Valdemar elogia Lula por escolha de Lewandowski para Ministério da Justiça

Presidente do PL foi alvo de bolsonaristas por elogio a petista e chama vídeo que circula de 'fake'

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São Paulo e Brasília

O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, elogiou nesta sexta-feira (12) a escolha do presidente Lula (PT) de indicar o ministro aposentado do STF (Supremo Tribunal Federal) Ricardo Lewandowski para o Ministério da Justiça.

À Folha o dirigente do partido de Jair Bolsonaro classificou Lewandowski como homem de bem e de comportamento firme.

"Lewandowski tinha tudo para ir pro Ministério da Justiça. Ele é preparado, homem de bem, homem que sempre teve comportamento firme. [Lula] Acertou, como não. Como no caso do [Cristiano] Zanin, não foi boa indicação?", disse.

O presidente do PL elogiou a escolha do então advogado de Lula para a vaga do STF no ano passado.

 O presidente nacional do PL (Partido Liberal), Valdemar Costa Neto
O presidente nacional do PL (Partido Liberal), Valdemar Costa Neto - Pedro Ladeira - 18.jul.23/Folhapress

"Na segurança, vai ter que investir muito nisso. Os municípios, os estados e o governo federal. A situação tá caminhando muito mal no Brasil", completou.

O presidente anunciou, oficialmente, na quinta-feira (11) a indicação do magistrado aposentado para comandar o Ministério da Justiça.

Valdemar lembrou de quando Lula nomeou Lewandowski para o Supremo, em 2006. O PL tinha, no primeiro mandato do petista, a Vice-Presidência da República, com José Alencar.

Ele disse que à época, José Alencar quis saber do então indicado ministro, de quem tinha pouco conhecimento. Valdemar, que é de São Paulo assim como Lewandowski, disse que ele era um "homem muito sério". Agora, repete o elogio.

O dirigente do PL foi condenado no STF no escândalo do mensalão e, à época, foi beneficiado por voto de Lewandowski. O então ministro do Supremo mudou posicionamento que havia feito pela condenação de Valdemar pelo crime de formação de quadrilha. Ao alterar o entendimento, houve empate em relação a esse crime, o que beneficiou o à época réu. Ele acabou condenado por lavagem de dinheiro e corrupção passiva e cumpriu pena no caso.

Nos bastidores, outros bolsonaristas também foram elogiosos ao ex-ministro do Supremo. A avaliação é de que ele tem bom trato e pode ser mais aberto ao diálogo com oposição.

Porém duas ex-autoridades da Lava Jato que entraram na política —o deputado cassado Deltan Dallagnol (Novo-PR) e o senador Sergio Moro (União Brasil-PR)— reagiram com críticas e ironias ao anúncio da ida de Lewandowski para o governo Lula.

Nos últimos dias, o presidente do PL virou alvo nas redes sociais de apoiadores de Bolsonaro por falar bem das gestões passadas de Lula, hoje seu adversário eleitoral. Mas ele disse à Folha que foi mal compreendido e chama de "fake" o conteúdo que circula. Não por negar os elogios, mas por considerar que o trecho da entrevista, concedida em dezembro, foi tirado de contexto.

No vídeo, Valdemar afirma que Lula tem prestígio e é fenômeno por "chegar onde chegou". A declaração foi dada ao jornal O Diário, da região de Mogi das Cruzes (SP), e compartilhada nesta sexta-feira (12) até por petistas. Apoiadores de Bolsonaro, por sua vez, reagiram: "Comunista", disse um internauta.

"O que eu falei do Lula, eu falei porque é verdade. Se eu não falar a verdade, perco a credibilidade, que é o que me resta na política. Ninguém pode negar que ele foi bom presidente. Ele elegeu a Dilma [Rousseff]. Só que eu tava fazendo comparação: o Lula tem prestígio, Bolsonaro tem uma coisa que ninguém tem no planeta, carisma", disse à Folha.

"Eles [extrema direita] descem o cacete em mim quando eu falo isso. [Mas] Tivemos o vice do Lula, José Alencar, que era de direita. Participamos do governo. Como é que vou falar mal do Lula? Se eu falar, não sou um cara sério", completou.

Valdemar diz ainda que a repercussão do vídeo foi "coisa do PT", e minimizou o episódio, dizendo que Bolsonaro nem ligou para ele por isso.

Mais ainda, o dirigente afirmou que ele e o ex-presidente torcem pelo sucesso do governo, pelo bem do país, mas criticou medidas econômicas do Lula 3.

"Estamos torcendo para ele acertar, porque estamos querendo ver o Brasil ir bem. [Mas] Acho difícil, temos que fazer economia, poupar, não gastar dinheiro do governo para fazermos o que precisamos fazer, investir em saúde, educação, segurança pública. Segurança está barbaridade", disse.

