Ramagem nega que tivesse acesso indevido a software espião e investigações da Abin

Deputado federal afirmou que não usava mais equipamentos da agência em entrevista à GloboNews

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Brasília

O deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ) negou qualquer utilização ou relação com softwares de espionagem da Abin (Agência Brasileira de Inteligência). O uso da ferramenta FirstMile sob sua gestão à frente da agência é alvo de investigação pela Polícia Federal.

Ramagem disse ainda não ter acesso a informações sobre investigações e que não devolveu os equipamentos, encontrados em sua casa durante busca e apreensão nesta quinta-feira (25), por achar que tinha autorização para permanecer com eles.

O ex-diretor do órgão durante o governo de Jair Bolsonaro (PL) e pré-candidato à Prefeitura do Rio de Janeiro neste ano se pronunciou em entrevista à GloboNews nesta quinta-feira (25). Ele foi um dos alvos da operação da PF autorizada pelo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes.

Homem de terno e gravata discursa em frente a um microfone
O deputado federal, Alexandre Ramagem (PL-RJ) - Zeca Ribeiro - 21.nov.2023/Câmara dos Deputados

Na entrevista, Ramagem afirmou que há uma "salada de narrativas [...] sem conjunto probatório" e que nunca utilizou, teve acesso ou sequer teve as senhas do FirstMile. "Nunca tivemos a utilização, execução, gestão ou senha desses sistemas", disse, se referindo a ele e sua equipe direta.

"Nós, policiais federais que estávamos lá, inclusive eu, não tínhamos acesso àquilo lá, nunca pedimos. [...] Nenhum plano de operação, em três anos de Abin, assinado por mim, colocava a utilização do FirstMile [como um pedido]", completou.

Sobre a possibilidade de uso irregular da ferramenta de espionagem, afirmou: "Se o policial usa a arma equivocadamente, não é culpa do diretor-geral. Se a Receita [Federal] tem um novo sistema e utiliza errado, não é culpa do diretor-geral da Receita".

Ramagem afirmou ainda que os equipamentos da agência encontrados com ele durante a busca e apreensão eram antigos, haviam sido trocados por tecnologias mais novas (que foram devidamente devolvidas).

"Poderia devolver, mas estavam ali, eu não sabia. Pensei que fossem da Polícia Federal antigos, que eu tenho direito à custódia, à cautela. Era um telefone antigo, um computador antigo, que estavam ali há mais de anos, sem entrar em qualquer tecnologia da Abin e sem ter contatos com o sistema da empresa", ressaltou.

Ele também negou que tenha tido acesso a investigações da agência após ter deixado o cargo. "Logicamente fiz amigos lá, tenho contatos, mas não informações de investigações, nem nada."

Além do deputado federal, sete policiais são alvos da ação, batizada de Vigilância Aproximada. Os mandados foram cumpridos em Brasília (DF), Juiz de Fora (MG), São João Del Rei (MG) e no Rio de Janeiro (RJ).

Foram cumpridos mandados de busca tanto na residência de Ramagem como no seu gabinete na Câmara.

Como mostrou a Folha, Ramagem é investigado porque os monitoramentos ilegais ocorreram durante sua gestão e por supostamente ter se corrompido para evitar a divulgação de informações sobre o uso irregular do software espião durante sua gestão.

O ex-diretor da Abin teria sido corrompido por dois oficiais da Abin que ameaçaram divulgar o uso do software espião após a agência cogitar demiti-los em um processo administrativo interno por participação em uma fraude licitatória do Exército.

Segundo a PF, as provas coletadas na primeira fase da operação mostram que "o grupo criminoso criou uma estrutura paralela na Abin e utilizou ferramentas e serviços daquela agência de inteligência do Estado para ações ilícitas, produzindo informações para uso político e midiático, para a obtenção de proveitos pessoais e até mesmo para interferir em investigações da Polícia Federal".

Segundo a PF, também há suspeitas de que a Abin tenha atuado para favorecer os filhos do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Jair Renan e o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ).

Ramagem disse à GloboNews que apenas apertou a mão do primeiro algumas vezes e que é próximo do segundo, mas que, com relação à Abin, o que havia era auxílio na proteção de ambos enquanto filhos do presidente.

"Jair Renan tinha sido acusado de ter recebido um carro [...]. Atuação da Abin foi única e exclusivamente localizar o veículo que estava sendo imputado que estava sendo utilizado pelo Jair Renan. Apenas isso", afirmou o hoje deputado federal.

Sobre a suspeita de que Flávio Bolsonaro tenha tido acesso a informações restritas, disse que sindicância interna revelou que, na verdade, se tratava de um "papel de pão mal escrito", não produzido pela agência, e que tanto a PGR (Procuradoria-Geral da República) como o TCU (Tribunal de Contas da União) arquivaram suas investigações sobre o caso.

Ramagem também nega que tenha ocorrido qualquer monitoramento da investigação sobre o assassinato da vereadora Marielle Franco.

"Como é possível? Como é que vai ter algo da Marielle, da investigação? Utilização do sistema? Eu verifiquei que não tem nada a ver com o sistema. É um currículo da promotora, na informação, que parece que circulou ali. A inteligência é coleta de dados", disse ele.

Ramagem ainda afirmou que os questionamentos deveriam ser direcionados a quem da Abin fez circular este currículo.

Também nesta quinta, Flávio Bolsonaro atribuiu a operação da PF a motivações políticas. "A disputa pela prefeitura do Rio começou com força total! Para quem está perdido, a história da Abin paralela é a primeira peça de campanha do time de Eduardo Paes/PT/Rodrigo Maia", escreveu ele, em rede social.

O ex-presidente Bolsonaro não comentou especificamente o assunto até o início da noite, mas publicou em suas redes declarações antigas de Ramagem criticando suspeitas envolvendo a atuação dele na chefia da Abin.

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