Descrição de chapéu Congresso Nacional

Centrão se une a bolsonaristas e prepara novo modelo de foro para esvaziar STF

Lira pode levar adiante proposta que fortalece STJ e TRFs em detrimento do Supremo; movimento ganha força após Brazão ser mantido preso

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Brasília

Líderes do centrão se uniram a apoiadores de Jair Bolsonaro (PL) no Congresso e preparam uma nova proposta de revisão do foro especial.

A articulação é uma resposta ao julgamento do STF (Supremo Tribunal Federal) sobre o tema, que na madrugada desta sexta (12) formou maioria para ampliar o alcance do foro de autoridades —a análise na corte foi interrompida em seguida devido a pedido de vista do ministro André Mendonça.

O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), sinalizou a aliados que pode levar adiante uma PEC (proposta de emenda à Constituição) para transferir os processos de parlamentares para os TRFs (Tribunais Regionais Federais) ou para o STJ (Superior Tribunal de Justiça).

O principal objetivo é tirar do Supremo o poder de julgar e aplicar medidas cautelares contra políticos com mandato.

Sessão plenária da Câmara dos Deputados - Pedro Ladeira/Folhapress

O STJ é hoje responsável por analisar, por exemplo, casos de governadores, desembargadores e integrantes de Tribunais de Contas dos estados. Os processos só chegam ao STF em caso de recurso.

A ideia vem sendo discutida há algumas semanas e ganhou força após a Câmara ter decidido manter a prisão do deputado Chiquinho Brazão (sem partido-RJ), preso sob suspeita de ser um dos mandantes do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ), em 2018.

A nova proposta seria uma alternativa à discussão anteriormente defendida pelos bolsonaristas, que pediam o fim do foro especial e a remessa de processos contra parlamentares para a primeira instância.

Já integrantes do centrão preferem uma espécie de meio-termo. Na avaliação desse grupo, magistrados de primeira instância, que guardam conexões com diferentes grupos de poder em seus estados, seriam mais suscetíveis a interferências políticas.

Hoje, os parlamentares têm foro especial no STF –isto é, são julgados pela mais alta corte do país– por crimes cometidos durante o mandato e relacionados ao exercício do cargo.

A regra foi definida pelo próprio Supremo em 2018. A definição reduziu a quantidade de processos que tramitam no tribunal. Dados de 2022 do STF mostram que o número de ações penais e inquéritos na corte caiu 80% em relação ao período vigente antes da mudança da norma.

Os ministros, no entanto, discutem uma alteração na norma para ampliar a competência de julgar os parlamentares e outras autoridades —ou seja, manter esses políticos sob sua jurisdição, mesmo quando os fatos julgados ocorreram antes do início do mandato e não têm relação com o cargo.

O tribunal já tem seis votos para determinar que o foro seja mantido mesmo depois do fim do mandato parlamentar de políticos por qualquer causa —renúncia, não reeleição ou cassação.

Com o novo entendimento do Supremo, boa parte dos processos de parlamentares continuaria nas mãos do STF, o que aumenta o poder de pressão da corte em relação ao Legislativo, que tem encampado uma série de propostas que contrariam os magistrados.

Nos bastidores do Supremo, a avaliação é que a mudança se faz necessária para que os ministros tenham mais poder sobre os parlamentares. Além disso, o foro serviria para proteger os próprios magistrados de ações de opositores depois que eles se aposentarem da corte.

A prisão do deputado Chiquinho Brazão, no final de fevereiro, reiniciou discussões no Congresso sobre o foro especial. A decisão da Câmara de mantê-lo detido deve acelerar as conversas.

A confirmação da prisão de Brazão foi aprovada por 277 a 129 votos na quarta-feira (10). Eram necessários 257 votos para confirmar a medida, determinada pelo ministro Alexandre de Moraes e confirmada pela Primeira Turma do STF.

Como mostrou a Folha, a votação no plenário da Câmara enfraquece Lira. Isso porque o grupo do presidente da Casa encabeçou articulações para derrubar a prisão do deputado, num apelo ao espírito de corpo e à autoproteção dos parlamentares.

Lira relatou em conversas reservadas ter ficado contrariado com a decisão dos pares. O deputado minimizou inclusive o resultado, alegando que 277, apenas 20 a mais que o necessário, não significam uma vitória expressiva do STF.

A rediscussão do foro especial e o interesse de reagir a decisões do Supremo estão inseridos nesse mesmo contexto.

Os críticos da ordem de prisão argumentam que a decisão dada pelo ministro do STF Alexandre de Moraes e referendada pela 1ª Turma da corte desrespeita a Constituição, que permite a prisão de parlamentar no exercício do mandato apenas em flagrante e por crime inafiançável.

A justificativa dos aliados de Lira era que referendar o Supremo abriria um precedente perigoso por violar prerrogativas de parlamentares.

O líder da União Brasil, Elmar Nascimento, foi o principal articulador nesse sentido a fim de impor uma derrota ao STF e declarou publicamente que votaria contra a prisão, na terça (9).

Outros nomes próximos ao presidente da Casa não participaram da votação desta quarta para tentar evitar os votos suficientes para revogar a prisão.

O PL, do ex-presidente Jair Bolsonaro, também orientou sua bancada pela revogação da prisão. O resultado significou uma vitória para a base do governo Lula (PT).

Integrantes do Planalto entraram em campo nesta quarta para garantir votos a favor da manutenção da prisão.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.