PL quer novos atos com Bolsonaro para energizar militância e mostrar força

Integrantes do partido avaliam que manifestações mantêm apoios ao ex-presidente em ano eleitoral

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Brasília

A cúpula do PL quer repetir em outros estados a fórmula do ato pró-Jair Bolsonaro (PL) em São Paulo no final do mês passado como forma de reagir às investigações da Polícia Federal.

Integrantes do partido conversaram com o ex-presidente para que ele replique a manifestação em locais como Rio de Janeiro e Belo Horizonte.

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), ao lado de Michelle Bolsonaro, ex-primeira-dama, e do pastor Silas Malafaia, durante ato na Paulista - Danilo Verpa - 25.fev.2024/Folhapress

A avaliação no PL é que o evento demonstrou o vigor político de Bolsonaro e é uma forma de manter a militância engajada num ano de eleições municipais.

Além disso, reforça a narrativa propagada pelo ex-presidente de que ele é vítima de uma perseguição do Judiciário e que não tramou um golpe de Estado, ao contrário do que apontam as investigações da PF

Desta forma, para integrantes do PL, Bolsonaro conseguiria "equilibrar" as forças com o STF (Supremo Tribunal Federal) ao demonstrar que segue com bastante apoio popular e o país, dividido.

Na visão desses assessores, seria também um modo de eventualmente frear o avanço de processos no Supremo ao deixar claro que condenar Bolsonaro ou tomar uma medida mais drástica, como prendê-lo, teria repercussão negativa em parte da população.

Pessoas próximas ao ex-presidente, fora do núcleo partidário, concordam em fazer novos atos, desde que bem espaçados —por exemplo, um por semestre. A leitura de quem está no núcleo duro de Bolsonaro é que fazer um evento do tipo todo mês poderia banalizar a manifestação e enfraquecê-la.

O ex-presidente reuniu milhares de apoiadores na avenida Paulista no último dia 25. O ato foi convocado pelo próprio ex-chefe do Executivo que argumentou querer se defender das suspeitas apontadas pela PF.

O presidente Lula (PT) reconheceu que o ato foi grande.

Aliados consideraram o evento um sucesso pela quantidade de participantes e também porque Bolsonaro soube moderar o tom do discurso, assim como seus apoiadores, que evitaram faixas contra as instituições, a pedido do ex-presidente.

No lugar da postura agressiva contra ministros do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e do STF, em especial Alexandre de Moraes, o ex-presidente foi mais ameno nas críticas às cortes.

Em sua fala, Bolsonaro disse buscar a pacificação do país e pediu anistia aos presos pelo ataque golpista de 8 de janeiro de 2023.

Ele também reclamou por estar inelegível e criticou as penas impostas aos que participaram do 8 de janeiro. Ainda lembrou da facada de que foi vítima e fez um balanço de seu governo.

Bolsonaro tratou diretamente das suspeitas que pairam sobre ele e acabou, na visão de investigadores, produzindo provas contra ele mesmo.

O ex-mandatário reclamou do "abuso por parte de alguns que trazem a insegurança para todos nós" e negou ter planejado um golpe para evitar que Lula tomasse posse.

"O que é golpe? É tanque na rua, é arma, conspiração. Nada disso foi feito no Brasil", disse. "Agora o golpe é porque tem uma minuta do decreto de estado de defesa. Golpe usando a Constituição? Tenha paciência", disse o ex-presidente, ao admitir a existência de um texto nessa linha.

Segundo integrantes da PF, esse trecho constará no inquérito que mira o ex-presidente, como indício de que ele tinha conhecimento da redação de minutas golpistas.

O tom adotado pelo ex-mandatário não foi à toa. Aliados e advogados passaram dias conversando com Bolsonaro para que ele evitasse ataques diretos para que o Supremo não se sentisse provocado.

A mesma orientação foi passada aos poucos que discursaram no local. O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, foi ao ato na Paulista antes da chegada de Bolsonaro e levou uma decisão da Executiva do partido estabelecendo que poucos discursariam. Reforçou que aqueles que falassem, fizessem um discurso ameno.

O único que fugiu à regra foi o pastor Silas Malafaia, um dos organizadores do ato, que criticou diretamente o STF e o TSE.

Integrantes do PL temiam que Bolsonaro pudesse ser preso no início deste ano. Agora, dizem acreditar que qualquer decisão drástica não deve ser tomada tão cedo.

Isso porque ainda falta a PF indiciar o ex-presidente nos três inquéritos nos quais ele é alvo, depois a PGR (Procuradoria-Geral da República) precisa se manifestar e só depois o Supremo julgará o caso.

A cúpula do partido diz que as investigações não atrapalharão o capital político de Bolsonaro nem a capacidade de transferir votos nas eleições municipais.

O partido aposta fortemente, por exemplo, na candidatura do deputado Delegado Ramagem (PL-RJ) a prefeito do Rio de Janeiro contra o atual Eduardo Paes (MDB).

Ramagem também é alvo de uma investigação da PF, que apura se a Abin (Agência Brasileira de Inteligência) fez monitoramentos ilegais enquanto ele era o dirigente do órgão.

Para o PL, isso não atrapalha Ramagem, pelo contrário, o alavanca com o discurso adotado pelo partido de que ele é vítima de perseguição.

A avaliação é que no Rio, Bolsonaro e sua família, que tem Flávio Bolsonaro como senador pelo estado e Carlos Bolsonaro como vereador, conseguem alavancar a candidatura de Ramagem.

A expectativa é que a disputa na cidade seja bastante competitiva, assim como em São Paulo, onde o PL apoiará o prefeito Ricardo Nunes (MDB) contra o deputado Guilherme Boulos (PSOL).

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