Em reabertura de resort, hóspede é recebido com água de coco e termômetro

Na retomada das atividades, hotel na Bahia acaba com self-service e oferece álcool em gel até na piscina

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Una (Bahia)

De certa forma, viajar depois do coronavírus continua a mesma coisa de antes: você ainda pode enfiar os pés na areia para sentir que chegou à praia.

Mas, agora, vai encontrar álcool em gel no bar da piscina, o telefone do quarto do hotel vai estar ensacado e você terá de usar máscara mesmo com roupa de banho.


Aos poucos, hotéis fechados por meses começam a reabrir no país, e turistas passaram a pensar nas próximas férias. Segundo pesquisa da agência Decolar, cerca de 57% de mil clientes consultados pretendem fazer uma viagem nacional entre outubro e novembro deste ano —o Nordeste é o destino escolhido por 42%.

Com isso, muitas redes hoteleiras recorreram a certificações de protocolos de segurança —o hospital Sírio Libanês, por exemplo, deu consultoria para o grupo GJP.

No sul da Bahia, o resort Transamerica Comandatuba (diária a partir de R$ 1.269 para duas pessoas, mínimo de três noites) reabriu em 25 de julho após auditoria do Bureau Veritas, órgão certificador.

O visitante que chega à ilha de Comandatuba é saudado com água de coco e verificação de temperatura.
Depois, passa rapidamente pelo hall, onde recebe um envelope com pulseira, cartão de acesso e ficha para preencher no quarto e, depois, depositar em uma urna.

Antes de prosseguir, o hóspede deixa seu número de celular com o concierge, que envia a programação, cardápios e tira dúvidas por WhatsApp.

Depois da reabertura, os apartamentos estão mais vazios: saíram objetos que dificultam a higienização (almofadas, vasos). A limpeza ficou 40% mais longa e é feita com um produto recomendado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).

Após a esterilização, telefone, controle remoto, toalhas e kit de amenities (agora com álcool em gel) são revestidos por sacos plásticos.

“A pandemia trouxe alguns cuidados, mas isso está gerando um problema com mais plástico. O hotel é muito sustentável, mas não tem o que fazer agora”, diz Charles Giudici, 61, diretor de operações.

A cobertura plástica atua como uma proteção extra contra o vírus, segundo a médica Tânia Chaves, membro da Sociedade Brasileira de Infectologia e professora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Pará.

As medidas soam burocráticas, mas ajudam a passar uma sensação de segurança. Depois do coronavírus, o hóspede terá um comportamento mais observador, e os protocolos devem ser fator decisivo na hora de escolher um destino, diz Marcia Harumi Miyazaki, coordenadora de desenvolvimento da área de hotelaria do Senac São Paulo.

Um vídeo que mostra as adaptações que o Transamerica Comandatuba fez para reabrir ajudou a convencer a dentista Viviane Morini, 47, e seu marido, Juliano, 42, desenvolvedor de sistemas, a fazer a viagem com o filho.

Para Viviane, o protocolo adotado é equilibrado: ajuda a transmitir segurança, mas não sufoca o viajante. “A gente até se esquece um pouco do coronavírus”, diz. O uso de máscara é recomendado em todo o resort, mas é permitido retirá-la à beira da piscina ou ao sentar para fazer a refeição.

No salão dos restaurantes, mal entra um hóspede e um funcionário já se aproxima para fazer a higienização da mesa à vista do cliente. Garçom no local há 25 anos, Lenaldo Santos, 47, explica que a superfície já estava limpa.

“Mas a pessoa ver o procedimento é uma coisa que dá uma segurança a mais”, diz. Lenaldo troca de máscara ao menos três vezes por turno e substitui as luvas cerca de dez vezes a cada refeição.

Uma barreira de acrílico é, agora, parte dos bufês de café da manhã e de entradas nas outras refeições. O cliente observa por meio da proteção, faz um gesto indicando o que quer e recebe a comida de um funcionário.

