Saiba como artistas brasileiros construíram uma carreira de sucesso no exterior

Profissionais dão dicas para jovens que querem tentar trabalhos fora do país

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

A ideia de ter uma carreira artística fora do país pode ser o sonho de muitos jovens que estão começando na área. No entanto, seja na dança, na música ou no teatro, artistas que trabalham no exterior afirmam que a empreitada exige planejamento financeiro e conhecimento do idioma —além de já ter tido experiência em solo nacional.

Artistas consideram que suas profissões são mais valorizadas fora do Brasil - WavebreakmediaMicro/Adobe Stock

Foi assim que o ator carioca Tatsu Carvalho, 45, conseguiu suas primeiras oportunidades fora do país. Com o passaporte de cidadania portuguesa em mãos, ele foi buscar trabalho em Londres, por já ter familiaridade com a língua inglesa e por saber que a cidade é cenário de muitas produções norte-americanas.

Atualmente, Tatsu está terminando as gravações do seriado "Arcanjo Renegado", da TV Globo. Ele atuou na novela "Malhação" e no seriado "Sob Pressão", da mesma emissora, e faz parte do elenco "Detetives do Prédio Azul", do canal Gloob.

"Quanto mais experiência você tiver, mais gente vai ficar interessada em você. Se você esteve em uma série do Brasil que explode mundialmente, [os agentes] vão chegar em você", diz.

Após a conclusão da primeira temporada do seriado "Sob Pressão", em 2017, Tatsu começou a pesquisar quais caminhos deveria seguir para tentar carreira como ator em Londres.

Antes de viajar, ele se cadastrou na plataforma Spotlight, que conecta artistas com produtoras de teatro, televisão e cinema.

"Fui mandando alguns emails, me apresentando, falando que eu estava indo para Londres e perguntando se alguém poderia me representar, foi assim que eu comecei e tive algumas respostas positivas", diz.

Na primeira semana em Londres, ele fez um teste e passou para atuar em um seriado do History Channel e, desde então, já participou de outras produções internacionais, como o "O Gambito da Rainha", da Netflix, "It's a Sin", veiculada na HBO Max, e "Girlfriends", da iTV.

Apesar das oportunidades no exterior, Tatsu decidiu continuar no Rio de Janeiro e fazer viagens temporárias para Londres. "É muito caro [viver lá], precisa ter uma condição financeira boa e se organizar."

Para Tatsu, se o jovem quer buscar carreira no exterior, além de ter experiências no Brasil é importante estudar teatro, se programar e dominar o idioma do país que pretende ir.

A experiência internacional serviu para ele perceber que há mais reconhecimento no exterior. "Aqui [no Brasil], acho que ainda temos que caminhar um pouco para que ator seja visto como uma profissão", diz.

A cantora e diretora de marketing Jenny Herbst, 35, deixou São Paulo em 2016 com destino a Nova York e, desde então, não voltou mais ao Brasil.

"Eu cantava em uma banda e fazíamos covers de cantoras internacionais. Quando surgiu a oportunidade de morar fora, aceitei", conta.

No Brasil, ela trabalhava em uma empresa com marketing, comunicação e eventos, mas em 2016 aceitou uma proposta do seu local de trabalho para ser responsável por uma equipe nos Estados Unidos. Além de manter o emprego na área, não desistiu da música.

"Após um ano nos Estados Unidos, comecei com apresentações musicais, tocando em pequenos shows de brasileiros. Aos poucos, fui me envolvendo mais", diz.

Jenny continuou conciliando as apresentações com o trabalho em marketing por questões financeiras.

"Eu acho que não dá para você seguir um sonho sem ter como se sustentar. Se você não tiver uma base e não puder se manter financeiramente, não vai dar certo. Eu largaria o marketing no momento que tivesse recebendo, no mínimo, o equivalente ao salário que recebo agora", diz.

Para quem quer tentar algo fora, Jenny recomenda ter economias suficientes para se manter por três meses, até ganhar experiência.

"Você quer tentar carreira por quanto tempo? Vai morar com alguém? Vai pagar um aluguel sozinho?", diz.

Segundo Jenny, além de pensar no planejamento financeiro, o artista também precisa ter vivência de palco e saber entreter a plateia.

"Conta mais experiência do que estudo. Ninguém pergunta se você fez faculdade de música. Apesar da universidade dar uma base, não adianta ter um diploma se você não tem carisma", diz.

Para o bailarino, Daniel Camargo, 30, natural de Sorocaba (interior de São Paulo), trabalhar no exterior foi a realização de um sonho antigo.

Desde pequeno ele pensava que teria de ir embora do Brasil para construir uma carreira de sucesso no balé, por isso, agarrou a primeira oportunidade que surgiu.

Aos 14 anos, ao participar da competição Youth America Grand Prix, em Nova York, o diretor da John Cranko School ofereceu uma bolsa integral na escola de Stuttgart, na Alemanha.

O benefício o ajudou a arcar com suas despesas até se formar.

"Às pessoas que querem ter uma carreira artística internacional na dança, indico procurarem festivais, como o YAGP de Nova York e o Prix de Lausanne, na Suíça", diz.

Ao participar dessas competições, o bailarino consegue ganhar experiência e ter oportunidades em outros países.

"Mesmo que você não ganhe um prêmio, você pode ser visto por diretores de escolas. Se eles veem um talento, podem dar bolsa de estudos", diz.

Uma das dificuldades que enfrentou ao sair do Brasil foi o idioma. "Alemão é totalmente diferente de tudo, mas o lado bom disso é que, se você não fala, não tem outro jeito, aprende na marra. Nos primeiros três ou quatro meses eu já estava me comunicando", conta.

Atualmente, Daniel trabalha como bailarino freelancer e está em Hong Kong para participar de espetáculos de dança, mas vive em Amsterdã. Desde que foi embora do Brasil, em 2005, não retornou mais ao país.

Segundo ele, as melhores oportunidades para fazer carreira no balé estão na Europa, principalmente na Inglaterra e na Rússia. Além disso, também existem boas companhias nos Estados Unidos, como em Nova York, São Francisco, Boston e Chicago.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.