Baseada em blockchain, Web 3.0 pode ser nova era da internet

Rede descentralizada também seria usada como base para serviços e negócios

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Rio de Janeiro

Considerada a nova fase de desenvolvimento da internet, a web 3.0 tem a promessa de levar mais transparência à rede e aumentar a autonomia dos usuários sobre o conteúdo digital que consomem e produzem.

As possibilidades e o funcionamento de uma terceira geração da internet foram debatidos no painel de abertura do seminário Web 3.0 e Metaverso, promovido pela Folha e pelo Itaú Cultural nos dias 4 e 5 de julho. A mesa foi mediada por Raphael Hernandes, repórter especial do jornal.

Luciana Bazanella (à esq.), cofundadora da White Rabbit, e o repórter Raphael Hernandes, mediador da primeira mesa do seminário; ao lado, avatares acompanham o evento do metaverso
Luciana Bazanella (à esq.), cofundadora da White Rabbit, e o repórter Raphael Hernandes, mediador da primeira mesa do seminário; ao lado, avatares acompanham o evento do metaverso - Keiny Andrade/Folhapress

O propulsor da web 3.0 é a tecnologia blockchain, que tem funcionamento semelhante ao de um livro contábil virtual e público, em que ficam registradas todas as operações de uma mesma rede. É assim que operam moedas como o bitcoin, cujas transações são feitas diretamente entre os usuários e validadas no próprio sistema, em um processo conhecido como mineração.

Dentro desse raciocínio, além de permitir a circulação de conteúdo ou de dinheiro, a estrutura descentralizada da web 3.0 também poderia ser utilizada como base para serviços e negócios.

"A lógica da web 3.0 quebra a instância de legitimação, como se fosse uma democracia direta", diz Luciana Bazanella, cofundadora da consultoria de tendências White Rabbit, que participou do evento.

Para a publicitária, a transição para a terceira fase da rede se daria de forma gradual. Enquanto alguns espaços seguiriam sob as regras da web 2.0, outros, mais afins, adotariam a nova tecnologia.

A lógica da Web 3.0 quebra a instância da legitimação, como uma democracia direta. É a maior revolução da capacidade expressiva da história.

Luciana Bazanella

cofundadora da consultoria de tendências White Rabbit

A transparência é outro dos princípios debatidos em uma nova era da internet. Para Bazanella, isso pode se tornar uma das principais diferenças entre a web 3.0 e a web 2.0 —esta, marcada pelo conteúdo feito pelos próprios usuários nas redes sociais, quando ascenderam grandes empresas de tecnologia do setor.

Na atual fase da internet, o alcance de uma publicação ou de um site depende de algoritmos, responsáveis por indicar conteúdos aos usuários. "Eles [algoritmos] definem o que é visto e o que é enterrado na internet", diz Bazanella.

Em produções nativas da web 3.0, seria possível vender conteúdo diretamente ao consumidor, sem passar por filtros. É o que ocorre com as NFTs, certificados que dão direito de propriedade sobre ativos virtuais, como GIFs e ilustrações digitalizados.

Os metaversos, ambientes digitais imersivos onde usuários circulam como avatares, também podem se tornar descentralizados nessa fase. Neste caso, consumidores fariam compras de terrenos e bens no espaço virtual, em transações registradas em blockchain. Na prática, já existem metaversos descentralizados, como o Decentraland.

Apesar de o espaço virtual já estar presente no blockchain, metaversos de grandes corporações também operam sob as normas da web 2.0. Empresas como a Meta, antigo Facebook, criaram o próprio ambiente virtual.

Esse movimento pode dificultar a integração entre diferentes metaversos, que exigiria colaboração entre as empresas, segundo a debatedora. "A interoperabilidade envolve a programação e o modelo de negócios de empresas que sempre trabalharam mantendo o usuário no próprio sistema", diz.

Relatório da consultoria McKinsey aponta que, do ponto de vista dos consumidores, explorar os ambientes digitais é uma das principais vantagens do metaverso.

Cerca de 60% dos usuários desejam usar o metaverso em atividades diárias, de trabalho a lazer, para se conectar com outras pessoas e conhecer diferentes mundos.

Além dos internautas, o ambiente virtual atiçou o mercado. Neste ano, foram investidos cerca de US$ 120 bilhões (R$ 646 bilhões) no metaverso, segundo relatório da McKinsey, o dobro da cifra de 2021. Segundo Marina Mansur, sócia da McKinsey, a busca é impulsionada pela revolução que novas tendências da rede prometem em relação à liberdade do usuário.

Por outro lado, a nova fase da tecnologia deve apresentar questões, como o de acessibilidade. "Apesar de ser um mundo de comunidades, elas são muitas vezes fechadas. É um dilema a democratização do acesso a essas comunidades, porque você precisa de equipamentos para isso", afirma Mansur.

Para Bazanella, também é necessário ser crítico para entender a web 3.0 e avaliar quais problemas podem ser importados para ela. Um exemplo é o racismo algorítmico, em que plataformas como as redes sociais refletem o preconceito do mundo físico.


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