Descrição de chapéu 40 anos das Diretas

Charge inédita de Ziraldo retrata clima tenso das Diretas

Desenho do cartunista, que morreu no dia 6, contrapõe maestro Júlio Medaglia a então presidente Figueiredo

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São Paulo

O maestro Júlio Medaglia tem numa das paredes da sua casa em São Paulo uma charge de Ziraldo que, segundo o regente, jamais saiu em jornal, revista, livro ou qualquer outro tipo de publicação.

Charge feita por Ziraldo em 1984 mostra o maestro Júlio Medaglia e o então presidente João Baptista Figueiredo - Arquivo pessoal

O cartunista mineiro, criador do Menino Maluquinho, morreu aos 91 anos no último dia 6 no Rio de Janeiro.

A charge inédita nasceu em meio a um bate-papo de amigos e colegas na Redação do Pasquim, que havia sido fundado em 1969 por Ziraldo, Millôr Fernandes, Jaguar, Tarso de Castro e alguns outros nomes da imprensa e do humor carioca. Nos anos seguintes, o semanário ganhou colaboradores das mais diversas áreas, como a música —Medaglia era um deles.

No decorrer dessa conversa, em 1984, ano do ápice do movimento das Diretas Já, o maestro começou a criticar fortemente o então presidente João Figueiredo e a ditadura militar de modo geral.

Naquele instante, Ziraldo pôs no papel Medaglia com a batuta. Também desenhou um Figueiredo em forma de centauro –cabeça, tronco e braços de homem, e o resto do corpo de cavalo. E colocou um chicote na mão direita do general.

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O cartunista Ziraldo em março de 1984 - Avani Stein/Folhapress

Além dos ânimos exaltados em meio à campanha das Diretas, o artista gráfico fazia referência a uma das declarações famosas de Figueiredo.

Em agosto de 1978, sete meses após ser indicado por Ernesto Geisel como seu sucessor, o general deu uma entrevista e, a certa altura, o apreço do futuro presidente pelos cavalos virou assunto. O repórter, então, perguntou se ele gostava do "cheiro do povo". Respondeu: "O cheirinho do cavalo é melhor".

Concluída a charge, Ziraldo a entregou de presente para Medaglia.

Como lembrou Ruy Castro depois da morte do amigo, Ziraldo era capaz de desenhar "no meio de 30 pessoas ao mesmo tempo".

40 anos das Diretas

  • Auge do movimento completa quatro décadas

    Em março de 1983, a emenda que propunha a restauração de eleições diretas para a Presidência obteve assinaturas suficientes para ser apresentada no Congresso e, aos poucos, a campanha das Diretas passou a atrair o apoio de políticos da oposição à ditadura e da população. O movimento atingiu seu ápice em abril de 1984, com grandes comícios em São Paulo, Rio de Janeiro e Goiânia, tornando-se a maior mobilização popular da história do país. Mesmo derrotada na Câmara no final daquele mês, a campanha pelas Diretas impulsionou o processo de redemocratização e de conquistas da Constituição de 1988.

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