Descrição de chapéu

Marta vice de Boulos é revés para Nunes e obstáculo a mais para chapa Tabata-Datena

Lula vence disputa de bastidor com prefeito de SP e estreita ainda mais espaço para opção à esquerda na disputa de outubro

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Brasília

A tentativa da esquerda de conquistar a prefeitura da maior cidade do país pela quarta vez na história ganhou um novo capítulo neste início de 2024.

O aceite de Marta Suplicy (sem partido) ao convite do presidente Lula (PT) para que seja vice na chapa de Guilherme Boulos (PSOL) não afeta apenas a pré-candidatura do deputado federal, mas também a de seu principal concorrente, o prefeito Ricardo Nunes (MDB), e a da outra postulante do espectro mais à esquerda, Tabata Amaral (PSB).

Marta Suplicy durante entrevista à TV Folha - Bruno Santos -26.jan.2023/Folhapress

A decisão de Marta, que comandou o executivo paulistano de 2001 a 2004 e ainda mantém capital eleitoral na cidade, cristaliza a intenção de Lula de priorizar a disputa por São Paulo em outubro.

Em nenhuma outra cidade do país ele fez movimentos tão explícitos. Em primeiro lugar, desarmou qualquer resistência do PT a ter candidato próprio na capital de São Paulo, feito inédito na história do partido.

Depois, deu recado direto ao vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) dizendo que os dois não podem estar em palanques diferentes na eleição de São Paulo.

Agora, sela a vaga de vice pavimentando a volta da ex-prefeita para a legenda com a qual ela havia rompido em 2015.

Tudo isso após sucessivas declarações do prefeito Ricardo Nunes no sentido de que confiava na permanência de Marta em sua equipe —ela assumiu a secretária de Relações Internacionais de São Paulo ainda na gestão de Bruno Covas (1980-2021), do PSDB.

Nunes ainda se equilibra entre ser ou não o candidato de Jair Bolsonaro (PL) —que vira e mexe manifesta apreço por outro nome, seu ex-ministro Ricardo Salles (PL).

O cuidado se explica, entre outras razões, pelo fato de Lula ter vencido Bolsonaro na cidade de São Paulo por uma diferença maior do que a nacional, além de Fernando Haddad (PT) ter derrotado Tarcísio de Freitas (Republicanos) na capital, diferentemente do ocorrido no estado como um todo.

Pesquisa do Datafolha de agosto também mostrou que 68% dos eleitores paulistanos dizem não votar de jeito nenhum em um nome indicado por Bolsonaro. Com Lula, a rejeição cai quase à metade, 37%.

Sobre a disputa de outubro em si, a pesquisa do Datafolha mostrou Boulos com 32% das intenções de voto, seguido por Nunes, com 24%, Tabata, com 11%, e o deputado federal Kim Kataguiri (União Brasil), com 8%.

A candidata do PSB teve como cartada de maior repercussão nos últimos tempos o anúncio da filiação do apresentador José Luís Datena ao partido, para compor a sua chapa.

A solenidade realizada em Brasília, em dezembro, ocorreu um dia antes da fala de Lula direcionada a Alckmin durante reunião ministerial, sobre os dois não poderem estar em palanques diferentes.

Além da pressão de Lula, que tem o PSB na sua vice e em seu governo —incluindo Márcio França, ministro de Micro e Pequenas empresas e principal dirigente do PSB em São Paulo—, a aliança Tabata-Datena padece da desconfiança sobre a disposição do apresentador de entrar, de fato, na política.

Completando uma dezena de partidos em menos de dez anos, Datena ensaia pela quinta vez uma candidatura a um cargo eletivo. Em todas as ocasiões anteriores, ele desistiu na última hora.

Integrantes do PSB afirmam que irão manter a candidatura de Tabata e que apostam no discurso de renovação e de novas propostas para a cidade, além de afirmarem que o impacto político da adesão de Marta pode não resultar em impacto eleitoral, até porque o cabeça de chapa será Boulos, não ela.

Do lado do PT, a expectativa é de que a ex-prefeita e Lula exerçam papel fundamental na campanha, minimizando o impacto de a sigla não ter, pela primeira vez, um candidato ao cargo.

O nome de Marta também auxilia Boulos, dizem, na tentativa de o líder do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto) se tornar mais palatável a setores de fora do espectro da esquerda. Marta foi, por exemplo, uma das responsáveis por levar Simone Tebet (MDB) a apoiar Lula no segundo turno, em 2022.

O problema já tornado claro nos circuitos internos é o de que Marta terá que se concentrar na defesa de suas realizações na prefeitura, não podendo integrar a linha de frente de ataque a Nunes, pelo óbvio motivo de ter participado de sua administração.

Sobre Tabata, dizem não ver espaço para terceira via na cidade, mas medem os passos e as palavras, até porque contam com o apoio e os eleitores dela em eventual segundo turno.

O PT comandou São Paulo com Luiza Erundina (1989-1992) —em sua época não havia reeleição—, Marta (2001-2004) e Fernando Haddad (2013-2016). Os dois últimos tentaram a reeleição, mas foram derrotados por José Serra (PSDB) e João Doria (PSDB), respectivamente.

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