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Edson Aparecido rejeita terceiro turno em SP e diz que Bolsonaro apoia Nunes, não o contrário

Braço direito do prefeito afirma que emedebista não tem a ver com ação da PF que mira ex-presidente e critica Boulos

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São Paulo

Braço direito do prefeito Ricardo Nunes (MDB) na articulação política e na gerência das ações da prefeitura, Edson Aparecido (MDB), 66, afirma em entrevista à Folha que "a estratégia até a eleição vai ser cuidar da cidade" e que a disputa com Guilherme Boulos (PSOL) não é um "terceiro turno" entre Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL).

"É o Bolsonaro que está apoiando o prefeito", diz o secretário municipal de Governo sobre a aliança pragmática com o ex-presidente. "É ele que está nos apoiando", enfatiza. Questionado, então, se o apoio é do ex-presidente para o prefeito e não o contrário, responde: "Exatamente".

"A pré-candidatura do prefeito Ricardo Nunes tem o apoio de inúmeros partidos, não tem um dono. Até porque quem vai sentar na cadeira é ele, é o Ricardo Nunes, não é outra pessoa", completa Aparecido para esvaziar a estratégia de Lula e Boulos de replicar em São Paulo a polarização nacional, que teve vitória da esquerda no último round.

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Edson Aparecido (MDB), atual secretário de Governo da gestão Ricardo Nunes (MDB), durante debate na eleição de 2022 - Ronny Santos - 13.set.22/Folhapress

Militante do PC do B na juventude e um dos fundadores do PSDB, Aparecido, que foi deputado estadual e federal, migrou para o MDB na eleição de 2022, quando concorreu ao Senado, mas não foi eleito.

Ele rejeita a associação que Boulos faz entre Nunes e o golpismo de Bolsonaro, ressalta a amplitude no entorno do prefeito e diz não ver contradição na união com a extrema direita por parte do MDB, partido de oposição à ditadura militar que ajudou a eleger Lula em 2022 e agora integra o governo petista.

"No governo do Ricardo [Nunes] temos algumas pessoas que têm um histórico na esquerda brasileira: eu, a Soninha [Francine, do Cidadania], o Aldo Rebelo [que pediu licença do PDT]. E o MDB traduz a história da luta democrática no país, o vínculo do MDB com a democracia não tem como apagar."

A distinção que Aparecido prega entre quem é o apoiador e quem é o apoiado na relação entre Bolsonaro e Nunes serve para estabelecer uma distância protocolar e blindar o prefeito da rejeição ao bolsonarismo na capital. A tarefa, no entanto, ficou mais árdua após a operação da Polícia Federal do último dia 8, que investiga um plano de golpe de Estado de Bolsonaro e aliados.

Questionado se a ação policial desgasta Nunes, ele responde que "são fatos que nada têm a ver com o prefeito". "O ex-presidente vai se defender, a Justiça vai caminhar. Veja, o Lula estava inelegível, foi preso e ganhou a eleição", compara.

Em setembro, Nunes afirmou à Folha que considerava Bolsonaro um democrata. Depois da operação da PF, evitou fazer comentários.

Aparecido vai na linha do prefeito. "Bolsonaro participou de várias eleições, ganhou eleição, perdeu eleição. E não se pode agir, evidentemente, contra as instituições. Espero que ele prove que não agiu. Não tive contato com o processo. O respeito às instituições democráticas está acima de qualquer coisa, é o dever de qualquer brasileiro."

Secretário municipal da Saúde na pandemia de Covid-19, Aparecido elenca a vacinação na capital paulista como algo que "de alguma maneira destoava do governo federal na época", mas também vê pontos de aproximação, como o acordo entre a gestão Bolsonaro e Nunes pelo Campo de Marte, que extinguiu uma dívida de R$ 25 bilhões da prefeitura com a União.

"Ninguém pode concordar ou discordar com tudo. Isso faz parte da política", resume.

O secretário promete se concentrar na administração para escapar da nacionalização pretendida por PSOL e PT e lembra que a coligação de Nunes deve ter 12 partidos, dos quais 5 estão no governo Lula –o MDB tem três ministérios. Isso, somado a projetos conjuntos da prefeitura com o governo federal, enfraquece, na sua visão, a ideia de encaixar Nunes na polarização.

