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Contribuição da Matemática para a Economia PIB

Brasil deve iniciar já transformação estrutural de sua economia

Formação para a pesquisa deve ser complementada por qualificações voltadas para o novo mundo do trabalho

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Tatiana Roque

Secretária de Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro e professora do Instituto de Matemática da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); autora de “O Dia em que Voltamos de Marte” (ed. Crítica)

Rio de Janeiro

Um dos aspectos mais interessantes do estudo Contribuição dos Trabalhos Intensivos em Matemática Para a Economia Brasileira, do Itaú Social, é ressaltar diferenças entre a economia brasileira e a francesa.

A contribuição da disciplina para o PIB cresce, na França, puxada por setores tecnologicamente avançados. Os engenheiros, por exemplo, correspondem a 39% dos empregos que usam matemática, ao passo que, no Brasil, o percentual cai para 12%.

Aqui, as ocupações se concentram nas áreas de serviços, sejam administrativos ou de TI, muito mais do que em setores tradicionalmente ligados à inovação e ao desenvolvimento tecnológico de ponta.

Foto mostra lousa verde, com cálculos de trigonometria escritos com giz branco
Lousa em aula de trigonometria - Freepik

Esses dados são preocupantes. Uma análise rápida dos estudos sobre o impacto da inteligência artificial no mundo do trabalho mostra que empregos administrativos e financeiros estão entre os mais passíveis de serem substituídos.

Artigo do FMI calcula os graus de exposição de diferentes profissões à IA generativa confirmando que funções qualificadas passam a ser passíveis de substituição, mais do que eram com a automação.

Por exemplo, o setor de finanças e seguros é mais exposto do que qualquer outro. Justamente campos em que, no Brasil, os trabalhos intensivos na disciplina estão mais concentrados.

Por isso, a lição imediata de que temos que formar mais pessoas em ocupações que usem a matemática deve ser somada a outra: precisamos de profissionais qualificados para realizar uma transição em nossa estrutura econômica.

A universidade brasileira precisa mudar a maneira como vem formando nossos jovens. A formação para a pesquisa deve ser complementada por qualificações voltadas para o novo mundo do trabalho. Para isso, temos que estimular um desenvolvimento econômico voltado para a indústria e setores tecnológicos.

Um exemplo interessante é o Porto Maravalley, criado pela Prefeitura do Rio de Janeiro, com objetivo de unir novas graduações intensivas em matemática oferecidas pelo Impa Tech a empresas de tecnologia.

O mesmo já acontece em parques tecnológicos de algumas universidades. Esse modelo pode colocar o Brasil em patamar avançado. O mesmo estudo do FMI mostra que economias emergentes têm menor exposição à IA que as avançadas, uma boa e uma má notícia.

Essas nações enfrentarão menos rupturas em curto prazo, mas estão menos equipadas para usar as novas tecnologias e aumentar a produtividade, a não ser que comecem já uma transformação estrutural.

Em futuro próximo, sistemas semelhantes ao ChatGPT são propensos a se tornar ferramentas de produtividade, apoiando e acelerando a execução de algumas tarefas dentro de outras mais complexas.

Além da probabilidade de substituição de atividades, há grandes chances de complementaridade, a qual só pode ser alavancada se os trabalhadores possuírem habilidades para tirar proveito da IA.

O futuro traz preocupações, mas também abre novas oportunidades. Depende de implementarmos boas políticas.

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