Ida de Tarcísio ao PL envolve pressão de Bolsonaro e esbarra em eleição na Câmara

Governador nega mudança do Republicanos a curto prazo, mas membros do PL dão a filiação como certa, ainda que mais adiante

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Brasília e São Paulo

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) tem investido em levar para seu partido o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), mas a saída depende de um acordo com o presidente do Republicanos, o deputado federal Marcos Pereira (SP), que quer disputar a presidência da Câmara em 2025.

Enquanto Tarcísio nega uma mudança de curto prazo, integrantes do PL dizem que a migração está acertada.

Deputados próximos do governador pontuam, no entanto, que a filiação pode ficar para o meio deste ano ou para após a eleição municipal, mas teria sido confirmada pelo próprio chefe do Executivo paulista a aliados.

Tarcísio de Freitas e Jair Bolsonaro durante ato de apoio ao ex-presidente na av. Paulista - Bruno Santos - 25.fev.24/Folhapress

Nesta quarta-feira (6), durante entrega de moradias em Flórida Paulista (600 km da capital paulista), Tarcísio foi questionado sobre migrar para o PL e respondeu que "não tem isso".

"Hoje nós temos um time, que tem Republicanos, tem PL, tem PSD, tem PP, tem MDB, tem Podemos. Esse time está unido, então vamos trabalhar em prol desse time para que a gente tenha, em outubro, uma eleição municipal muito bem-sucedida. Estamos trabalhando dentro do normal, do que está previsto hoje, sem nenhuma mudança à vista de curto prazo", disse.

Quem acompanha as conversas entre Tarcísio e Bolsonaro, no entanto, diz que o governador faz jogo de cena e que a mudança para o PL já foi pactuada com o ex-presidente há mais de dois meses —e não haveria possibilidade de o governador negar um pedido do seu maior aliado.

Uma pessoa do entorno do governador foi categórica ao dizer que ele não está de transferência para o PL neste momento. A mudança, afirma, é um desejo de Bolsonaro, os dois têm conversado sobre o assunto e isso pode ocorrer mais à frente, mas não há nada previsto agora.

Na avaliação de parte dos integrantes do PL, a disputa pela presidência da Câmara pode ser uma janela de oportunidade para a migração de Tarcísio.

A leitura é a de que Marcos Pereira, se quiser comandar a Casa, vai precisar negociar com o PL, que quer lançar um candidato próprio. Nesse contexto, ele poderia perder o principal quadro do Republicanos na tentativa de atrair o PL.

Membros da cúpula do PL, no entanto, descartam deixar de lançar um candidato para a presidir a Câmara em troca da eventual filiação de Tarcísio. A decisão da cúpula nacional do partido é ter um nome na disputa para reforçar a característica de oposição a Lula.

Interlocutores de Bolsonaro também rejeitam a possibilidade de que o PL apoie Pereira. Eles afirmam que o presidente do Republicanos nunca fez gestos para a direita bolsonarista e, pelo contrário, escolheu o presidente Lula e o PT —e que sua inabilidade política o levará a perder Tarcísio.

Na opinião de membros do PL, há uma série de vantagens para Tarcísio em integrar um partido maior, mais capilarizado e que já abriga Bolsonaro.

Eles lembram que, no primeiro turno da eleição de 2022, a identificação entre o governador e o então presidente era tanta que mais de 500 mil eleitores votaram 22, número do PL, para governador, quando número de Tarcísio era 10 —o que levou à anulação desses votos.

Além disso, o partido do ex-presidente não faz parte da base de Lula, ao contrário do Republicanos. Por fim, com Tarcísio no PL, a ideia de lançá-lo à Presidência da República no lugar de Bolsonaro em 2026 ganha força, apesar de o governador sinalizar que vai disputar a reeleição no estado.

Entre parlamentares do PL e bolsonaristas, a filiação de Tarcísio ao partido é tratada como certa —faltaria apenas ajustar detalhes de data. A ideia é fazer um grande evento de filiação, inclusive com a presença de Bolsonaro.

Por outro lado, interlocutores de Tarcísio rebatem os rumores de que a troca está acertada.

Um deles afirma que a transferência seria difícil diante das rusgas que o governador teve no passado com Valdemar Costa Neto, presidente da sigla. Mas pondera que há boa relação com o partido em São Paulo, na figura do presidente da Assembleia Legislativa, André do Prado (PL).

Ao portal Metrópoles, na terça (5), Bolsonaro afirmou que a filiação estava "90%" fechada e aconteceria em poucas semanas.

Principal parlamentar do PL em São Paulo, o deputado Antonio Carlos Rodrigues divulgou um vídeo em suas redes sociais comemorando a mudança de partido. "Boa noite, governador Tarcísio, estou muito contente com a tua vinda para o PL. As portas do PL estão abertas para o senhor", diz ele.

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