Descrição de chapéu pantanal

Pantanal retoma turismo após incêndios e grave estiagem

Resquícios da tragédia alteram paisagem, mas setor mantém passeios e celebra volta da vegetação

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Safari fluvial promovido pelo hotel Jungle Lodge, no Pantanal Divulgação

São Paulo

Considerada uma das maiores planícies alagadas do mundo, cuja beleza está justamente na paisagem coberta pelas águas durante boa parte do ano, o bioma Pantanal amargou, de 2020 para cá, uma estiagem recorde e incêndios, que devastaram cerca de 1/3 de sua área total.

Os danos à paisagem ainda são visíveis, mas o turismo na região está voltando com força, para alívio do setor.

Segundo Elisângela Sienna, diretora-presidente da Fundação de Turismo do Pantanal, vinculada à prefeitura de Corumbá (MS), município que é porta de entrada do chamado Pantanal Sul, o respeito rígido aos protocolos tem encorajado os turistas.

“A vacinação está muito adiantada e não temos nenhuma internação por Covid no momento. Estabelecemos códigos de conduta em parceria com a Anvisa, o que gera ainda mais confiança. Tanto que a procura pela pesca esportiva triplicou nos últimos meses”, diz Sienna.

O hotel Pantanal Jungle Lodge, localizado no Passo do Lontra, a 100 km da capital, teve os 21 apartamentos ocupados no feriadão de 7 de setembro. As diárias, com pensão completa, custam a partir de R$ 410 por pessoa.

Gerente-geral do hotel, Lucas Andrade também atribui a volta dos turistas à organização do setor hoteleiro, cujas brigadas de combate a incêndios, este ano, entraram em campo antes que as queimadas chegassem tão perto dos estabelecimentos.

“No ano passado, o fogo chegou a uns 100 metros do hotel. Não chegamos a fechar, mas a queda de público foi de 100% no primeiro semestre de 2020. Este ano, os focos de incêndio foram menores e combatidos a tempo”, conta.

O susto, em 2020, foi da mesma proporção no Pantanal Norte, onde fica o Sesc Pantanal. O complexo inclui o hotel Sesc Porto Cercado e o Parque Baía das Pedras, em Poconé, além da Reserva Particular do Patrimônio Natural Sesc Pantanal, a maior do país, localizada em Barão de Melgaço —dos 108 mil hectares, 93% foram queimados no ano passado.

Hotel Sesc Porto Cercado, no Pantanal - Jeferson Prado/Sesc Pantanal

Superintendente do Polo Socioambiental do Sesc Pantanal, Christiane Caetano não esquece o cenário de guerra que vivenciou por meses a fio.

“Depois que o incêndio foi controlado, as áreas verdes ficaram pretas e a fumaça permaneceu por mais de um mês em suspensão, não se enxergava um metro à frente”, recorda.

As chuvas voltaram devagar a partir de novembro, mas ninguém podia imaginar que, em janeiro, já haveria turistas de volta por ali.

“O Pantanal é resiliente, a vegetação ficou verde novamente muito rápido. Quando a gente entra na floresta, vê que as árvores mais altas não vão reviver, estão mortas, mas boa parte da paisagem está se recuperando”, diz Christiane.

Segundo o engenheiro florestal Vinícius Silgueiro, coordenador do Núcleo de Inteligência Territorial do Instituto Centro de Vida (ICV), a rápida capacidade de regeneração é uma das características da vegetação gramínea, as plantas baixinhas comuns no Pantanal. Mas é falsa a sensação de que todo o entorno se recuperou.

“Estudos mostram que o processo todo vai levar de três a quatro décadas. E ainda houve uma perda grande de animais, tanto pelo fogo quanto pela escassez de água e alimentos.”

Quem se aventurar a visitar o Pantanal ainda este ano vai ver resquícios da tragédia. No entorno do Sesc, diz Christiane, a seca prolongada deixa tudo ainda mais visível —e alguns passeios, que dependem da presença das águas, continuam suspensos.

É o caso do rio Cuiabá, cujo leito está muito baixo, impedindo o trânsito de barcos-hotéis, e dos passeios de canoa pelos corixos, braços de rios procurados para pesca recreativa.

Os passeios pelo cambarazal, área que fica totalmente alagada e permite navegação na altura das copas das árvores, também não aconteceram este ano porque não houve cheia.

Andrade, gerente do Pantanal Jungle Lodge, também admite que o safári terrestre oferecido pelo hotel não tem valido tanto a pena, já que o jipe se embrenha pela mata e revela pedaços do Pantanal do Abobral que ainda não se recuperaram. “A gente vê pontes queimadas e há menos animais do que o normal”, ele avisa.

Mas ainda há muito o que ver e vivenciar no Pantanal, encoraja Caetano.

A fachada do Jungle Lodge durante a temporada da cheia - Divulgação

“Pela estrada Transpantaneira, você vê claramente os efeitos do incêndio. Mas há muitas áreas que continuam bonitas e, logo que recomeçar a estação das chuvas, os passeios serão retomados”, garante a superintendente.

Com sete categorias de hospedagem, o hotel Sesc Porto Cercado, em Poconé, cobra diárias entre R$ 312 e R$ 558 por pessoa, em quartos duplos.

Entre os passeios mais concorridos, o hotel oferece cavalgada em animais pantaneiros, por trilhas e banhados, a R$ 35 por pessoa. Por enquanto, somente a Trilha da Vida no Parque Sesc Baía das Pedras está suspenso.

No Jungle Lodge, entre as atrações que resistiram à seca, fazem parte do pacote a pesca de piranha, o passeio de barco ao anoitecer, o safári fluvial, a flutuação no rio, os passeios a cavalo, a canoagem e o acampamento selvagem.

Aventureiros que quiserem experimentar de tudo pagam R$ 905 pela diária, por pessoa, com todas as atividades inclusas.

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