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3º Seminário Mobilidade e Inovação

Como compartilhar o chão da metrópole de maneira mais justa

Solução tem de ser planejada de maneira integrada, o que depende de políticas públicas

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São Paulo

A partir do começo do ano que vem, um robô vai buscar um pedido no restaurante e carregar a comida até uma central de distribuição.

De lá, entregadores humanos levarão a encomenda até os clientes. Aqui no Brasil. É o plano do iFood.

Novidades tecnológicas e soluções de mercado para o transporte de coisas e pessoas parecem mais sensacionais do que o debate de políticas públicas destinadas de fato a melhorar a circulação na grande cidade.

Robôs, veículos inteligentes, aplicativos com cardápios de opções de viagem, compartilhamento de patinetes ou carros ocupam o centro da discussão mais pop sobre mobilidade urbana.

Patinetes elétricas são um sucesso para viagens curtas em canteiros centrais de grandes avenidas, a exemplo da Faria Lima, na zona oeste de São Paulo.

Mas, a 700 metros dali, o cidadão espera por mais de um hora antes que seja possível embarcar em um trem menos lotado da linha que margeia o rio Pinheiros.

É claro que ninguém imagina o disparate de dar conta de um problema como o do trem lotado com microveículos individuais.

Mas a melhoria da mobilidade passa pela combinação dos diversos meios de transporte de modo a atender razoavelmente as necessidades sociais e econômicas das pessoas.

Patinete, bicicleta elétrica, minimotos ou até minicarros elétricos não são “micromobilidade”.

O termo, utilizado com frequência por startups de transporte e bastante controverso na comunidade que estuda o assunto (por ser conceitualmente equivocado), refere-se em geral a alternativas de transporte feitas por meio de veículos que pesam menos de 500 quilos e são equipados com motor elétrico.

Mas patinete, bicicleta elétrica etc. são apenas equipamentos. Esse é o centro dos debates sobre o assunto.

Tampouco aplicativos de transporte são, em si, soluções. Desde 2016, em Helsinque (Finlândia), uma empresa, a MaaS Global, oferece um aplicativo que apresenta um cardápio de opções para se ir de um ponto a outro da cidade, combinando meios e preços à escolha do freguês.

É possível escolher, digamos, uma combinação de carona, trem e bicicleta compartilhada. É tratar a mobilidade como serviço (MaaS, “mobility as a service”), que substitui a propriedade de veículos. 

Para que sistemas assim funcionem, é necessário que a infraestrutura permita o uso seguro e prático das alternativas de transporte, além da integração tarifária e da concorrência entre elas.

“Micromobilidade”, enfim, é solução para viagens curtas, em geral o trecho final e mais individualizado de um percurso (da estação de trem, metrô ou ônibus até o destino final de cada usuário).

Para que faça alguma diferença, é preciso que as viagens mais longas sejam mais rápidas, baratas e cômodas. Para tanto, é preciso que mais chão seja dedicado ao que se chamava de transporte de massa.

Sim, veículos micro e compartilhamento vão contribuir para a redistribuição menos injusta de chão para transporte, reduzindo o uso de automóveis particulares.

Mas a solução tem de ser planejada de maneira integrada, o que depende, mais uma vez, de política pública.

Além da apropriação de vias para o transporte público, a intermodalidade depende de outras infraestruturas físicas: chão para pedestres, ciclistas e, depois, outros equipamentos micromóveis.

É preciso criar pontos de parada para os veículos “micro” e compartilhados (garagens), a fim de integrá-los a meios de transporte de massa.

São ideias que já aparecem nos planos oficiais de mobilidade, em geral no papel: sem isso, haverá apenas tentativas localizadas e anedóticas, quando não caóticas, de resolver o problema.

O planejamento e o uso eficaz dessa infraestrutura dependem de informação pública.

Desde 2016, a prefeitura de São Paulo tenta usar dados de aplicativos de transporte e entregas para pensar o fluxo de tráfego e pessoas.

Seria informação relevante para definir onde instalar facilidades para o uso de veículos “micro”. 

Mas também é preciso repensar a integração dos meios e de tarifas, hoje tema apenas das discussões sobre uso integrado de ônibus e trens. 

A discussão micro depende de um plano macro para mudar o uso do chão e a movimentação pela cidade.

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