Governo Lula corre para pagar R$ 1,4 bi por dia em emendas e cumprir acordo com Congresso

Pressão de parlamentares por liberações cresce em função do ano eleitoral, e legislação determina que pagamentos só podem ocorrer até 6 de julho

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Brasília

O governo Lula (PT) corre para liberar verbas bilionárias de emendas parlamentares a tempo de serem usadas antes das eleições municipais deste ano e, dessa forma, cumprir o que foi acordado com as lideranças do Congresso e também respeitar a legislação.

As emendas são uma forma pela qual deputados e senadores conseguem enviar dinheiro para obras e projetos em suas bases eleitorais e, com isso, ampliar seu capital político. A prioridade do Congresso tem sido atender seus redutos eleitorais, e não as localidades de maior demanda no país.

Pedro Ladeira -6.mai.2014/Folhapress
O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), ao lado do presidente Lula (PT), e do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), em solenidade no Planalto para reconhecer o estado de calamidade do Rio Grande do Sul. - Pedro Ladeira/Folhapress

As eleições ocorrem em outubro, mas as regras eleitorais determinam que pagamentos desse tipo só podem ocorrer até 6 de julho (próximo sábado). Após essa data, a União fica proibida de fazer os repasses a estados e municípios.

Do total de R$ 52 bilhões previstos no Orçamento de 2024 para emendas parlamentares, o governo se comprometeu a liberar cerca de 40% do montante até a trava eleitoral. Esse percentual representa R$ 22 bilhões.

Parlamentares têm pressionado o governo, desde o início do mandato petista, por avaliarem que há demora na liberação das emendas. A avaliação colabora com dificuldades em votações importantes no Congresso.

O governo tem acelerado as liberações nos últimos dias. Até a sexta-feira (28), pagou R$ 15 bilhões. Assim, ainda precisa liberar cerca de R$ 7 bilhões nesta semana, segundo projeções internas às quais a Folha teve acesso.

Esse saldo equivale a uma liberação diária de R$ 1,4 bilhão até sexta-feira (5), último dia útil antes da trava.

A pressão por celeridade cresce em função do ano eleitoral, uma vez que deputados e senadores buscam destinar recursos para suas bases eleitorais como forma de impulsionar a candidatura de aliados.

Do total de R$ 7 bilhões ainda a serem pagos, uma parcela será referente às chamadas emendas Pix, modalidade de repasse de emenda individual em que a verba cai diretamente nos caixas de estados e municípios.

Esse tipo de transferência não exige que o governo local apresente um projeto ou que o parlamentar indique em que área utilizar a verba.

O governo já empenhou neste ano, isto é, se comprometeu a pagar, R$ 33,4 bilhões de verbas a parlamentares. Desse montante, R$ 7,7 bilhões são referentes às emendas Pix.

O objetivo do Executivo é pagar ao menos a metade desse tipo de emenda, R$ 3,85 bilhões, até a semana que vem para honrar um compromisso com o Congresso Nacional.

Os valores superam o que foi liberado pelo governo de janeiro a 5 de julho do ano passado, quando foram empenhados R$ 7,53 bilhões e pagos R$ 3 bilhões de emendas no total. O levantamento se concentra nos três tipos de emendas disponíveis em 2024.

No caso das emendas individuais, cada deputado tem uma cota de cerca de R$ 38 milhões, enquanto o limite de indicações dos senadores alcança R$ 69 milhões. Metade desse recurso precisa ser destinado para a Saúde.

Os parlamentares podem aplicar parte da cota individual em emendas Pix. As emendas individuais e de bancada estadual são impositivas, ou seja, o governo é obrigado a executar a indicação do deputado ou senador.

Ainda há a emenda que é definida pelas comissões do Congresso. A Comissão de Saúde da Câmara tem a maior fatia dessa verba, com R$ 6 bilhões para indicar. O governo não é obrigado a executar esse tipo de emenda.

Essas verbas são usadas para custear obras patrocinadas pelos parlamentares. Um acordo feito entre Congresso e governo prevê que a divisão desse tipo de emenda será gerenciada pelos próprios parlamentares.

No caso da Câmara, o próprio da presidente, Arthur Lira (PP-AL), é o responsável pela partilha. Ele repassa o valor acordado com o líder de cada partido, que depois transfere aos deputados. Esse modelo foi apelidado de pizza na Câmara, como revelou a Folha.

Na prática, avaliam parlamentares, essas emendas estão sendo usadas para replicar o modelo das extintas emendas de relator.

A Comissão de Saúde da Câmara, por exemplo, encaminhou repasses de mais de R$ 4,2 bilhões neste ano sem apontar quais deputados e senadores são os padrinhos das emendas.

O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Flávio Dino determinou neste mês a realização de uma audiência de conciliação para discutir possível descumprimento da decisão da corte que declarou a inconstitucionalidade das emendas de relator.

O governo acelerou e ampliou o total de verbas pagas até agora porque a Justiça determina que elas só podem ser liberadas até 6 de julho, três meses antes do primeiro turno das eleições, marcadas para 6 de outubro.

A legislação eleitoral determina uma série de vedações ao governo federal e ao presidente Lula nesse período —por exemplo, a inauguração de obras federais.

A liberação dos recursos pelo governo até essa data foi negociada com os parlamentares num acordo que envolvia a manutenção do veto do presidente na LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) em sessão do Congresso em maio.

Os congressistas incluíram na LDO um cronograma para o pagamento das emendas, o que ampliava o próprio poder do Legislativo na execução dessas verbas, já que não existia um calendário definido para isso —esse trecho foi vetado pelo petista.

Se mantido, ele poderia engessar o Orçamento federal e obrigar o governo a fazer pagamentos mesmo sem ter dinheiro no cofre. A solução para evitar a derrota de Lula foi o Planalto acertar com o Parlamento um calendário extraoficial para pagamentos.

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