Descrição de chapéu Eleições 2024

Jantar pró Nunes reúne Tarcísio, Temer e 10 partidos, e eleição em SP é tratada como embrião de 2026

Presente no encontro, ex-governador Rodrigo Garcia será responsável por coordenar o plano de governo do prefeito

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Um jantar de apoio à reeleição do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), materializou na noite desta segunda-feira (22) o que ele vem chamando de frente ampla, com a participação de representantes de dez partidos e de figuras de peso como o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), o ex-presidente Michel Temer (MDB) e o secretário Gilberto Kassab (PSD).

O ex-governador Rodrigo Garcia (que deixou o PSDB neste ano) também estava presente e foi designado para coordenar o programa de governo da campanha de Nunes. Para isso, ele deve montar uma equipe e a expectativa é que o trabalho comece em junho.

Foi definida ainda a formação de um conselho político da campanha de Nunes, com um representante de cada partido.

Dirigentes e representantes de 10 partidos em um jantar de apoio à reeleição de Ricardo Nunes (MDB) em SP
Dirigentes e representantes de 10 partidos em um jantar de apoio à reeleição de Ricardo Nunes (MDB) em SP - 22.abr.24/Divulgação pré-campanha Ricardo Nunes

Na avaliação de parte dos políticos presentes, a aliança que vai da centro-esquerda ao bolsonarismo aponta para uma alternativa de oposição a Lula (PT) em 2026.

O encontro teve a participação de MDB, PL, Republicanos, Podemos, União Brasil, PSDB, PSD, Solidariedade, Avante e PRD —cada presidente discursou por alguns minutos. O PP e o Cidadania também fazem parte do grupo, mas não estavam presentes no jantar.

Procurado pela Folha, Nunes afirmou que "a frente ampla foi formada". "Estou bem contente com o apoio, mostrando que o diálogo, o trabalho e os resultados estão sendo reconhecidos. Não tem no país uma pré-candidatura nas capitais com tanto apoio."

Dentre esses partidos, alguns apoiaram o atual presidente em 2022 no primeiro turno, como o Solidariedade e o Avante. O MDB manteve-se neutro, mas a presidenciável Simone Tebet fez campanha para Lula.

Apesar disso, a leitura de alguns dirigentes foi a de que, se esse grupo heterogêneo vencer Guilherme Boulos (PSOL) na principal capital do país e se o governo federal estiver em baixa, haveria um caminho para manter a unidade, criar uma mega coalizão capaz de dragar o apoio que sustenta Lula e apresentar um presidenciável de oposição em 2026.

Segundo os participantes do jantar, o grupo pró-Nunes soma mais de 350 deputados federais e tem 11 ministros no governo Lula (do MDB, PSD, União Brasil, PP e Republicanos).

Integrantes do MDB, no entanto, ponderam que o partido é aliado ao PT em todos os estados no Nordeste, além de Pará e Amazonas, o que dificilmente colocaria a legenda em oposição a Lula em 2026. Além disso, Kassab costuma pregar uma candidatura própria do PSD ao Palácio do Planalto.

Em relação à disputa municipal, o clima foi de otimismo com a vitória de Nunes —duas pesquisas internas apresentadas ali mostravam o prefeito com vantagem de 4 a 5 pontos sobre Boulos, o candidato de Lula. Na última pesquisa Datafolha, eles aparecem empatados.

Os levantamentos mostravam ainda queda da popularidade de Lula na capital paulista. Dirigentes partidários fizeram a leitura de que o governo federal vive seu pior momento e dificilmente vai se recuperar a tempo do pleito municipal, o que prejudica Boulos.

Já o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) a Nunes não foi um dos pontos centrais do jantar. Houve, por um lado, o reconhecimento de que a competitividade do prefeito na eleição se deve muito ao fato de que o bolsonarismo e o PL decidiram não lançar um concorrente à direita.

Por outro lado, houve falas de que a campanha de Nunes deve fugir da polarização entre Lula e Bolsonaro e que nenhum deles será o futuro prefeito de São Paulo. Embora os apoios sejam importantes, a leitura é a de que os resultados da gestão contam mais —nesse ponto, porém, bolsonaristas pensam o oposto, que Bolsonaro impulsionou Nunes mais do que sua administração na prefeitura.

Acertos que dependem da articulação entre esses partidos, como a definição de um vice na chapa de Nunes, acabaram não sendo tratados abertamente em um encontro com mais de 20 pessoas. O estabelecido é que Bolsonaro indique um nome, mas que dependerá do aval das demais siglas e da simpatia de Tarcísio.

O ex-presidente defende o coronel da PM Ricardo Mello Araújo, mas a decisão deve ser tomada a partir de junho e julho, quando acontecem as convenções partidárias.

Como mostrou o Painel, uma possível vice mencionada e elogiada nas rodas de conversas do jantar foi a vereadora bolsonarista Sonaira Fernandes (PL), ex-secretária de Políticas para Mulher da gestão Tarcísio.

Outro cotado para a vice é o secretário municipal Aldo Rebelo (MDB), que foi ao jantar. Ele já disse à Folha, porém, não ter perspectiva de compor a chapa com Nunes.

Da União Brasil, estavam presentes o presidente nacional, Antonio Rueda, e o dirigente local, Milton Leite, presidente da Câmara dos Vereadores. Segundo relatos à reportagem, ambos exaltaram o compromisso com Nunes, enterrando as pretensões do deputado Kim Kataguiri (União Brasil) de concorrer à prefeitura.

O secretário da Casa Civil de Nunes, Fabrício Cobra, foi um tucano presente no encontro. Como mostrou a Folha, a rejeição do PSDB a Nunes dificulta seu discurso de representar continuidade em relação a Bruno Covas (PSDB). No jantar, porém, a aposta foi a de que os tucanos ainda podem decidir apoiar o prefeito.

Bolsonaristas consultados pela reportagem negaram haver desconforto com a escolha de Rodrigo Garcia para coordenar o programa de governo, dada sua ligação com João Doria, de quem foi vice e que é tido como um inimigo de Bolsonaro. O ex-governador foi descrito como um conhecedor do estado e de políticas públicas.

Do ponto de vista prático, os aliados de Nunes pregaram que ele se concentre em sua gestão e no fortalecimento de uma agenda positiva, com entregas de obras ou dando início a elas até 6 de julho, prazo que a legislação eleitoral estabelece.

Ao mesmo tempo em que veem Nunes como favorito, os dirigentes apontaram que é preciso não cometer nenhum erro para vencer em outubro.

De modo geral, os políticos exaltaram o tamanho da aliança de Nunes, dizendo que não há algo semelhante em outras capitais e que o jantar desta segunda representou um momento histórico da política brasileira.

Outros presidentes nacionais que estiveram no jantar, além de Kassab do PSD e de Rueda da União Brasil, foram Baleia Rossi (MDB), Marcos Pereira (Republicanos), Valdemar Costa Neto (PL), Renata Abreu (Podemos), Paulinho da Força (Solidariedade), Luis Tibé (Avante) e Ovasco Resende (PRD).

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.