Descrição de chapéu Eleições 2024 eleições-SP

Quais polêmicas e investigações pesam sobre Ricardo Nunes e Mello Araújo

Casos da máfia das creches e boletim de ocorrência por violência doméstica são lembrados por adversários do prefeito

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), tem seu histórico marcado por uma série de controvérsias que vão desde apuração no caso conhecido como "máfia das creches" até um boletim de ocorrência sob acusação de violência doméstica e ameaça feito pela sua mulher.

Já o vice em sua chapa, o coronel Ricardo Mello Araújo (PL), tem frase lembrada recorrentemente por adversários sobre a diferença de abordagem de moradores de áreas nobres e da periferia que avaliava ser necessária.

RICARDO NUNES

O prefeito Ricardo Nunes (MDB) na convenção que oficializou sua chapa - Rafaela Araújo - 3.ago.2024/Folhapress

Máfia das creches

O prefeito é alvo da Polícia Federal em investigação sobre lavagem de dinheiro em caso conhecido como máfia das creches.

A corporação concluiu até agora parte da apuração do caso, com o indiciamento de mais de cem pessoas suspeitas de desvios de valores destinados às unidades de ensino infantis na capital paulista. No caso do prefeito, não há indiciamento, mas foi apontada pela PF a necessidade de novas investigações em razão da suspeita de envolvimento dele em lavagem de dinheiro.

O principal eixo da investigação é a suspeita de que entidades gestoras de creches teriam recebido de volta parte do dinheiro contabilizado como despesas com materiais.

Conforme a Folha revelou em 2021, Nunes e uma empresa de sua família, a Nikkey Serviços S/S Ltda, receberam em 2018 mais de R$ 30 mil em valores da empresa Francisca Jacqueline Oliveira Braz, suspeita de integrar o esquema. O prefeito sempre alegou que se tratou de uma prestação de serviços.

A reportagem também revelou neste mês vídeo no qual uma investigada no caso, Rosângela Crepaldi, descarta a prestação de serviços por Nunes e diz ter atuado na devolução desses valores a pessoas ligadas às ONGs.

"Foi repasse", disse. "[Nunes] nunca prestou nenhum serviço", completa, em trecho de vídeo obtido pela reportagem.

Em nota, Nunes nega irregularidades e afirma que houve análise incorreta pela PF dos múltiplos documentos apresentados pela defesa. Ele também diz nunca ter sofrido qualquer acusação no inquérito no qual Rosângela foi investigada.

Boletim de violência doméstica

Outro ponto que assombra o prefeito é o boletim de ocorrência de violência doméstica feito contra ele por sua esposa, Regina Carnovale Nunes.

Em julho, em sabatina Folha/UOL, Nunes disse que o BO nem sequer existia. "É óbvio que é forjado", disse.

No dia seguinte, porém, a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo contrariou o prefeito sobre o registro e afirmou que Regina compareceu sim a uma Delegacia da Mulher, em fevereiro de 2011, para denunciar ameaças do marido.

Posteriormente, em vídeo publicado em suas redes sociais, Nunes disse que, durante a sabatina, ele quis dizer que a história criada sobre o boletim de ocorrência é que seria uma história forjada.

Boletim de ocorrência de Regina Carnovale contra Ricardo Nunes, registrado em 2011
Boletim de ocorrência de Regina Carnovale contra Ricardo Nunes, registrado em 2011 - Reprodução

O registro policial foi revelado pela Folha na campanha de 2020, quando Nunes disputava a eleição na condição de vice de Bruno Covas (PSDB).

O boletim traz relato dela, que à época disse ter deixado Nunes "devido ao ciúme excessivo" dele.

"Inconformado com a separação, [Nunes] não lhe dá paz, vem efetuando ligações proferindo ameaças, envia mensagens ameaçadoras todos os dias e vai em sua casa onde faz escândalos e a ofende com palavrões. Afirma a vítima que diante da conduta de Ricardo está com medo dele", diz um dos trechos.

Na ocasião da publicação da reportagem, Regina afirmou que havia dito no boletim de ocorrência "coisas que não são reais". Depois, mudou a versão e afirmou não se lembrar de ter feito o boletim de ocorrência.

A reportagem também teve acesso a registros de publicações de Regina em rede social nas quais chamava Nunes de bandido e dizia ter provas de ter sofrido agressões. Ela afirmou que não havia sido a autora das postagens e que sua conta na rede social havia sido hackeada.

Tiro e briga em condomínio

Nunes já foi denunciado em sua juventude por porte ilegal de arma após um episódio de disparo de pistola em Embu das Artes, na Grande São Paulo.