"É o debate sobre a cidade que vai ser decisivo para que o cidadão tenha a sua opção de voto. Mas a única alternativa que resta para Boulos é discutir questão ideológica. Se ele for debater a cidade, é evidente que ele perde a eleição", afirma Aparecido.

"Boulos não conhece a cidade, não tem propostas, não faz ideia do desafio de administrar um Orçamento de R$ 112 bilhões. Um prefeito como Boulos, em seis meses ele desmonta a prefeitura", acrescenta.

Enquanto Nunes chama o adversário de mentiroso e radical, seu auxiliar tampouco poupa o líder do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto).

"Quando o prefeito faz esse tipo de caracterização, ele simplesmente está retratando a realidade. Uma figura como o Boulos é a imagem da insegurança jurídica, de quem não respeita a lei. Por exemplo, áreas que foram invadidas tiveram desmatamento em áreas imensas de proteção ambiental."

Já para Tabata Amaral (PSB), que corre por fora, há uma piscadela. "É importante ter uma candidatura como a dela, enriquece o debate."

Segundo o secretário, as pesquisas mostram Nunes encostando na liderança de Boulos, sendo que o psolista abre vantagem na zona oeste, enquanto o prefeito quer conquistar principalmente a periferia com as mais de 1.700 obras em andamento na capital —serão R$ 16 bilhões em investimentos em 2024.

Aparecido lista "obras estruturantes", como 9 CEUs, 8 UPAs, BRTs na zona leste, o VLT do centro, além de ações contra enchentes, a tarifa zero aos domingos, fila da creche zerada, 20 mil câmeras para a segurança pública e o plano de entregar 70 mil unidades habitacionais.

"São marcas muito visíveis, que já estão tendo um impacto muito grande, sobretudo nas regiões onde a população precisa mais do poder público."

A gestão, contudo, é alvo dos adversários por suspeitas de superfaturamento, contratos emergenciais e reclamações de zeladoria. Aparecido admite haver problemas "numa cidade de 12 milhões de habitantes tão desigual, mas estamos procurando enfrentar cada um deles".

Questionado sobre a marca da gestão, ele fala em saúde financeira, capacidade de investimento e competência administrativa. "Outra é a marca de quem investiu de forma decisiva na periferia. Essa é uma orientação do prefeito Ricardo Nunes."

Aparecido vê continuidade entre Bruno Covas (PSDB), de quem era secretário originalmente, e Nunes, o vice que assumiu após a morte do tucano em maio de 2021. Boulos, porém, faz diferença entre Covas, que considera democrata, e o atual prefeito.

"Os dois são democratas. O plano de metas é o do Bruno, o Ricardo não mudou nenhuma pessoa, a administração é a gestão Bruno Covas", diz.

Falando em vices, Aparecido alfineta a chapa de Boulos com Marta Suplicy (PT), que era secretária da gestão Nunes, mas o trocou pelo PT, e não dá como certo que Ricardo Mello Araújo (PL), indicado por Bolsonaro, ocupará o posto na chapa emedebista.

Bolsonarista e ex-chefe da Rota, Araújo fortaleceria a presença do ex-presidente na campanha, algo que serve mais a Boulos do que aos emedebistas.

"Seguramente vão ser levantados mais nomes de vice numa aliança que tem 12 partidos. Todo mundo vai ter que opinar. Qualquer nome que se coloque agora pode inclusive queimar a pessoa. Isso vai ser decidido mais à frente. O mais importante agora é cuidar da cidade. Só fica atrás de vice quem não tem o que fazer, caso do Boulos."


RAIO-X | Edson Aparecido, 66

Secretário municipal de Governo, comandou a pasta da Saúde na administração Bruno Covas. Foi deputado estadual (1999-2007) e federal (2007-2015), além de secretário no governo Geraldo Alckmin em SP. Militante do PC do B no movimento estudantil, foi um dos fundadores do PSDB. Em 2022, se filiou ao MDB, concorreu ao Senado, mas perdeu. É formado em história pela PUC-SP.

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