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Influência e força do demitido Sam Altman são expostas na empresa que criou ChatGPT

Quase 95% dos empregados na OpenAI ameaçam pedir demissão coletiva se Altman não retornar

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Madhumita Murgia George Hammond
Mumbai (Índia) e San Francisco (EUA) | Financial Times

O chefe da OpenAI, Sam Altman, subiu ao palco em San Francisco, nos Estados Unidos, no início deste mês para anunciar que o ChatGPT, o projeto da startup que deu início a uma nova era de inteligência artificial há um ano, atingiu a marca de 100 milhões de usuários semanais.

Ele também divulgou que a empresa reduziria pela metade o preço de seu software e lançaria uma loja de aplicativos de IA, em movimentos projetados para proliferar o uso dessa tecnologia revolucionária. Altman fez uma pausa a cada frase para deixar o aplauso diminuir.

Sua capacidade de inspirar também seria vista semanas depois, quando o conselho da OpenAI o demitiu abruptamente. A saída só serviu para desencadear uma revolta interna. Segundo pessoas com conhecimento do assunto, 747 dos 770 funcionários da OpenAI haviam assinado uma carta ameaçando sair e se juntar à Microsoft, que anunciou a contratação de Altman na madrugada de segunda-feira (20), caso o conselho não trouxesse o ex-CEO de volta.

Sam Altman discursa em evento da Apec sobre inteligência artificial, realizada em San Francisco
Sam Altman participa de evento da Apec sobre inteligência artificial, realizada em San Francisco - Andrew Caballero-Reynols - 16.nov.2023 / AFP

Os investidores que apoiam a startup foram verificar se haveria medidas legais para forçar o conselho a reverter a opção da OpenAI. Uma fonte ouvida que trabalha em um fundo de investimento com participação na companhia de inteligência artificial disse que a ação legal poderia ocorrer nesta semana.

Mas, de acordo com uma pessoa com conhecimento das negociações, até a noite de segunda-feira (20), o conselho permaneceu firme e estava preparado para testar se funcionários cumpririam a ameaça de sair.

Executivos da OpenAI circularam um memorando para a equipe na noite de segunda, dizendo que estavam em intensas negociações com Altman, o conselho e o novo CEO interino, Emmett Shear, com o objetivo de encerrar o impasse e unificar a empresa.

Em sua carta, os funcionários disseram que os diretores "minaram nossa missão e nossa empresa" com a forma usada que culminou na saída de Altman e Greg Brockman, outro cofundador da OpenAI.

Ilya Sutskever, o último cofundador remanescente no conselho e cientista-chefe da OpenAI, assinou a carta dos funcionários depois de se desculpar nas redes sociais por seu papel na demissão de Altman. No entanto, ele não informou se também sairia do conselho.

O empreendedor de 38 anos que transformou a OpenAI em uma empresa de bilhões de dólares pode agora determinar seu futuro.

Uma pessoa com acesso às negociações entre Altman e o conselho da OpenAI afirmou que o poder dele é conquistar as pessoas, moldar narrativas e buscar a melhor situação que o favoreça, o que tornaria impossível o seu supervisionamento por parte da empresa.

Embaixador da inteligência artificial

A estrela de Altman tem brilhado nos últimos dois anos, à medida que a OpenAI empurra os limites da IA generativa —uma tecnologia que pode criar imagens, textos e códigos de alta qualidade que são em grande parte indistinguíveis da produção humana.

Em novembro do ano passado, a OpenAI lançou o ChatGPT, um sofisticado chatbot de perguntas e respostas. A popularidade do produto resultou em gigantes corporativos como Microsoft, Google e Salesforce, além de várias startups de tecnologia, lançando seus próprios chatbots e produtos de software com IA, muitos deles construídos com a tecnologia subjacente da OpenAI.

Sob a liderança de Altman, a OpenAI foi transformada em oito anos de uma organização de pesquisa sem fins lucrativos em uma empresa que, segundo relatos, gera US$ 1 bilhão de receita anual. Os clientes vão do banco Morgan Stanley ao grupo de investimento Carlyle, passando pela auditoria PwC.

