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Advogado de Bolsonaro fala em 'fraqueza de elementos' em investigação da PF sobre golpe

Defensor do ex-presidente diz que declaração na Paulista foi sobre minuta recebida pós-governo; apoiadores hostilizam imprensa

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São Paulo

Advogado de Jair Bolsonaro (PL), Paulo Cunha Bueno disse nesta terça-feira (27) em São Paulo que a interpretação da Polícia Federal segundo a qual o discurso do ex-presidente na avenida Paulista reforçou o indicativo de existência de uma minuta golpista aponta apenas a fragilidade da investigação.

Na avaliação da Polícia Federal, o discurso de Bolsonaro reforçou a linha de investigação de que houve uma trama de tentativa de golpe de Estado. Bueno, assim como fizera um dia antes, negou a possibilidade e criticou a investigação da PF.

"Se as autoridades policiais veem nisso uma forma de confissão, a defesa entende que o que se assiste é realmente a uma pobreza muito grande de elementos nessa investigação semi-secreta, a qual a defesa não tem acesso. E, ao que parece, não tem acesso justamente pela fraqueza dos elementos."

Os advogados de Jair Bolsonaro, Fabio Wajngarten e Paulo Cunha Bueno, ao acompanhar ida do ex-presidente à sede da Policia Federal em São Paulo - Marcelo D'Sants/Ato Press/Folhapress

Segundo o advogado, a citada minuta de texto que buscava anular a eleição se referia a um texto recebido por Bolsonaro em 2023. Portanto, depois que deixou o governo.

O ex-presidente chegou à PF em São Paulo por volta das 14h e ficou quase duas horas no local para depor em inquérito que investiga se ele importunou uma baleia jubarte durante um passeio em São Sebastião (SP), no ano passado.

Daniel Tesser, advogado que acompanhou o depoimento do ex-presidente, afirmou na saída que "não houve nenhuma das hipóteses do tipo penal que estão querendo imputar" a Bolsonaro "em razão do avistamento da baleia".

"Você não consegue controlar um animal daquele tamanho que emerge da água. O presidente tomou todas as precauções a partir do momento que avistou a baleia, que é o que a lei determina. Ele nem sabia que tinha essa preocupação, mas mesmo assim tomou todos os cuidados necessários", disse.

Do lado de fora do prédio, algumas dezenas de apoiadores de Bolsonaro aguardavam para manifestar apoio ao ex-presidente, vestidos de verde e amarelo.

Os manifestantes hostilizaram a imprensa nas duas vezes em que a defesa de Bolsonaro falou com os jornalistas. Fabio Wajngarten, também advogado do ex-presidente, teve que intervir na entrada e na saída, pedindo que eles parassem de gritar para que pudesse ser ouvido.

"Dá um tempo. Eles estão trabalhando, os advogados estão trabalhando, está todo mundo trabalhando", disse na saída. Os apoiadores de Bolsonaro não respeitaram o pedido, mantendo os gritos de "Globo lixo", "comunista", "vai para Cuba" e "malditos".

Na saída do ex-presidente, que não deixou o carro em nenhum momento, os manifestantes passaram a hostilizar um cinegrafista, afirmando que ele havia empurrado uma apoiadora de Bolsonaro em meio à confusão.

O ato do último domingo (25) em defesa de Bolsonaro na avenida Paulista, organizado pelo pastor Silas Malafaia, teve forte tom religioso. Muitos manifestantes levaram bandeiras de Israel e a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro fez uma oração coletiva, se referindo ao Brasil como um país de seguidores dos valores e morais cristãs.

Pessoas vestidas de verde e amarelo reunidas em calçada em rua sob sol
Apoiadores de Jair Bolsonaro reunidos em frente à sede da PF em São Paulo, nesta terça-feira (27) - Ana Luiza Albuquerque/Folhapress

A minuta a que Bolsonaro se referiu na avenida Paulista faz parte de autos aos quais a defesa teve acesso em 18 de outubro do ano passado. Segundo o advogado, o presidente pediu para que ele encaminhasse por telefone o texto para que ele pudesse imprimir e ler fisicamente.

Foi esse o documento encontrado pela PF, no início de fevereiro, na sala do ex-presidente na sede do PL em Brasília. O documento previa declaração de estado de sítio e decretação de uma operação de GLO (Garantia da Lei e da Ordem) após a derrota nas eleições.

"Agora, o golpe é porque tem uma minuta de um decreto de estado de defesa. Golpe usando a Constituição? Tenham santa paciência. Golpe usando a Constituição. Deixo claro que estado de sítio começa com o presidente da República convocando os conselhos da República e da Defesa. Isso foi feito? Não", disse Bolsonaro na avenida Paulista.

Ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) discursa em ato na Avenida Paulista ao lado de Michelle Bolsonaro. - Bruno Santos-25.2.2024/Folhapress

Para investigadores da PF, é possível deduzir das declarações do ex-presidente que ele sabia da existência das minutas e estava ciente de tratativas para tentar impedir a posse de Lula. O ato entrará no contexto de toda a investigação sobre a trama.

Chamado para depor na semana passada na investigação que apura tentativa de golpe, Bolsonaro silenciou. Sua defesa justificou a medida por não ter acesso aos autos.

Para os investigadores, o ex-presidente não só participou da elaboração como chegou a fazer alterações em uma minuta para legitimar um golpe de Estado.

Em uma entrevista ao programa Oeste Sem Filtro, nesta terça (27), Bolsonaro afirmou que durante a manifestação pediu a anistia para os réus envolvidos com os ataques golpistas de 8 de janeiro, mas reconheceu que seria difícil acontecer.

"No fechamento [da manifestação], eu fui para cima do apaziguamento, com anistia, e isso tem que vir mais do lado de lá. Eu sei que o Parlamento é o ente que decide essa questão, mas partindo do Executivo seria muito bem-vindo", afirmou.

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