Especialistas defendem mão de obra mais diversa na matemática

Disparidade de gênero e raça no mercado também é vista na educação básica

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São Paulo

Combater a desigualdade de raça e gênero em matemática é uma das formas de avançar no desenvolvimento econômico do Brasil. Essa foi uma das conclusões da primeira mesa do seminário Contribuição da Matemática para a Economia, realizado pela Folha e pela Fundação Itaú na terça-feira (20).

Segundo estudo do Itaú Social apresentado na ocasião, ocupações intensivas em matemática são dominadas por homens (69%) e pessoas brancas (62%), números distantes da realidade brasileira, em que homens representam 48,5% e pessoas brancas, 43,5%.

Quatro homens sentados em poltronas em palco de auditório da Folha, em que há, ao fundo, um painel laranja com os escritos "Contribuição da Matemática para a Economia"; ao lado direito, uma televisão exibe uma mulher em videoconferência
Primeiro painel do seminário Contribuição da Matemática para a Economia discutiu questões de disparidade de gênero e raça e sobre a estrutura produtiva do Brasil; da esquerda para a direita, Luiz Drouet, Edivaldo Constatino, Pedro Fernandes, Marcelo Viana (mediador) e Tatiana Roque (na tela) - Lucas Seixas/Folhapress

A disparidade começa no ensino básico. Na Obmep (Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas), por exemplo, observa-se queda no índice de meninas que recebem medalhas de ouro conforme o avanço dos níveis escolares. Em 2023, as medalhistas nos sexto e sétimo anos foram 25%; 19,9% nos oitavo e nono anos; e, no ensino médio, apenas 11,2%.

O tema foi levantado pelo mediador, Marcelo Viana, diretor-geral do Impa (Instituto de Matemática Pura e Aplicada), responsável pela Obmep.

Para Edivaldo Constantino, gerente de iniciativa de emprego e oportunidade Brasil para o (J-PAL) Laboratório de Ação contra a Pobreza Abdul Latif Jameel na América Latina, ao discutir a importância econômica do setor, é preciso olhar para o contexto social.

Como exemplo, defendeu a existência de creches próximas às universidades para que doutorandas mães tenham onde deixar os filhos e possam pleitear bolsas em instituições de fomento sem intervalos na produção científica.

Viana reforçou ainda a importância de projetos que incentivem o interesse de meninas pela matemática. Ele citou o programa Meninas Olímpicas, do Impa, que visa mostrar a crianças de escolas públicas da periferia do Rio de Janeiro que a carreira de cientista é possível para mulheres.

Pelo seu trabalho no J-PAL, centro de pesquisa global que atua para reduzir a pobreza, Constantino foi questionado sobre os efeitos de políticas afirmativas no mundo do trabalho. "Infelizmente ainda temos poucas evidências para ver os impactos no mercado de trabalho e talvez isso reflita os achados da pesquisa [do Itaú Social], de uma certa estabilidade [na desigualdade]."

Outro ponto foi a estrutura produtiva brasileira, que favorece a concentração de profissões da matemática em atividades técnicas e administrativas, com uma faixa pequena representada por ocupações relacionadas à inovação e tecnologia, como as engenharias.

Luiz Drouet, presidente da ABRH-SP (Associação Brasileira de Recursos Humanos em São Paulo), atribuiu esse cenário ao fato de que o país forma poucos engenheiros.

Ele defendeu investimentos no capital humano e disse que as empresas começam a valorizar competências que vão além do ensino formal.

Dispor de mão de obra qualificada tornou-se fator importante também para os estados, no contexto da reforma tributária, disse Pedro Rafael Lopes Fernandes, que é gerente de projeções macroeconômicas do Instituto Mauro Borges de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos em Goiás.

Os estados, explicou, tentarão atrair as empresas disputando entre si maiores níveis de qualificação e agilidade na formação de pessoas capazes de atuar nas respectivas áreas de interesse dos negócios.

Por videoconferência, também participou Tatiana Roque, secretária de ciência e tecnologia do Rio de Janeiro e professora do Instituto de Matemática da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). Ela discordou da visão de que o Brasil forma poucos engenheiros. "Boa parte dos nossos alunos formados em engenharias não atua na área, porque o mercado de trabalho é pequeno. Não é questão de formar mais, é questão de mudar a estrutura produtiva."


Seminário discutiu importância da matemática para a economia; assista

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