O sucesso tornou Altman o embaixador de fato da indústria de IA, apesar de sua falta de formação científica. No início deste ano, ele embarcou em uma turnê global, encontrando líderes mundiais, startups e reguladores em vários países. Altman falou na cúpula regional da Apec Ásia-Pacífico, em San Francisco, um dia antes de ser demitido.

Sam Altman é um herói para mim. Ele construiu uma empresa do nada para um valor de US$ 90 bilhões e mudou nosso mundo coletivo para sempre. Eu e bilhões de pessoas se beneficiarão de seu trabalho futuro. Será simplesmente incrível

Eric Schmidt

ex-CEO do Google, em post publicado no X (antigo Twitter)

Ex-aluno da Universidade de Stanford, Altman é um produto do Vale do Silício. Sua primeira startup, o serviço de mídia social baseado em localização Loopt, não decolou. Mas foi o suficiente para chamar a atenção de Paul Graham, fundador do Y Combinator, que o tirou da relativa obscuridade, com apenas 28 anos, para comandar o incubador de tecnologia.

Os sucessos do Y Combinator incluem Airbnb e a empresa de pagamentos Stripe, e o trabalho deu a Altman uma visão privilegiada de algumas das novas tendências de investimento e um gosto por apoiar projetos visionários grandiosos.

"Havia apenas um punhado de pessoas investindo nessas tecnologias", disse Alexandr Wang, da Scale AI, empresa apoiada pelo Y Combinator, no início deste ano. "Ele está disposto a fazer grandes apostas. É uma das coisas que o tornaram um grande investidor. Ele está disposto a apostar a longo prazo".

A qualidade marcante que Altman possui, de acordo com aqueles que trabalharam com ele, é sua ambição feroz e sua capacidade de angariar apoio.

Ele foi descrito como "profundamente, profundamente competitivo" e um "gênio", com um conhecido dizendo que não há ninguém melhor em saber como acumular poder.

Negócios com fusão nuclear e criptomoeda

A visão declarada de Altman para a IA é criar uma tecnologia geral poderosa que possa ser usada com segurança para avançar a humanidade.

"Acho que não faz sentido tentar nos encaixar em uma empresa da última geração de tecnologia, porque isso é apenas uma coisa diferente, certo?", afirmou ao Financial Times em uma entrevista no início deste mês. "Nosso produto é inteligência como serviço... inteligência supercapaz. O tipo de inteligência em que você pode dizer: 'vá curar essa doença'".

No entanto, a IA não foi a única aposta de Altman. Ele investiu US$ 375 milhões de seu próprio dinheiro na startup de fusão nuclear Helion e estava prestes a concluir uma rodada de financiamento de US$ 100 milhões para sua startup de criptomoeda com leitura de íris, a Worldcoin.

Altman também estava tentando levantar até US$ 100 bilhões de investidores do Oriente Médio e do fundador da SoftBank, Masayoshi Son, para estabelecer uma nova empresa de desenvolvimento de microchips que pudesse competir com a Nvidia e a TSMC no treinamento de modelos de IA poderosos, de acordo com uma fonte próxima à negociação. Esses esforços causaram preocupações no conselho antes de sua demissão, disse essa pessoa.

Satya Nadella (à dir.), CEO da Microsoft, cumprimenta Sam Altman, então CEO da OpenAI, em evento em San Francisco
Satya Nadella (à dir.), CEO da Microsoft, cumprimenta Sam Altman, então CEO da OpenAI, em evento em San Francisco - Getty Images via AFP

Todas as empreitadas de Altman contribuíram para seu objetivo de construir uma inteligência artificial barata e poderosa e torná-la acessível em grande escala. "Acredito que há essa rede solta de empresas se unindo, que todas vão trabalhar juntas na mesma direção. A OpenAI-Microsoft é um exemplo disso. Tenho outros que farão o mesmo ao longo do tempo", disse.

Nos últimos dois anos, Altman tem lutado para encontrar a melhor maneira de equilibrar o enorme potencial de lucro da IA com a missão original da OpenAI de garantir que a tecnologia beneficie a humanidade em geral.