Nas redes sociais, o deputado federal Lindbergh Farias (PT-RJ) postou o trecho do vídeo em que Valdemar dá a entrevista. O parlamentar afirma que só acreditaria que Valdemar elogiava Lula se visse o vídeo. Depois de compartilhar a entrevista, escreve "Não tem como! O Lula é o cara!".

Abaixo da publicação de Lindbergh, alguns usuários criticam a postura de Valdemar. "Esperrar [sic] o que dele? Você não conhece o pssado [sic] desse senhor? Eles eram amigos no mesmo lado!", afirma um usuário.

O trecho da entrevista que viralizou edita recortes em que ele é elogioso a Lula, retirando os trechos em que fala bem de Bolsonaro.

No vídeo das redes sociais, Valdemar diz que Lula não tem comparação com Bolsonaro e que o presidente petista é "camarada do povo". "O Lula é completamente diferente do Bolsonaro", afirma.

No restante da resposta ao entrevistador, o presidente do PL fala: "O Lula tem muito prestígio, [mas] não tem o carisma que o Bolsonaro tem, a popularidade. O Bolsonaro é um fenômeno. (...) Hoje ele chegou em Curitiba, aeroporto lotado, depois da eleição. (...). Ninguém consegue isso no planeta, é um fenômeno".

Outro momento explorado no vídeo das redes sociais é quando ele elogia a atuação de Lula em governos anteriores. Segundo ele, o petista é diferente de Bolsonaro porque tem prestígio, embora não tenha "o carisma que Bolsonaro tem". "O Lula tem prestígio. Popularidade. Ele é conhecido por todos os brasileiros. O Bolsonaro não. O Bolsonaro teve um mandato só."

Em seguida, ele diz que o Bolsonaro tem prestígio há muito tempo também e relembra um episódio quando era colega de Câmara dos Deputados do ex-presidente e levou um elogio de seu pai, então prefeito de Mogi das Cruzes, para ele, num bilhetinho.

Valdemar também afirmou que o hoje senador Moro errou na condenação de Lula na Lava Jato. O parlamentar foi considerado parcial na sua atuação como juiz nos processos envolvendo o ex-presidente, preso em 2018 acusado de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. O ex-juiz da Lava Jato deixou a magistratura para se tornar ministro da Justiça no governo Bolsonaro.

Depois, Moro saiu do cargo acusando o ex-presidente de interferir na PF, ensaiou uma candidatura a presidente da República e acabou se elegendo como senador. Agora, enfrenta um processo de cassação, sob a acusação de abuso de poder econômico na campanha eleitoral.

"Se ele [Lula] errou em alguma coisa, ele tinha que ser condenado tudo dentro da lei. O Moro errou. O Moro superou os limites da lei. E ninguém imaginava que o Moro queria ser presidente da República", afirmou Valdemar na entrevista a O Diário.

"Quando eu falo isso [a respeito de Moro], o pessoal da direita fica bravo comigo. Amanhã é um cacete em cima de mim na internet, mas é verdade", afirmou.

Valdemar citou a condução coercitiva de Lula para depor, em 2016, como um exemplo de má conduta do ex-juiz e disse que Moro "passou do limite da lei para aparecer, para ser candidato a presidente". O presidente do PL ainda disse que o ex-juiz "vai pagar caro" pela conduta e que vai ser cassado.

Lindbergh farias comenta post valdemar
Deputado Lindbergh Farias (PT-RJ) comenta entrevista de Valdemar Costa Neto, presidente do PL - Reprodução @lindberghfarias

MORO E DELTAN

O senador e Deltan compararam a escolha de Lula pelo ministro aposentado Ricardo Lewandowski à ida de Moro para o Ministério da Justiça no governo Bolsonaro

A iniciativa de Moro de deixar a magistratura para entrar na política foi um dos motivos que levaram o STF a declarar que ele agiu de modo parcial, o que levou à anulação das provas coletadas na Lava Jato nos processos contra o hoje presidente.

Na quinta, o senador publicou em rede social que aceitar cargos em ministérios "não é e nunca deveria ter sido causa de suspeição".

Já Deltan citou, na mesma rede, um conjunto de decisões favoráveis a Lula e ao PT, como o acesso de arquivos hackeados da Operação Spoofing e o despacho contra o uso de provas do acordo de colaboração da Odebrecht.

Mencionou ainda casos julgados pelo magistrado aposentado no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e disse que as determinações serviram de base "para diversas decisões do TSE que beneficiaram a candidatura de Lula durante a corrida eleitoral".

"Agora que Lewandowski se tornou ministro da Justiça de Lula, as decisões que ele tomou em benefício de Lula e do PT serão anuladas? Lewandowski terá sua parcialidade pró-Lula e pró-PT reconhecida?", afirmou Deltan, ex-coordenador da força-tarefa da Lava Jato.

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