Descrição de chapéu ataque à democracia Folhajus

Veja e entenda frases da reunião em que Bolsonaro escancara cenários golpistas

Encontro teve ataque a urnas e STF, mentira sobre Lula e referência à Abin

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São Paulo

O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes autorizou nesta sexta-feira (9) a divulgação do vídeo de uma reunião com afirmações golpistas entre Bolsonaro e ministros.

No evento, ocorrido no dia 5 de julho de 2022, Bolsonaro afirma que vai entrar em campo com "meu Exército, meus 23 ministros" em um contexto golpista de não aceitação dos resultados das eleições caso não saísse como vencedor.

O vídeo foi encontrado em um computador de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro que atualmente colabora com as investigações.

Dentre os participantes da reunião, estavam Anderson Torres (Ministério da Justiça), o general Augusto Heleno (Chefe do Gabinete de Segurança Institucional), Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira (Ministério da Defesa), Mário Fernandes (chefe-substituto da Secretaria-Geral da Presidência da República) e Braga Netto (chefe da Casa Civil).

A divulgação do vídeo ocorre um dia após operação que mirou Bolsonaro, ex-ministros e militares investigados por planejarem uma trama golpista.

Veja e entenda algumas das frases da reunião golpista com Bolsonaro relevada pela PF.

Frame de vídeos apreendidos pela Polícia Federal  no computador do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro  (PL), mostram uma reunião em que o ex-presidente convoca seus ministros a fazerem "alguma coisa" antes das eleições  presidenciais de 2022 para impedir a vitória de Lula
Frame de vídeos apreendidos pela Polícia Federal no computador do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL) - Reprodução/Polícia Federal

"Meu exército, meus 23 ministros"

Bolsonaro afirmou na reunião: "Eu vou entrar em campo usando o meu exército, meus 23 ministros" durante fala em que colocava em dúvida a lisura das eleições. O presidente também afirmou que "nós não podemos esperar chegar 23, olhar para trás e falar: o que que nós não fizemos para o Brasil chegar à situação de hoje em dia?".

No contexto, o então presidente exorta os presentes a traçarem uma estratégia para garantir a manutenção do governo. "Nós temos que nos expor. Cada um de nós. Não podemos esperar que outro façam por nós. Não podemos nos omitir. Nos calar. Nos esconder. Nos acomodar", afirmou.

A estratégia de desacreditar as urnas foi adotada por Bolsonaro durante todo o seu mandato, sempre sem provas. Bolsonaristas e aliados passaram a questionar a segurança das urnas eletrônicas, embora o sistema seja considerado eficiente por especialistas.

A estratégia inflama parte do eleitorado do ex-presidente, que ainda hoje põe em xeque a lisura das eleições que deram a vitória a Lula (PT).

PEC da bondade

Bolsonaro relacionou a aprovação da PEC da bondade, que ampliou gastos com programas sociais, a uma porcentagem alta de votos da sua chapa nas eleições. Apesar disso, afirmou que o resultado não seria positivo por causa da atuação do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) contra o governo.

"A Câmara deve votar hoje o ... a PEC da Bondade, como é chamada, né? E não tem como, né, depois dessa PEC da Bondade, a gente ... a gente não tá pensando nisso, manter 70% dos votos, ok? Mas a gente vai ter 49% dos votos, vou explicar por que", afirmou.

Ataque a ministros do STF

"Porque os cara tão preparando tudo, pô! Pro Lula ganhar no primeiro turno, na fraude. Vou mostrar como e porquê. Alguém acredita aqui em Fachin, Barroso, Alexandre de Moraes? Alguém acredita? Se acreditar levanta o braço! Acredita que eles são pessoas isentas, tão preocupado em fazer justiça, seguir a Constituição? ", diz Bolsonaro na reunião, sugerindo que também o STF atuava a favor de Lula.

Em outro trecho, ele afirma: "O nosso Supremo aqui é um poder à parte. É um super Supremo. Eles decidem tudo. Fora ... Muitas vezes fora das quatro linhas".

O ataque a ministros foi recorrente em seu mandato, fosse direcionado a toda a corte, fosse direcionado a ministros como Alexandre de Moraes. Segundo as investigações da PF, os golpistas tinham planejado prender Moraes depois de consumado o plano autoritário.

O ex-presidente afirma que agendou reunião com embaixadores para "mostrar o que tá acontecendo". A reunião, ocorrida no dia 18 de julho de 2022, resultou na inelegibilidade do político, uma vez constada a prática de abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação.

Incentivo à propagação de desinformação

Bolsonaro indica como os ministros presentes precisam se comportar em relação ao tema das urnas.

"Daqui pra frente quero que todo ministro fale o que eu vou falar aqui, e vou mostrar. Se o ministro não quiser falar ele vai vim falar para mim porque que ele não quer falar. Se apresentar onde eu estou errado eu topo. Agora, se não tiver argumento pra me ti... demover do que eu vou mostrar, não vou querer papo com esse ministro. Tá no lugar errado. Se tá achando que eu vou ter 70% dos votos e vou ganhar como ganhei em 2018, e vou provar", afirma.

Mentira sobre Lula e o narcotráfico

Bolsonaro afirma que Lula e outros presidentes da América do Sul receberiam financiamento do narcotráfico.

"É ... Nós estamos vendo aqui a ... não é toda a imprensa, uma outra TV e as mídias sociais sobre a delação do Marcos Valério. A questão da ... da execução do Celso Daniel. Né? É ... O envolvimento com o narcotráfico. É ... Temos informações do General Carvajal lá da Venezuela que tá preso na Espanha. Ele ... já fez a delação premiada dele lá. É... Por 10 anos abasteceu com o dinheiro do narcotráfico Lula da Silva, Cristina Kirchner, Evo Morales".

A acusação é repetida por Anderson Torres, então Ministro da Justiça. Na reunião, ele fala sobre "a velha relação do PT com o PCC". Nesta quinta-feira (8), o TSE aplicou uma multa de R$15 mil a Bolsonaro por associar Lula ao PCC nas eleições.

Nota contra eleições

Segundo Bolsonaro, o objetivo da reunião era pedir que a Comissão Eleitoral fizesse um documento dizendo não ser possível garantir a lisura das eleições.

"[...] Eu acredito que essa proposta de cada um da Comissão de Transparência Eleitoral tem que ... quem responde pela CGU vai, quem responde pelas Forças Armadas aqui... é botar algo escrito, tá? Pedir à OAB. Vai dar... a OAB vai dar credibilidade pra gente, tá? Polícia Federal ... dizer ... que até o presen ... uma nota conjunta com vocês, com vocês todos ... topam ... que até o presente momento dadas as condições de ... de ... se definir a lisura das eleições são simplesmente impossíveis de ser atingidas. E o pessoal assina embaixo".

Referência à Abin

No final da reunião, o general Augusto Heleno cita a Abin e o "problema da inteligência".

"Eu já conversei ontem com o Victor, novo diretor da Abin, e nós vamos montar um esquema para acompanhar o que os dois lados estão fazendo. O problema todo disso é que se vazar qualquer coisa [..], a gente se conhece nesse meio, se houver qualquer acusação de infiltração desses elementos da Abin [...]".

Bolsonaro interrompe Heleno e pede para que ele pare de falar. "Ô general, eu peço que o senhor não fale, por favor. Não prossiga mais na tua observação aqui. Eu peço que não prossiga na tua observação", afirma, dizendo que eles conversariam no particular sobre " o que por ventura a Abin está fazendo".

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