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12/12/2010 - 18h39

Arrogância no banco de reservas

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MANUEL DA COSTA PINTO
COLUNISTA DA REVISTA sãopaulo

"Maldito Futebol Clube" transforma fracasso de célebre técnico inglês em rito de purgação

Barcelona 5 x 0 Real Madrid. Se você teve um prazer sádico de ver a cara de tacho de José Mourinho, o arrogante técnico do time madrilenho, na humilhante goleada sofrida há duas semanas, vale a pena ver "Maldito Futebol Clube". O filme de Tom Hooper narra os 44 dias, entre 1974 e 1975, em que o técnico britânico Brian Clough esteve à frente do Leeds, então bicampeão inglês, numa campanha vexatória.

Méritos assombrosos de Clough: levar o pequeno Derby County da segunda divisão ao título nacional, em 1973, e ser bicampeão da Copa dos Campeões da Europa (atual Uefa Champions League) com o Nottingham Forest, que também alçou da segunda divisão.

A curta temporada no Leeds ocorreu entre esses dois períodos de glória. Por que escolher um momento de fracasso? Aí está a graça, de uma profundidade rara na filmografia futebolística: mostrar as ambiguidades de um técnico petulante, que colocou a vaidade acima do pragmatismo e da amizade, mas que ao mesmo tempo alimentava seu egocentrismo com escolhas audaciosas, para o bem e para o mal.

Clough fez do comando no Leeds a ocasião para um ajuste de contas. Ao assumir o time, ele desqualifica o antigo treinador, Don Revie, e seus jogadores, atribuindo as conquistas recentes à violência e à desonestidade. Nos flashbacks, vemos como Clough fora ignorado por Revie no primeiro encontro entre o humilde Derby County e o glorioso Leeds; e como, às vésperas de partida da Copa dos Campeões com a Juventus de Turim, ele expôs desnecessariamente seus titulares às botinadas do rival inglês, num jogo sem importância, cujas contusões determinaram a derrota no torneio europeu.

Michael Sheen interpreta com a soberba dos atuais pop stars do vestiário, mas também com a gravidade do herói trágico, que persegue uma vingança autodestrutiva e é punido por sua desmedida. Enquanto Mourinho não atingir a capacidade trágica de despencar do estrelato para purgar sua ambição e renascer das cinzas, "o especial" (como se define o técnico português) continuará sendo Brian Clough.

FILME
MALDITO FUTEBOL CLUBE
DIREÇÃO: Tom Hooper
DISTRIBUIÇÃO: Sony (locação)
COTAÇÃO: Ótimo

conexões
FILME
HOOLIGANS
O envolvimento de um jovem norte-americano na violência dos torcedores londrinos mostra a sedução dos tribalismos do futebol globalizado.
DIREÇÃO: Elijah Wood
DISTRIBUIÇÃO: California (2006, R$ 21,60)
COTAÇÃO: Bom

LIVRO
OS 11 MAIORES TÉCNICOS DO FUTEBOL BRASILEIRO
Oswaldo Brandão, Rubens Minelli, Vicente Feola e Telê Santana são imagens em negativo dos técnicos midiáticos.
AUTOR: Maurício Noriega
EDITORA: Contexto (2009, 256 págs., R$ 35)
COTAÇÃO: Bom

LIVROS
MANDACARU
Rachel de Queiroz (Instituto Moreira Salles, 160 págs., R$ 36)
No centenário de Rachel de Queiroz, essa belíssima edição apresenta um conjunto inédito de poemas da autora de "O Quinze", ícone do regionalismo. Com organização de Elvia Bezerra e fac-símiles do manuscrito original, os versos da adolescente escritora (então aos 17 anos) compõem êxodos agrestes em diálogo com a desinflação retórica modernista.
COTAÇÃO: Bom

O CAPOTE E OUTRAS HISTÓRIAS
Nikolai Gógol; tradução de Paulo Bezerra (Editora 34, 224 págs., R$ 37)
Os três contos mais célebres de Gógol ("O Capote", "O Nariz" e "Diário de um Louco") e as narrativas inspiradas na tradição popular russa ("Noite de Natal", "Viy") têm em comum o elemento fantástico, como o nariz que ganha vida autônoma ou o diabo que é um pobre-diabo. Sátira e desvario duplicam a realidade, para aprofundar sua cômica desolação.
COTAÇÃO: Ótimo

DISCOS
DIZZY GILLESPIE NO BRASIL COM TRIO MOCOTÓ
Vários (Biscoito Fino; R$ 34,90)
Se gringo tocando samba costuma dar em pastiche, o encontro de um dos criadores do be-bop com os instrumentistas do Trio Mocotó, em 1974, foge à regra. As seis faixas preservam a autonomia do improviso jazzístico e da batucada sem prejuízo da harmonia, culminando num contraponto alucinado entre o trompete de Gillespie e a cuíca de Fritz Escovão.
COTAÇÃO: Bom

BEETHOVEN: SINFONIA EROICA
Solistas de Paulínia (Clássicos, R$ 25)
O primeiro disco gravado pelos Solistas de Paulínia, acompanhados pelo pianista Emmanuel Strosser, é um arranjo da "Terceira Sinfonia" de Beethoven escrito em 1805 por Ferdinand Ries. A transcrição para trio de cordas e piano esvazia a massa sonora da marcha fúnebre, mas explicita a estrutura em fugato do "Finale", em interpretação que resiste a purismos.
COTAÇÃO: Bom

 

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