Candidato a vice-presidente na chapa de Jair Bolsonaro em 2022 e ex-ministro da Defesa, o general Walter Braga Netto manifestou irritação com os comandantes do Exército e da Aeronáutica durante as discussões de um plano para reverter a derrota na eleição daquele ano.
Mensagens obtidas pela Polícia Federal que embasaram prisões e buscas nesta quinta-feira (8) mostram que Braga Netto teria chamado o então comandante do Exército, Marco Antônio Freire Gomes, de "cagão" por não aderir à tentativa de golpe.
Em outras conversas, o general incentiva críticas ao então comandante da Aeronáutica, Carlos de Almeida Baptista Júnior, a quem se refere como "traidor da pátria".
De acordo com a PF, as mensagens foram enviadas por Braga Netto para Ailton Barros, capitão expulso do Exército que estimulava um golpe militar em conversas com Mauro Cid, ajudante de ordens de Bolsonaro.
Para a PF, as conversas "evidenciaram a participação e adesão" de Braga Netto numa tentativa de golpe de Estado. Os investigadores citam atuação do general "inclusive nas providências voltadas à incitação contra os membros das Forças Armadas que não estavam coadunadas aos intentos golpistas".
O ataque a Freire Gomes aparece em 14 de dezembro de 2022. Braga Netto, segundo os policiais, encaminha a Barros uma mensagem crítica ao que seria a omissão do comandante do Exército diante das pressões golpistas.
Em seguida, Ailton Barros diz que seria preciso "oferecer a cabeça" de Freire Gomes aos leões caso ee não aderisse ao golpe. Braga Netto responde: "Oferece a cabeça dele. Cagão".
No dia seguinte, Braga Netto estimula Ailton Barros a atacar o brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Júnior, comandante da Aeronáutica, e elogiar Almir Garnier Santos, comandante da Marinha. Garnier era, segundo as investigações, o único dos chefes das Forças Armadas que apoiava a tentativa de golpe.
"Senta o pau no Batista Junior [sic]. Povo sofrendo, arbitrariedades sendo feita [sic] e ele fechado nas mordomias", escreveu Braga Netto, segundo a PF. "Traidor da pátria. Daí para frente. Inferniza a vida dele e da família."
O relatório da Polícia Federal mostra ainda que Braga Netto incentivou Ailton Barros a espalhar um relato de que o general Tomás Paiva, então comandante militar do Sudeste e atual comandante do Exército, era crítico das articulações golpistas. "Parece até que ele é PT, desde pequenininho", afirmava o texto repassado por Braga Netto.
A PF cumpre na manhã desta quinta-feira (8) mandados de busca e prisão contra ex-ministros de Bolsonaro e militares envolvidos na suposta tentativa de golpe para manter o ex-presidente no poder.
Um dos alvos é o próprio ex-presidente, que entregou seu passaporte para a PF. Bolsonaro já foi condenado pelo TSE por ataques e mentiras sobre o sistema eleitoral e é alvo de outras investigações no STF (Supremo Tribunal Federal). Ele está inelegível até 2030.
Além de Braga Netto, entre os alvos das medidas desta quinta-feira estão os ex-ministros general Augusto Heleno e Anderson Torres. Também são alvos outros militares e Valdemar da Costa Neto, presidente nacional do PL, partido de Bolsonaro.
A ação foi batizada de Tempus Veritatis e investiga uma organização criminosa que, diz a PF, atuou na tentativa de golpe de Estado e abolição do Estado Democrático de Direito "para obter vantagem de natureza política com a manutenção do então presidente da República no poder".
As medidas foram autorizadas pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF, no âmbito do inquérito das milícias digitais.
Além das prisões e buscas, a PF também cumpre medidas diversas como a proibição de manter contato com os demais investigados, proibição de se ausentarem do país, entrega dos passaportes no prazo de 24 horas e suspensão do exercício de funções públicas.
São cumpridos mandados nos estados de Amazonas, Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Ceará, Espírito Santo, Paraná e Goiás e no Distrito Federal.
Segundo a PF, as investigações apontam o grupo investigado se "dividiu em núcleos de atuação para disseminar a ocorrência de fraude nas Eleições Presidenciais de 2022, antes mesmo da realização do pleito, de modo a viabilizar e legitimar uma intervenção militar, em dinâmica de milícia digital".
Primeiro, diz a Polícia Federal, o grupo atuou para construir e propagar a versão de que havia tido fraude na eleição de 2022, "por meio da disseminação falaciosa de vulnerabilidades do sistema eletrônico de votação, discurso reiterado pelos investigados desde 2019 e que persistiu mesmo após os resultados do segundo turno do pleito em 2022".
Em seguida, de acordo com a PF, foram desenvolvidos atos concretos para "subsidiar a abolição do Estado Democrático de Direito, através de um golpe de Estado, com apoio de militares com conhecimentos e táticas de forças especiais no ambiente politicamente sensível".
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