Descrição de chapéu Folhajus ataque à democracia

Braga Netto e Ramos moraram em prédio apontado por PF como palco de reunião golpista

General Ramos diz que seus valores não coadunam com golpismo; Braga Netto não respondeu

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Brasília

Os ex-ministros de Jair Bolsonaro (PL) general Walter Braga Netto e general Luiz Eduardo Ramos moravam no bloco residencial onde, segundo a Polícia Federal, ocorreu uma das reuniões golpistas após a vitória do presidente Lula (PT).

A PF afirma que, em 12 de novembro de 2022, o major Rafael Martins de Oliveira, preso na quinta-feira (8), participou de reunião no bloco B da quadra 112 Sul, em Brasília, com o tenente-coronel Mauro Cid e outros militares investigados para discutir a "estratégia golpista".

Os generais Luiz Eduardo Ramos e Braga Netto durante solenidade com Bolsonaro no Palácio do Planalto - Pedro Ladeira - 20.jun.22/Folhapress

A corporação afirma que, no endereço, "localiza-se um edifício residencial utilizado por vários militares que integravam o governo do então presidente Jair Bolsonaro". Moradores da quadra dizem que Braga Netto e Ramos se mudaram do prédio entre os últimos dias de 2022 e o início de 2023.

Ramos não foi alvo da operação de quinta, batizada de Tempus Veritatis (que, em latim, quer dizer Hora da Verdade). Durante o governo Bolsonaro, o general foi ministro-chefe da Casa Civil e da Secretaria de Governo.

Ele afirmou à reportagem que nunca soube nem participou de nenhuma reunião para discutir estratégias golpistas porque seus valores "não coadunam com isso". Ramos disse que ocupou o imóvel funcional de julho de 2019 até o início de 2023.

"Apesar de morar no mesmo bloco do general Braga Netto, em andares diferentes, não participei de nenhuma reunião em seu apartamento sobre o assunto referido na reportagem. Nunca soube e muito menos estive presente em qualquer reunião onde o tema fosse estratégias golpistas, até porque meus valores não coadunam com isso", declarou.

Já o general Braga Netto, alvo de busca e apreensão na quinta, é colocado em dois núcleos pela PF: o "responsável por incitar militares a aderirem ao golpe de estado" e o de "oficiais de alta patente com influência e apoio a outros núcleos".

Ex-ministro da Defesa e da Casa Civil, Braga Netto foi também candidato a vice-presidente na chapa de Bolsonaro nas últimas eleições. Ele foi procurado pela reportagem por meio de sua assessoria de imprensa, mas não houve retorno.

Em uma conversa de WhatsApp transcrita pela PF, Cid sugere, em 12 de novembro de 2022, que Rafael o encontre no Palácio da Alvorada ou no bloco B da 112 Sul: "Ou vai lá pro Alvorada, tá, que eu tô lá, que tô chegando lá. Ou vai pra 112 Sul, bloco B, a gente se encontra lá. O que for melhor pra vocês aí".

O major, conhecido como Joe, responde: "Opa. Blz. Vamos para a 112". Cerca de 45 minutos depois, ele acrescenta: "Já estamos aqui".

Fachada do edifício Marechal Mascarenhas de Moraes, em Brasília - Gabriela Biló/Folhapress

Na decisão que autorizou a operação deflagrada na quinta, o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), afirma que o major Rafael Martins de Oliveira integrava o "núcleo operacional de apoio às ações golpistas".

O major foi preso preventivamente na quinta em Niterói, região metropolitana do Rio de Janeiro. Ele pertencia às Forças Especiais, grupo de elite do Exército conhecido por "kids pretos", em referência à boina preta usada por seus integrantes.

A PF afirma que existem fortes indícios de que o major tenha arregimentado kids pretos para "subverter o Estado democrático de Direito", e direcionado manifestantes para os alvos de interesse, como o STF e o Congresso Nacional.

Em uma das mensagens, em 14 de novembro, Cid pede para que o major fizesse uma estimativa com hotel, alimentação e hospedagem "para trazer um pessoal do Rio". O ex-ajudante de ordens de Bolsonaro pergunta sobre a quantia de R$ 100 mil. Joe responde: "Em torno disso. Vou te mandar".

A participação de integrantes do Exército no atentado de 8 de janeiro está na mira da Polícia Federal. Imagens do dia mostram ações sofisticadas, como o uso de cordas e gradis presos uns aos outros para servirem de escadas.

Como revelou a Folha em julho do ano passado, um dos condenados por tentar explodir um caminhão de combustíveis perto do aeroporto de Brasília disse à Polícia Civil do Distrito Federal que militares da reserva mapearam as sedes dos Poderes e se ofereceram para fabricar e instalar a bomba.

Em uma das citações que aparecem na decisão de Moraes, o endereço da reunião é escrito como "112 SUL, bloco 8", sugerindo um erro de digitação —uma vez que não existem blocos (prédios) identificados com número. Todos os apartamentos do bloco B da 112 Sul pertencem ao Ministério da Defesa para uso funcional, segundo o Portal da Transparência.

"No dia 12.11.2022, o major RAFAEL MARTINS participou de reunião em Brasília/DF juntamente com MAURO CID e outros militares investigados para tratar de assuntos relacionados a estratégia golpista. No endereço do encontro (112 SUL, bloco 8), localiza-se um edifício residencial utilizado por vários militares que integravam o governo do então Presidente JAIR BOLSONARO", diz trecho da decisão.

Em 18 de novembro de 2022, após a vitória de Lula, Braga Netto passou uma mensagem enigmática a bolsonaristas que estavam no cercadinho do Palácio da Alvorada e cobravam uma resposta do então presidente: "Vocês, não percam a fé. É só o que eu posso falar agora".

A decisão de Moraes que autorizou a operação da PF afirma que Bolsonaro não só teve acesso a uma minuta de golpe, mas também pediu modificações. O documento teria sido escrito pelo ex-assessor presidencial Filipe Martins, preso nesta quinta.

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