ministério da Justiça, mudou protocolo de transferência de presos após a descoberta de um possível plano para libertar Marcola, que está na Penitenciária Federal de Segurança Máxima de Brasília.

A célula Restrita teria surgido em 2014, após a facção estabelecer uma aliança com a guerrilha paraguaia denominada EPP (Exército do Povo Paraguaio).

"Um dos pontos estabelecidos nessa aliança estava o treinamento de integrantes do PCC pelo grupo guerrilheiro paraguaio, na qual incluía-se a prática de tiro, conhecimento e emprego de explosivos, táticas e posturas adequadas para a guerra, objetivando qualificar alguns de seus homens para integrar grupos de elite, que seriam empregados em missões específicas, pontuais e que necessitavam de resposta de morte."

O planejamento de atentados pelo PCC, diz o MP-SP, tem como pano de fundo a proibição de visitas íntimas nos presídios federais, onde está detida a maioria de suas lideranças.

Como a proibição tem sido mantida há anos, afirmam os promotores, a facção tem optado por planos para tentativas de resgate dos líderes e por atentados.

"A liderança do PCC, durante esses 30 anos de sua existência, sempre optou por ações violentas preconizando o terror contra o Estado, quando se procurou impor limites aos seus objetivos criminosos, como ocorreu por exemplo nos atentados de maio de 2006 em São Paulo", afirma o relatório do MP-SP.

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