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Otimismo na pré-campanha de Nunes acende alerta para 'cascas de banana'

Prefeito precisa evitar desembarque de aliados, prejuízos com Bolsonaro, problemas na escolha do vice e acusações contra a gestão

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São Paulo

Enquanto veem a pré-campanha de Ricardo Nunes (MDB) em melhor momento do que a do adversário Guilherme Boulos (PSOL), aliados do prefeito listam erros e admitem problemas para a disputa pela reeleição.

De acordo com interlocutores do emedebista, não faltam cascas de banana em seu caminho —pressão de partidos coligados, escolha de um vice, acusações na gestão, relação com o bolsonarismo e o surgimento de novos concorrentes.

Por outro lado, a avaliação geral é a de que o desempenho de Boulos, empatado com Nunes em primeiro lugar nas principais pesquisas, está intrinsecamente ligado à avaliação do governo Lula (PT) e que a queda de popularidade do petista é um problema que não deve ser superado a tempo do pleito, em outubro.

Nunes, por sua vez, depende do bom resultado do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), seu cabo eleitoral.

O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), durante inauguração na capital - Gabriel Cabral - 11.abr.24/Folhapress

"Estamos em um transatlântico cruzando o oceano. O mar está calmo, mas não podemos permitir que o navio vá para um iceberg ou para um recife de coral. Não podemos perder o rumo", diz o presidente da Câmara Municipal, Milton Leite (União Brasil), próximo de Nunes.

Da parte de Nunes e seus auxiliares, o recado tem sido para conter imprevistos, como a ameaça de debandada de líderes do PL e da União Brasil nesta semana. Insatisfeitos com o que consideram falta de espaço dado pelo prefeito aos partidos na gestão, eles chegaram a cogitar apoio a outros nomes, como Pablo Marçal (PRTB). Essa possibilidade, porém, é minimizada pela equipe do emedebista.

Na Câmara Municipal, há reclamação de que o clima de favoritismo tomou conta da pré-campanha e que Nunes agiria com soberba e salto alto, algo que seus aliados negam. O prefeito é pressionado pelas demandas de uma aliança com 12 legendas.

A entrada de outros nomes na corrida, porém, é observada com atenção. Além de Marçal, que tem a simpatia de bolsonaristas, há o apresentador José Luiz Datena (PSDB), cuja popularidade é um ativo. Apesar de Datena afirmar que vai concorrer, Nunes ainda espera atrair o PSDB para sua aliança.

Outra questão imponderável é o quanto o apoio declarado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) a Nunes, caso se mantenha, atrapalha ou ajuda perante o eleitorado da capital paulista.

Até agora, a aliança com o ex-presidente foi essencial, pois impediu o lançamento de outro candidato à direita.

"Nunes tem chances, inclusive, de vencer no primeiro turno", diz Fabio Wajngarten, advogado e fiel escudeiro de Bolsonaro, para quem o caminho da vitória está em evitar escorregões e ser leal ao ex-presidente.

Na pesquisa Datafolha do começo de março, Boulos tinha 30% e Nunes, 29% —situação de empate, diante da margem de erro de 3 pontos para mais ou menos.

Interlocutores do prefeito se dividem em relação à proximidade que ele deve manter de Bolsonaro. Aqueles declaradamente bolsonaristas veem vantagens para Nunes em abraçá-lo, enquanto emedebistas pregam uma distância regulamentar para evitar a rejeição do ex-presidente.

Dirigentes de outros partidos ouvidos pela Folha afirmam nos bastidores haver temor de que Bolsonaro, que é alvo de investigações da Polícia Federal, grude em Nunes e o arraste para crises decorrentes de falas impensadas.

Quem conhece o ex-presidente, porém, diz acreditar que Bolsonaro não deve ser presença constante na campanha de Nunes por não ser seu candidato preferencial. Na verdade, o ex-presidente gostaria de apoiar um nome da direita bolsonarista, mas foi convencido de que uma opção mais ao centro teria mais chances de bater Boulos.

De qualquer forma, interlocutores de Bolsonaro não abrem mão de que Nunes escolha um vice bolsonarista raiz como forma de compensação. Para eles, driblar a indicação do coronel da PM Ricardo Mello Araújo (PL) seria comprar briga com o ex-presidente, que poderia, então, lançar outro nome.

A escolha de um vice que não atrapalhe é um desafio na pré-campanha de Nunes. Na opinião de outros aliados, Mello Araújo pode ser uma fonte de problemas por trazer a questão da segurança para o colo do prefeito e pela associação com o bolsonarismo.

Líderes do MDB pretendem adiar o anúncio ao máximo, até a época das convenções partidárias, e têm um plano caseiro que acena para a direita e para a esquerda, o atual secretário municipal Aldo Rebelo (MDB).

Ainda há uma série de nomes cotados para a vice, cada um com defensores e detratores, como as vereadoras Sonaira Fernandes (PL) e Rute Costa (PL) e o próprio presidente da Câmara Municipal, Milton Leite (União Brasil).

Parte dos auxiliares do prefeito se concentra em outra frente. Na opinião deles, o que não pode desandar daqui em diante são as obras e entregas da gestão, que seriam o atrativo mais importante para os eleitores.

Três meses antes das eleições, a partir de 6 de julho, Nunes não poderá mais comparecer a inaugurações e, por isso, o calendário das entregas tem que ser pensado de modo a ser melhor aproveitado até essa data.

Mesmo no entorno de Nunes há quem avalie que sua administração peca na eficiência da comunicação e em gerar um legado de marcas.

Há ainda receio em relação a denúncias sobre a gestão, levantadas constantemente por adversários, e outros problemas éticos que envolvam Nunes e seu passado.

Como mostrou a Folha, casos que cercam Nunes vão desde a proliferação de contratos sem licitação com indícios de cartas marcadas a uma denúncia em sua juventude por porte ilegal de arma.

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