Com menos de quatro meses de existência e contando com um acervo de mais de 16 mil títulos, a BibliON, biblioteca virtual do governo do estado de São Paulo, já soma 71 mil sócios e realizou 62 mil empréstimos de obras ao público.
De clássicos da literatura a lançamentos, a novidade cultural e tecnológica, lançada em junho como plataforma disponível em um site ou em um aplicativo, oferece aos leitores obras de autores consagrados como Clarice Lispector, Lygia Fagundes Telles, Machado de Assis, Gabriel García Márquez, José Saramago, Chico Buarque e Djamila Ribeiro.
Os livros, de gêneros variados como romance, ficção, suspense, biografia, podem ser lidos em celulares, tablets ou notebooks.
Aposentado desde 2015, o ex-gerente de banco Pedro Francisco de Aquino, 62, era resistente à leitura virtual. Ele preferia pegar os livros na mão e devorá-los na biblioteca estadual do Parque Villa-Lobos, na zona oeste de SP.
Mas a pandemia impôs isolamento social e ele passou a buscar livros na BibliON, que nessa época ainda era um projeto-piloto. "Eram opções limitadas, a maioria de domínio público. Mas já ajudava", afirma o aposentado.
Aquino conta que, após a inauguração da BibliON, o acervo aumentou substancialmente e ele ampliou seu repertório. A partir daí, leu obras do colombiano García Márquez (1927-2014), um livro de contos da escritora cearense Ana Miranda, que é da mesma região que ele, e outro do escritor amazonense Milton Hatoum.
"Foi a BibliON que me abriu para esse mundo. Talvez não achasse esses livros numa biblioteca convencional", diz Aquino, que costuma ler dois livros virtuais por mês em seu notebook.
Atualmente, ele lê "Pantaleão e as Visitadoras", do escritor peruano Mario Vargas Llosa, e "O Idiota", do russo Fiódor Dostoiévski (1821-1881).
A BibliON tem títulos em português (15.719), espanhol (389), inglês (244), alemão (3), italiano (2), africâner (1), catalão (1) e português de Portugal (1).
O empréstimo vale por 15 dias. Esse período pode ser renovado uma vez, desde que não haja outra reserva. O livro desaparece do dispositivo após o prazo, mas é possível baixar o livro e ler sem internet. Essa restrição para a leitura se deve aos direitos autorais das obras.
Segundo o governo, a iniciativa já recebeu investimento de R$ 10 milhões, sendo 10% do valor direcionados para os direitos autorais, número que pode variar, já que a biblioteca é constantemente atualizada. A partir daí, a BibliON terá um investimento anual de R$ 5 milhões.
A maioria dos livros da plataforma tem a opção de áudio, o que amplia a acessibilidade, de acordo com o secretário de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo, Sérgio Sá Leitão. Há disponíveis ainda mais de 300 títulos em audiolivro, quando a obra é gravada por atores em estúdio, com sonoplastia.
O governo decidiu lançar a BibliON, como define Sá Leitão, como uma espécie de Netflix dos livros, uma biblioteca online que funcionasse como um serviço de streaming e que tivesse já na largada muitos títulos para agradar a um espectro amplo de leitores.
"A BibliON se insere dentro dessa visão do desafio de fazer de São Paulo e do Brasil um estado e um país de leitores, incentivando o hábito da leitura e ampliando as opções de livros", afirma o secretário.
O secretário cita a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, da Câmara Brasileira do Livro, realizada em 2019. No Brasil, 48% da população declarou não ter lido nenhum livro nos três meses anteriores à mostra, contra 52% que leram inteiro ou em partes pelo menos um livro no mesmo período.
"Sabemos o bem que a leitura faz. Os livros qualificam, engrandecem o repertório, emocionam, divertem, nos exportam, trazem conhecimento e nos apresentam ideias e valores novos", diz o secretário.
Sá Leitão, porém, lembra que uma parte da população ainda não tem acesso à internet ou à banda larga. "Temos que chegar aos 645 municípios [do estado]. São iniciativas complementares [biblioteca virtual e física]. Mas pelo meio digital vamos mais longe."
Muito além dos livros
Não são só livros que estarão disponíveis na BibliON. A biblioteca virtual também vai promover eventos culturais, oficinas modulares, seminários e capacitações. Um curso sobre como criar podcasts já foi ministrado neste ano, segundo Letícia Fagiani, bibliotecária sênior da plataforma.
Os clubes de leitura, ela explica, estão previstos para 2023. Um edital foi aberto pelo governo para o desenvolvimento dessas atividades em dez bibliotecas do estado.
As cidades escolhidas foram São Paulo, São Bernardo do Campo (ABC), Alambari, Birigui, Espírito Santo do Pinhal, Itaquaquecetuba, Itu, Jaboticabal, Lençóis Paulistas e São José dos Campos.
"Será um livro por mês disponível para uso simultâneo de um grupo de 25 a 30 pessoas. Os encontros presenciais ou virtuais para debater a obra vão durar de uma a duas horas."
A advogada Luciana Gerbovic, que há mais de dez anos trabalha como mediadora de clubes de leitura, lecionou nas oficinas da BibliON para funcionários e destaca a importância dessa atividade. "Aguça o senso crítico. E também é onde nascem amizades por um caminho bonito, a literatura."
Para ela, a biblioteca online gratuita "é uma excelente política pública de acesso aos livros". Segundo ela, "nenhum [candidato à presidência] aborda as bibliotecas em seus planos de governo. O acesso à literatura é um direito humano fundamental e deveria ser prioridade para os políticos."
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.