Embora inicialmente criada como uma organização sem fins lucrativos, Altman posteriormente reformulou o grupo para atrair um investimento de US$ 1 bilhão da Microsoft. Seu novo modelo limitava os retornos que os investidores externos poderiam obter de um novo braço comercial, direcionando quaisquer lucros extras para um fundo sem fins lucrativos.

É importante destacar que Altman disse que não possui qualquer participação pessoal na OpenAI, o que, em teoria, o mantém alinhado com o estatuto e a missão da empresa. Uma pessoa descreveu o acordo como um "movimento de poder supremo", ajudando Altman, que é independente financeiramente, a convencer os outros de sua credibilidade.

Altman provou ser um líder reverenciado, capaz de organizar os principais pesquisadores do mundo em torno de sua visão. De acordo com a equipe, havia uma espécie de culto a ele quando o assunto era a OpenAI. Isso foi evidenciado na ameaça de demissão coletiva de 95% dos funcionários.

Independentemente das preocupações do conselho em relação ao seu estilo de liderança, incluindo a afirmação de que Altman "não era consistentemente franco em suas comunicações", como descrito pela OpenAI no anúncio da demissão, investidores proeminentes continuam a vê-lo como a chave para o sucesso da empresa.

Um deles descreveu a posição de sua empresa de forma simples: "Queremos o Sam de volta", postou Vinod Khosla, um dos investidores no começo da OpenAI e que descreveu Altman como "um CEO único em uma geração".

"A razão pela qual fui uma doadora fundadora da OpenAI em 2015 não foi porque eu estava interessada em IA, mas porque acreditava em Sam", afirmou Jessica Livingston, co-fundadora da Y Combinator.

Concorrentes buscam funcionários da OpenAI

A incerteza sobre o futuro da OpenAI também criou uma oportunidade para empresas concorrentes de IA. Nessa segunda-feira, a Anthropic e a Cohere viram um aumento no interesse por parte dos clientes da OpenAI, de acordo com pessoas com conhecimento direto do assunto.

Concorrentes também estavam "rondando" a equipe da criadora do ChatGPT na tentativa de atrair pesquisadores talentosos, segundo um investidor na startup. Em post nas redes sociais na segunda-feira, Marc Benioff, CEO da empresa de software Salesforce, pediu aos pesquisadores da OpenAI que enviassem seus currículos e propôs igualar os salários.

Mustafa Suleyman, fundador da startup de IA Inflection, descreveu os eventos na concorrente como "muito tristes", mas acrescentou que sua empresa estava procurando expandir suas operações. "Venha trabalhar conosco!", afirmou.

Além de Sutskever, os diretores da OpenAI são Adam D'Angelo, CEO do serviço de perguntas e respostas Quora; a empreendedora de tecnologia Tasha McCauley; e Helen Toner, do Centro de Segurança e Tecnologia Emergente da Universidade de Georgetown.

Na noite de domingo, o conselho nomeou Emmett Shear, co-fundador do serviço de streaming de vídeo Twitch, como CEO interino. Ele substituiu Mira Murati, a diretora de tecnologia que havia sido promovida ao cargo na última sexta-feira (17).

Em entrevistas na segunda-feira, o CEO da Microsoft, Satya Nadella, comentou que não podia dizer quem seria o CEO na manhã de terça-feira, mas prometeu continuar apoiando Altman, quer ele retornasse à OpenAI ou trabalhasse internamente na Microsoft.

Ibrahim Ajami, chefe de empreendimentos da Mubadala Capital, parte do fundo soberano de Abu Dhabi, Mubadala Investment Company, de US$ 284 bilhões, avaliou que o caos na OpenAI destacou por que "é muito difícil garantir essas empresas hoje". A Mubadala tem uma parceria com a Microsoft, mas não investiu na OpenAI.

"Como investidores de longo prazo, valorizamos empresas com base em seus clientes, parcerias sólidas, talento e vantagem competitiva de longo prazo", disse ele. "Onde tudo isso se encaixa hoje com a OpenAI?", questionou.

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