Influencer de trabalho: como divulgar sua profissão nas redes sociais

Newsletter FolhaCarreiras explica benefícios de criar conteúdos profissionais na internet e quais cuidados tomar

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São Paulo

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"Um dia de trabalho comigo." "Acompanhe meu processo criativo." "Dicas que passo para meus clientes."

Você já deve ter cruzado com algum conteúdo assim. Se não, é questão de tempo até aparecer uma postagem dessas por aí. A tendência é que cada vez mais profissionais decidam ser "influenciadores do próprio trabalho".

Redes sociais são o novo cartão de visita, afirma especialista em carreiras, marca pessoal e liderança - Adobe Stock

Quem são eles? São criadores de conteúdo que compartilham o próprio trabalho nas redes sociais, da rotina no escritório até projetos pessoais relacionados à área de atuação.

Por que fazem? "As redes sociais são o novo cartão de visita", resume Jaqueline Garutti, consultora de carreira, marca pessoal e liderança. "É onde você mostra suas habilidades, que dores resolve, e amplia seu público."

  • Exemplo: um nutricionista pode compartilhar uma receita vegana para fugir do frango com batata-doce. É um jeito de mostrar diversidade de cardápio e atrair novos clientes.

Dá para tirar uma graninha disso? Depende da sua intenção.

  • Como assim? Se o objetivo for divulgar seu trabalho e, com isso, conquistar mais oportunidades no mercado, o dinheiro não vai vir tão rapidamente. Mas, se você quer aproveitar o espaço para fazer publis, a chance é maior.
  • "O dinheiro não precisa ser o fator principal, e sim a exposição que esse conteúdo vai trazer para o trabalho. Depende também do momento e do estágio de carreira que cada um está", diz Garutti.

Todas as profissões podem fazer? Sem dúvidas. De especialista em lava-louças a psicólogos, ilustradores, arquitetos, advogados…

"Todo profissional precisa estar online", defende Ana Letícia Magá, mentora de carreiras da geração Z.

  • De acordo com ela, a pandemia jogou luz sobre a importância de ter uma identidade profissional no mundo digital. Mesmo com o fim das quarentenas, isso só tende a crescer.

E se eu não quiser? Vou me prejudicar? Não, mas produzir conteúdo sobre seu trabalho pode ser um diferencial –inclusive do ponto de vista de recrutamento.

Por quê? Não só enriquece sua vitrine profissional, mas também é um caminho para o famoso networking.

  • "Quanto mais direcionado, maior a chance de gerar conexões reais que podem aumentar a visibilidade desse profissional para oportunidades de trabalho", diz Juliana Ribeiro, gerente executiva da Michael Page Brasil.

Mas é preciso ter atenção com o que você posta nas redes sociais.

Cuidado com…

… posicionamentos polêmicos:
Se você quer trazer algum tema que divide opiniões, defina seu objetivo com isso. "É para ‘lacrar’ e ter curtidas ou provocar uma reflexão maior?", diz Garutti.

O LinkedIn, por exemplo, é a rede mais avaliada por recrutadores. "Lá tem de tudo. Artigos, histórias pessoais, opiniões sobre a área de atuação. O que você posta vai estar relacionado a sua imagem profissional", afirma Ribeiro.

… a ética:
Independentemente da profissão, ser ético no que você faz é sempre um bom norte. Evite postar uma crítica a sua empresa atual ou anterior, por exemplo. Isso quase nunca pega bem e pode te prejudicar em oportunidades futuras.

… orientações da sua empresa:
Se você quer compartilhar o que você faz dentro da firma, ou mesmo gravar o ambiente de trabalho para mostrar sua rotina, é fundamental alinhar com o RH para não infringir regras internas.

… conteúdo sensível:
Preste atenção para não divulgar informações confidenciais sem querer, como imagens da tela do computador ou áudios de conversas.

Gostou da ideia e quer começar a ser influenciador do próprio trabalho? Dá uma olhada nessas dicas:

  • Defina sua linha editorial. O que você quer comunicar? Para quem? Quais são as habilidades que você quer por em prática?;
  • Escolha a rede social perfeita para você. Onde seu público-alvo fica? Que formato você quer usar?;
  • Não tenha medo de recalcular a rota. Às vezes seu conteúdo pode não ter o retorno que você esperava –e isso é um feedback sobre o que vale falar ou não;
  • Acione sua rede de contatos. Divulgue no grupo da família no WhatsApp, ofereça serviços a um custo mais baixo, pergunte aos seus amigos que tipo de conteúdo eles gostariam de consumir;
  • Tenha paciência. São raríssimos os casos de pessoas que decolaram nas redes sociais em pouco tempo. Comece devagar para não se frustrar;
  • Se divirta no processo. Lembre-se: você tem mais liberdade no seu perfil profissional do que no mundo real. Desfrute dela!

Minha experiência

Profissionais contam como usam as redes sociais para divulgar o próprio trabalho.

Kenji é um homem amarelo, com óculos redondos e barba. Usa uma camiseta preta e está em frente a folhas de costela-de-adão.
Kenji Lambert, 26, é formado em publicidade e trabalha como Senior Designer na Warner Bros. Discovery. No Instagram, investe em projetos pessoais - Arquivo pessoal

Kenji publica ilustrações e motion graphics em seu perfil do Instagram. Ele combina divulgações de trabalhos formais, como os que faz na Warner Bros., com projetos pessoais, em especial sobre a vida nipobrasileira.