O caso que motivou a denúncia aconteceu em uma madrugada de 1996 em uma casa de shows chamada Caipirão, no centro de Embu. Na época, Nunes era um empresário de 28 anos.

Um policial estava em seu carro e ouviu um disparo de arma de fogo, segundo o que foi registrado em delegacia da cidade. Após o estrondo, ele declarou que saiu do veículo e viu Nunes dar um tiro com uma pistola Imbel calibre 380.

O prefeito afirmou, em nota, que foi um disparo acidental sem consequência, efetuado com arma de terceiro que saiu do local.

Outro boletim de ocorrência relacionado ao histórico do prefeito se refere ao caso em que Regina Carnovale se envolveu em uma briga com um casal de vizinhos há dez anos no prédio em que morava, no bairro de Jardim Marajoara (zona sul), na qual teria dito que é "casada com bandido" e ameaçado "chamar o PCC".

A acusação consta de boletim de ocorrência. Em nota enviada à coluna, a primeira-dama "nega veementemente a referida alegação".

Obras emergenciais e suspeitas de cartas marcadas

O Ministério Público de São Paulo abriu 57 procedimentos investigatórios com relação a obras emergenciais contratadas sem licitação pela gestão Nunes. Não houve até o momento, porém, ajuizamento de ações.

As apurações ocorrem em contexto em que o valor gasto pela Prefeitura de São Paulo com obras emergenciais, que não exigem licitação, teve um crescimento de 10.400% em cinco anos, como mostrou reportagem da Folha. O valor aumentou de R$ 20 milhões em 2017 para R$ 2,1 bilhões em 2022.

Reportagens do UOL e da Folha mostraram proliferação de contratos sem licitação e indícios de combinação de preços entre empresas concorrentes. A gestão Nunes diz ter como objetivo buscar os preços mais vantajosos para o município.

A prefeitura afirma ainda que as obras teriam como finalidade ações como contenção de encostas, recuperação de passarelas, pontes ou viadutos e também em serviços de engenharia para obras de escolas da rede municipal.

Fila de exames

A gestão Nunes não responde se o prefeito furou a fila de atendimento da rede municipal de Saúde para realizar endoscopia e colonoscopia em janeiro deste ano.

Nunes foi questionado sobre o tema pela deputada federal Tabata Amaral (PSB) durante debate na Band. A candidata citou aumento na fila por exames, especialmente no caso de endoscopia, e perguntou se o emedebista agendou os exames com antecedência ou se "furou a fila".

Nunes respondeu que considera muito positivo que o prefeito de São Paulo esteja usando o serviço público, mas não disse se agendou ou não. Em nota, a gestão municipal também não respondeu.

RICARDO MELLO ARAUJO

Coronel Mello Araújo, vice na chapa com Ricardo Nunes (MDB)

Diferença de tratamento na periferia

O vice na chapa de Nunes, coronel Ricardo Mello Araújo (PL), já defendeu a diferença de tratamento em abordagens policiais nos Jardins (área nobre de SP) e na periferia.

"É uma outra realidade. São pessoas diferentes que transitam por lá. A forma dele abordar tem que ser diferente. Se ele [policial] for abordar uma pessoa [na periferia], da mesma forma que ele for abordar uma pessoa aqui nos Jardins [região nobre de São Paulo], ele vai ter dificuldade. Ele não vai ser respeitado", disse ao UOL em 2017.

Na ocasião, ele havia assumido como chefe da Rota, batalhão de elite da PM paulista também conhecido pelo alto grau de letalidade e relatos de violência policial.

Em meio a críticas de que ele poderia afetar a imagem do prefeito na periferia, Mello Araújo afirmou se tratavam de narrativas e resgatou ação social feita por ele quando estava à frente da Ceagesp, durante a gestão de Jair Bolsonaro (PL).

Militarização do Ceagesp

Mello Araújo foi nomeado diretor da Ceagesp (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo) em 2020 e permaneceu no cargo no restante da gestão Bolsonaro.

Para aliados, o oficial da reserva da Polícia Militar foi o responsável por colocar ordem na companhia durante o governo Bolsonaro.

Por outro lado, sindicalistas afirmam que a gestão dele militarizou o espaço e promoveu abusos.

Os relatos de sindicatos que representam categorias que atuam na companhia dão conta do uso de agentes para intimidar servidores e sindicalistas.

O Ministério Público do Trabalho informou à Folha ter ajuizado uma ação contra a Ceagesp.

Mello Araújo afirmou à revista Oeste que a Ceagesp era "um caso de polícia". Ao fim de sua gestão no órgão, a companhia destacou como uma das marcas da passagem dele pelo órgão o "avanço no combate à corrupção".

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.