No almoço e jantar, pratos principais e bebidas são servidos à mesa —os copos vêm protegidos por filme plástico, assim como frutas e legumes, disponíveis para levar.

Outra mudança, mais sutil, aconteceu na área de lazer: o hotel substituiu o axé e o sertanejo que saía da
caixa de som por MPB. “A noite aqui tinha festa, hoje temos uma apresentação com violão. A gente quer que a pessoa tire um tempo da quarentena com serenidade ”, diz o diretor de operações.

A programação com atividades físicas foi reduzida e, na região da piscina, antes mais agitada, agora o que se vê são famílias relativamente isoladas. Os quiosques com espreguiçadeiras estão separados por cerca de três metros.

O movimento inicial, com baixo número de hóspedes, ajuda a manter a distância de outros visitantes.

Segundo o hotel, a equipe é instruída a relembrar o visitante do uso de máscaras se houver falha no cumprimento das regras.

Mesmo em datas de maior procura, como o Ano-Novo, o hotel não deve superar uma ocupação de 50%.

No fim de semana do dia 15 de agosto, por exemplo, havia 125 hóspedes, cerca de 12% da capacidade. Com essa taxa, o hotel tem prejuízo, mas a ideia é que a reabertura ajude a reaquecer o mercado.

Mesmo preocupada com a opinião de amigos e familiares, Fabíola Marineli Maceo, 40, dona de uma agência de publicidade em Campos do Jordão (SP), decidiu viajar com o marido e sócio, Marcelo Maceo, 42. “Para a gente, a principal questão foi a perda da liberdade durante o isolamento, uma sensação que se acumulou”, diz Marcelo.

A necessidade de adaptação à Covid-19 gerou um processo de estresse e sentimentos intensos, como angústia e medo, explica a psicóloga Denise Pará Diniz Romaldini, pesquisadora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

A decisão de viajar, diz ela, pode representar para algumas pessoas um resgate da autonomia e da liberdade de escolha perdidos com as restrições para combater o vírus.

Essa sensação, para quem viveu em confinamento nos últimos meses, é experimentada em caminhadas pela areia da praia, mergulhos no mar e refeições em família.

A percepção, porém, convive com lembretes de que a pandemia não acabou —encontrar o pote de álcool em gel no bar da piscina após um mergulho, por exemplo.

Se a estratégia para desestressar é viajar, ela não deve se tornar outra fonte de aborrecimento, diz Romaldini. “É preciso estar atento para gerenciar essa escolha.”

A jornalista viajou a convite do Transamerica Comandatuba


Veja dicas para viajar com segurança

  • Pesquise sobre as condições da epidemia no local que pretende visitar e avalie as condições de turismo permitidas pela região
  • Procure conhecer com antecedência o protocolo de segurança adotado pelo hotel ou agência; peça informações sobre como é feita a limpeza e sobre o treinamento de funcionários; caso fique mais seguro, opte por um estabelecimento que já conhece e dê preferência a locais com espaços ao ar livre
  • Cuidado para não contaminar o quarto ao chegar de uma viagem de avião; o recomendado é tirar a roupa e tomar banho antes de deitar na cama, por exemplo
  • Mantenha, durante a viagem, os mesmos cuidados individuais que tem em casa, como evitar levar a mão ao rosto, higienizar sempre as mãos e trocar a máscara quando estiver úmida; o distanciamento também deve ser observado
  • Pessoas que são parte do grupo de risco devem reavaliar a necessidade de fazer uma viagem; caso seja indispensável, podem optar por deslocamento de carro para lugares próximos, em que a interação aconteça apenas entre membros da família
  • No retorno da viagem, o ideal é que é fazer quarentena por ao menos duas semanas

Fontes: Marcia Harumi Miyazaki, coordenadora de desenvolvimento da área de hotelaria do Senac São Paulo; Tânia Chaves, membro da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) e professora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Pará

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