Paciência, gafanhoto. "Comecei a postar alguns desenhos aos poucos, lá em 2015. Queria só exercer essa vontade de ilustrar. Um dia, a chavinha virou e vi que poderia trabalhar com isso. Comecei a receber pedidos de encomendas de amigos, ou de amigos de amigos, mas foi só em 2019 que o Instagram começou a me trazer trabalho de fato. Conforme fui ganhando seguidores e mais pessoas compartilhavam meu perfil, começaram a chegar contatos de empresas, diretores de arte, de marketing… Foi um crescimento gradual. "

Rede de indicações. "Consegui meu emprego atual, e todos os anteriores, a partir dos contatos que fui fazendo. Meu Instagram não foi o caminho, mas serviu como vitrine do meu trabalho e me trouxe alguns freelas."

Segredo de Estado. "Nós evitamos falar de lançamentos ou de qualquer coisa que seja o foco da empresa agora. Normalmente falo mais sobre o lado pessoal, por exemplo como cheguei até lá, como consegui minha vaga e por que é importante para mim estar nesse lugar."

Gabrielle é uma mulher branca, de cabelos loiros longos. Usa uma jaqueta jeans e uma blusa xadrez azul e branca
Gabrielle Venceleski, 21, é analista de RH do Grupo Martins. No TikTok, faz vídeos sobre o cotidiano da empresa e a rotina de trabalho - Arquivo pessoal

Gabrielle, em seu perfil do TikTok, compartilha como é a rotina de uma analista de RH, tira dúvidas de seguidores e dá dicas para quem quer atuar na área.

Do viral ao nicho de conteúdo. "Teve uma trend um tempo atrás de comparar sua vida na pandemia e seu momento atual. Eu compartilhei que lá em 2020 eu estava estudando para prestar vestibular e, no pós pandemia, estava trabalhando com RH e cursando administração. Meu vídeo viralizou, e muitas pessoas pediram para que eu compartilhasse minha rotina e como era trabalhar nessa área. Conforme mais vídeos eu fazia, mais dúvidas surgiram, e consegui criar um nicho ali."

Por dentro do RH. "Antes de tudo, alinhei com a minha chefe da época e fui orientada sobre o que eu poderia mostrar. Evitava falar nomes, mostrar qualquer tipo de dado sigiloso, filmar a tela do computador com planilhas ou algo assim. E isso foi muito bem recebido, tanto na empresa em que eu trabalhava na época, quanto na empresa em que eu trabalho hoje. Muitas pessoas que se inscrevem em vagas daqui falam sobre meus vídeos no TikTok. Acaba sendo benéfico para a empresa também."

De olho nas redes sociais do candidato. "Como recrutadora, presto muita atenção nas redes sociais dos candidatos. Não gosto quando vejo pessoas destratando a empresa anterior ou falando mal do chefe, por exemplo. Olho também para a frequência de postagens durante o horário de trabalho e que narrativa a pessoa adota ao falar do trabalho dela. Se reclama demais, diz que está muito cansada e coisas do tipo, costuma pegar mal."

Muriely é uma mulher branca, de cabelos longos, lisos e castanhos. Usa uma blusa verde-claro de mangas longas e posa com as mãos encostadas no queixo.
Muriely Verdin, 26, é nutricionista autônoma. Ela conta que boa parte dos clientes veio por causa do Instagram - Arquivo pessoal

Receitas fitness, dicas de emagrecimento, substituição de alimentos, reflexões. Tem de tudo um pouco no Instagram de Muriely, que é por onde a maior parte dos clientes chega.

Vencendo a timidez. "Sempre quis trabalhar em consultório, mas era um pouco resistente para entrar no Instagram. Dá vergonha mesmo. Mas não tem muito segredo: só dá para vencer a timidez ignorando ela e fazendo assim mesmo. O que me ajudou foi criar um roteiro sobre o que eu queria falar e abaixar o brilho da minha câmera, porque assim eu não me via falando na tela. Daí postava o conteúdo e não abria mais. Com o tempo, os seguidores vão interagindo mais e isso dá um gás para continuar."

Liberdade de ser e criar. "O Instagram permite que eu faça o trabalho como eu realmente quero. Claro, sempre com ética. Mas tenho muita liberdade para falar o que eu penso sobre nutrição, defender minhas pautas relacionadas à minha área de atuação e, entrando em coisas mais práticas, sou livre para fazer minha agenda. Às vezes entro um pouco na minha vida pessoal e penso no que meus seguidores gostariam de saber sobre mim. Por exemplo, no final de semana eu posto uma cervejinha, uma pizza. Isso é o que eu defendo na nutrição: para ter saúde e bons resultados, você não precisa abrir mão do que te faz feliz."

Erros e acertos. "No começo, e mesmo hoje, algumas postagens flopavam. Tinha conteúdo que eu fazia e pensava que todo mundo ia gostar e não tinha engajamento nenhum. Mas a gente não pode desanimar. É sempre um aprendizado entender o porquê de um post não ter ido bem. E aí, quando um conteúdo tem bastante retorno, você já sabe, mais ou menos, por onde ir. É sobre tomar riscos e não ter medo de errar."

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