Nunes enfrenta pressão para vice com 'coronel de Bolsonaro' cotado para contrapor Marta

Aliados do prefeito não querem antecipar escolha de vice; bolsonaristas defendem Mello Araújo

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São Paulo

O acerto entre Guilherme Boulos (PSOL) e Marta Suplicy para formarem uma chapa na eleição para a Prefeitura de São Paulo coloca pressão sobre o principal adversário, o prefeito Ricardo Nunes (MDB), que ainda não tem um vice escolhido.

Auxiliares de Nunes, porém, querem evitar antecipar essa discussão que, no limite, tem até as convenções, entre julho e agosto, para ser resolvida. Na opinião deles, seria um tiro no pé desviar o foco das entregas da gestão para colocar em evidência na opinião pública o debate sobre o vice.

O nome que passou a despontar entre os cotados para formar dupla com o prefeito é o do coronel da reserva da Polícia Militar Ricardo Mello Araújo, bolsonarista que foi presidente da Ceagesp (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo) e ex-comandante da Rota.

O prefeito Ricardo Nunes (MDB) durante entrevista à Folha, em setembro de 2023 - Marlene Bergamo/Folhapress

Em dezembro, Jair Bolsonaro (PL) decidiu, por fim, apoiar a reeleição de Nunes, segundo o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, afirmou à Folha. O ex-presidente, então, passou a ser responsável por indicar um vice do PL para a chapa do prefeito.

Aliados de Bolsonaro dizem que Mello Araújo é uma escolha de consenso entre o núcleo do ex-presidente e o PL. Aliados de Nunes, no entanto, afirmam não ter ouvido ainda sobre o coronel e lembram que o favorito do ex-presidente muda a cada momento.

Interlocutores do prefeito têm dito que a escolha será pactuada por todos os envolvidos e deve ter o aval de Nunes. Para eles, vai dar trabalho encontrar um vice que agrade tanto a Bolsonaro e ao PL quanto aos demais partidos e ao governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), considerado peça fundamental nessa costura.

Aliados de Nunes dizem ser precipitado anunciar o vice, mesmo após Boulos ter fechado a parceria com Marta, que aceitou voltar ao PT. Eles admitem que a ex-prefeita é conhecida e complementa o perfil do psolista, mas evitam descrever um vice ideal para o pré-candidato à reeleição. Levantar nomes seria criar discórdia e queimar os postulantes, completam.

Jair Bolsonaro e o então presidente da Ceagesp, coronel Mello Araújo (de branco), durante visita ao local, em 2020 - Bruno Santos - 15.dez.2020/Folhapress

Um vice ligado à segurança pública agrada o círculo dos principais partidos que apoiam Nunes –PL, Republicanos, PP, União Brasil e PSD, além do MDB. Pesquisas têm indicado que a segurança é o principal problema da cidade na visão dos eleitores e, por isso, seria importante encontrar um nome que respondesse a essa demanda, apesar de a atuação da polícia ser uma atribuição do governo estadual.

Ainda que seja defendido por políticos próximos a Bolsonaro, Mello Araújo não é o único vice cogitado na área da segurança. Parlamentares aliados de Nunes mencionam ainda o deputado federal Coronel Telhada (PP), o deputado estadual Delegado Olim (PP) e o secretário-executivo de Segurança Pública do estado, delegado Osvaldo Nico Gonçalves, embora esse último seja descartado por alguns.

Em novembro, Bolsonaro chegou a sondar o secretário de Segurança do governo Tarcísio, Guilherme Derrite (PL), para concorrer à prefeitura pelo PL, mas ele preferiu seguir em seu cargo, segundo aliados.

O plano de Valdemar e de Fabio Wajngarten, ex-secretário de Comunicação do governo Bolsonaro, principais entusiastas de uma aliança entre o ex-presidente e Nunes em vez da candidatura própria do PL, é que o vice seja um bolsonarista raiz do partido.

Assim, a chapa representaria a união da direita bolsonarista e da centro-direita para derrotar a esquerda na cidade de São Paulo. O cálculo de Valdemar é pragmático –na opinião dele, uma candidatura apenas bolsonarista não seria capaz de vencer diante do eleitorado progressista da capital, mas uma coligação ampla somada à máquina da prefeitura poderia superar Boulos, que hoje aparece à frente nas pesquisas.

Na linha do perfil bolsonarista também há nomes que despontam para a vaga de vice, como o do próprio Wajngarten e da secretária estadual da Mulher, Sonaira Fernandes (Republicanos).

Correndo por fora está o deputado federal Ricardo Salles (PL-SP), que tenta viabilizar sua candidatura à prefeitura e pretende contar, se não com o apoio, ao menos com o aval de Bolsonaro. Apesar de Valdemar afirmar que o ex-presidente está no barco de Nunes, Bolsonaro já deu declarações favoráveis a Salles.

Quem acompanha as conversas que envolvem o prefeito, o ex-presidente e o PL diz que a escolha do vice pode ficar para a última hora, considerando todas as variáveis e atores que precisam ser contemplados. O contexto é de instabilidade com o último desentendimento entre Valdemar e Bolsonaro, por exemplo, o que afeta a eleição municipal.

Bolsonaristas ouvidos pela reportagem apontam uma série de atributos de Mello Araújo, como ter colocado ordem no Ceagesp, ser discreto e, principalmente, ter a total confiança do ex-presidente.

Integrantes da equipe de Nunes, por sua vez, opinam que os vices dificilmente agregam votos ao candidato e acreditam que Mello Araújo pode ser um ativo se não trouxer problemas e se passar a mensagem de que irá combater a insegurança na cidade.

O deputado estadual Gil Diniz (PL), que diz estar no banco de reservas para a vice de Nunes, defende a escolha do coronel. "Ele é uma pessoa altamente qualificada. É leal e carrega os valores que a gente sempre defende."

Próximo do coronel, o ex-deputado estadual Frederico D’Avila (PL) afirma que defende Mello Araújo não só para a vice, mas para ser candidato à prefeitura, e que sugeriu o nome dele para Bolsonaro há muito tempo.

"Ele tem identificação com a cidade, por ter sido comandante da Rota, e com os bolsonaristas. E tem o que mostrar na sua atuação na polícia e no Ceagesp", diz.

Mello Araújo chegou a ser cotado para ser vice de Tarcísio ou para ocupar a pasta da Segurança ou da Administração Penitenciária na gestão estadual, mas o governador acabou deixando o coronel de fora, frustrando bolsonaristas.

Na transição, Mello Araújo foi chamado por Tarcísio para colaborar na área de agricultura e não de segurança, o que surpreendeu o policial, de acordo com outros participantes. Ele teria comparecido apenas uma vez ao seu grupo de trabalho.

O coronel frequenta as manifestações bolsonaristas, como a de 26 de novembro passado, e chegou a convocar PMs veteranos para o 7 de Setembro de 2021. Na Ceagesp, entrou em conflito com o sindicato, que acionou o Ministério Público do Trabalho e o acusa de perseguição. Em 2017, ao assumir a Rota, afirmou ao UOL que a abordagem dos policiais nos Jardins tem que ser diferente da periferia.

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