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Eduardo Paes vive teste como líder partidário mirando disputa estadual

Prefeito negocia alianças no interior de olho em pontes para 2026 e usa estrutura da prefeitura para ampliar alcance da gestão municipal

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Rio de Janeiro

As eleições municipais deste ano viraram um teste para o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), como liderança partidária na articulação da sigla no estado.

Paes conduz as negociações do PSD visando sua reeleição na capital, mas tem buscado definir apoios que criem pontes para uma eventual candidatura ao governo estadual em 2026.

O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), discursa durante cerimônia de assinatura de investimento para abertura do IMPA Tech, na zona portuária - Mauro Pimentel - 6.dez.23/AFP

Ele afirmou nesta segunda-feira (5) que cumprirá todo o mandato caso seja reeleito. Contudo, a disputa pelo Palácio Guanabara não está fora do radar. A própria estrutura da prefeitura tem desempenhado papel na ampliação de sua atuação.

Esta é a primeira eleição municipal na qual Paes comanda discussões partidárias. Nas disputas anteriores, pelo MDB e DEM, o prefeito tinha outras lideranças que tomavam a dianteira desse papel. Neste ano, é dele a palavra final nas negociações, algumas travadas pelo deputado federal Pedro Paulo (PSD), seu braço direito e presidente do PSD-RJ.

A principal dificuldade de Paes nas articulações é desfazer a imagem entre as lideranças políticas fluminenses de que é pouco confiável no cumprimento de acordos e que resiste a abrir espaços relevantes para nomes de fora de seu grupo.

A escolha do ex-secretário Eduardo Cavaliere para a vice, deixando Pedro Paulo fora da vaga, reforçou a imagem ruim entre políticos fluminenses. A avaliação de parte da classe é de que o prefeito abandonou o braço direito de três décadas para evitar correr um risco considerado pequeno na candidatura à reeleição causado por um vídeo íntimo do deputado.

A desconfiança da política fluminense foi verbalizada à Folha em abril pelo presidente da Assembleia Legislativa, Rodrigo Bacellar (União Basil), potencial adversário no pleito de 2026.

"Eu disse a ele [Paes]: 'Nunca falei abertamente que eu quero disputar 2026, mas o cara que mais me coloca hoje como candidato é você'. Ele falou: 'Por que isso?'. 'Porque grande parte dos teus vereadores que eu nunca sonhei conhecer às vezes pedem café comigo. Pedem pelo amor de Deus para eu não fechar com você, para você não ficar absoluto. Porque você não divide o pão com ninguém'", relatou.

Apesar da potencial disputa, Paes estabeleceu pontes com o próprio Bacellar. Entregou a ele o comando do PSD em Campos dos Goytacazes, base eleitoral do presidente da Assembleia, mesmo sem o apoio do União Brasil na capital.

Estratégia semelhante foi negociada com lideranças políticas da Baixada Fluminense, incluindo alianças com apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Em Nova Iguaçu, o PSD vai apoiar a candidatura de Dudu Reina (PP) para atender a pedido do deputado federal Doutor Luizinho (PP). A vice da chapa será a irmã do líder do PP na Câmara, Roberta Teixeira, filiada ao PL de Bolsonaro.

Em Duque de Caxias, Paes entregou o comando da sigla ao grupo político de Washington Reis (MDB) para apoiar a candidatura de Netinho Reis (MDB).

As duas candidaturas são adversárias da base do presidente Lula (PT) na Baixada Fluminense. Em Duque de Caxias, o ex-prefeito José Camilo Zito (PV) recorreu, sem sucesso, ao PT para pressionar Paes a apoiá-lo na cidade.

Paes caminha com o PT em outras cidades consideradas estratégicas. Em São Gonçalo, segundo maior colégio eleitoral do estado, vai apoiar o deputado Dimas Gadelha (PT). Em Belford Roxo, vai integrar a base de Matheus do Waguinho (Republicanos), sobrinho do prefeito Waguinho (Republicanos), aliado de Lula.

O foco das negociações, porém, é a capital. Uma vitória no primeiro turno é vista como um trunfo para demonstração de força política —Paes tem 53% das intenções de voto no Rio de Janeiro, segundo pesquisa do Datafolha.

Apesar do favoritismo, o prefeito encontrou dificuldade em atrair partidos do centro e da direita para sua candidatura na capital. Ele abriu negociações com PP, União Brasil, MDB e Republicanos.

Os dois primeiros decidiram ter candidatura própria. O MDB e Republicanos optaram por apoiar Ramagem, mas com dissidências pró-Paes.

O Republicanos chegou a fechar um apoio com Paes. Contudo, a aliança foi rompida de forma conflituosa, reforçando a imagem que o prefeito tenta desfazer entre as demais lideranças políticas fluminenses.

"O verdadeiro motivo da nossa saída está na não realização dos compromissos assumidos com o partido quando aceitamos firmar a aliança. Filiações de candidatos à legenda não foram efetuadas, nomeações ocorreram de forma esparsa, e muitas ficaram travadas. Obras prometidas não foram iniciadas, sem garantia de execução, impactando negativamente nossa chapa de vereadores", afirmou o Republicanos-RJ, em nota.

A sigla negociou apoio a Ramagem por meio do ex-deputado Eduardo Cunha, presidente do diretório da capital. Contudo, o presidente estadual do Republicanos, Waguinho, já declarou apoio a Paes.

Enquanto articula as alianças, Paes também usa a estrutura da prefeitura para ampliar a exposição de sua gestão para fora da capital.

O município abriu este ano um edital de R$ 30 milhões para patrocinar até 180 eventos em 22 cidades da região metropolitana. As cotas de patrocínio são de R$ 25 mil até R$ 500 mil.

A seleção, em fase final, está a cargo da Secretaria Especial de Integração Metropolitana, criada em 2021 por Paes.

De acordo com levantamento do gabinete do vereador Pedro Duarte (Novo), as nomeações da pasta quadruplicaram entre maio e outubro de 2022, ano eleitoral. Entre os indicados, estavam políticos de outras cidades. Naquele ano, o edital de patrocínio para eventos foi de R$ 10 milhões —um terço do atual investimento.

"Essa secretaria foi criada com o objetivo de influenciar as eleições em outras cidades e, assim, preparar terreno para 2026, quando ele próprio deve se candidatar ao cargo de governador", disse o vereador.

"Venho denunciando a criação na pasta de um cabide de empregos, com altos salários pagos a aliados de outras cidades, além do financiamento milionário de eventos fora da capital. Esse é um projeto pessoal do Paes que está custando caro para a população do Rio."

Em nota, a prefeitura afirma que, por meio da secretaria, "ganha capilaridade, dialoga com cidades vizinhas e gera novos projetos e programas para o cidadão".

"A secretaria foi criada com objetivo de promover a integração metropolitana para incentivar e promover políticas de desenvolvimento urbano sustentável, de abrangência metropolitana, para ações de planejamento urbano e habitação; mobilidade urbana; meio ambiente e saneamento; e desenvolvimento econômico e social", diz a nota.

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