Políticas de conservação da mata atlântica podem salvar a Amazônia, mostra estudo

A primeira medida sugerida é a criação de áreas protegidas contíguas em terras públicas com alta cobertura florestal

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Ampliar áreas protegidas, aprimorar legislações em prol do desmatamento zero e intensificar a restauração florestal são algumas das lições extraídas da mata atlântica para preservação da Amazônia. A principal delas, no entanto, é o tempo de resposta: é preciso implementar as políticas o quanto antes para que elas de fato evitem e revertam —não apenas minimizem— a devastação.

As conclusões são produto de análise realizada pelos pesquisadores Luís Fernando Guedes Pinto, da Fundação SOS Mata Atlântica, Joice Ferreira, da Embrapa Amazônia Oriental, Erika Berenguer, da Universidade de Oxford, e Marcos Rosa, da Universidade Estadual de Feira de Santana.

Vegetação típica da área da Amazônica Legal, que tem 5 milhões de metros quadrados
Vegetação típica da área da Amazônica Legal, que tem 5 milhões de metros quadrados - Shutterstock

O trabalho resultou no artigo "Lições de Governança da Mata Atlântica para a Preservação da Amazônia", publicado na revista científica Perspectives in Ecology and Conservation (perspectivas em ecologia e conservação), no qual são sugeridas estratégias de proteção a partir da revisão de ações já existentes.

Usando dados do MapBiomas, os pesquisadores identificaram que menos de 30% da cobertura vegetal original permanece intacta em 7,2% das bacias hidrográficas amazônicas, principalmente na região chamada de arco do desmatamento, que engloba áreas de Maranhão, Pará, Mato Grosso e Rondônia. Ao todo, 12% das bacias da Amazônia têm cobertura próxima ou abaixo do limite crítico de 30%.

Este cenário é semelhante ao da mata atlântica, bioma mais devastado do país, que conserva apenas cerca de 24% de sua vegetação original.

Em ambas, a degradação compromete os serviços ecossistêmicos, como abastecimento de água e produção de energia hidrelétrica, e agrava a mudança climática, já que as regiões estão entre as florestas tropicais mais importantes do mundo e são fundamentais para o sequestro de carbono, por exemplo.

A primeira medida sugerida pelo estudo é a criação de áreas protegidas contíguas em terras públicas com alta cobertura florestal, a fim de barrar a grilagem e o desmate. Segundo o artigo, a estratégia tem bons resultados na mata atlântica —entre São Paulo e Paraná, regiões protegidas compõe a maior floresta contígua do bioma, com cerca de 2 milhões de hectares.

Em seguida, os autores propõem estabelecer áreas protegidas também nos "hotspots" de desmatamento, sobretudo nos locais com pouca cobertura florestal e em regiões com mais reservas particulares.

Na mata atlântica, a ação é eficaz com a criação de RPPNs (Reservas Particulares do Patrimônio Natural), unidade de conservação privada criada por iniciativa do proprietário do terreno.

Sobre o aspecto legal, os pesquisadores recomendam que, diante da emergência climática e dos compromissos de desmatamento zero assumidos pelo Brasil, legislações como a Lei da Mata Atlântica sejam revisadas e aprimoradas, para que se alinhem à meta de zerar o desmate, e depois replicadas na Amazônia.

Algumas das prioridades definidas pelos pesquisadores são a contenção da perda florestal, além da ampliação e aceleração da restauração.

De acordo com o estudo, é necessário recuperar 4,7 milhões de hectares de vegetação nativa na Amazônia —extensão próxima à do estado do Rio de Janeiro— e 6,8 milhões de hectares na mata atlântica, área pouco maior que a soma do Rio de Janeiro com o estado de Sergipe.

Os projetos devem ser implementados antes que a degradação avance, a fim de aproveitar a capacidade natural de recuperação do bioma e evitar despesas maiores com o plantio de árvores.

Na mata atlântica, a regeneração foi fundamental para conectar os remanescentes do bioma, mas as iniciativas ainda não são suficientes em larga escala.

Uma forma de estimular e acelerar o processo, sugerem os pesquisadores, é usar mecanismos como o pagamento por serviços ambientais, que visa recompensar agricultores e comunidades indígenas, por exemplo, que se dedicam à conservação da biodiversidade e à restauração da vegetação.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.