Descrição de chapéu férias férias de verão

Tel Aviv tem história, praias, rooftops descolados, diversidade e tolerância

Às margens do mar Mediterrâneo, cidade cosmopolita é espécie de ode ao hedonismo

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Mesquita do Mar, antigo templo dos pescadores da cidade, na cidade de Jaffa antiga Roberto de Oliveira/Folhapress

Tel Aviv

Seria um pecado ir a Israel e não conhecer Tel Aviv. A metrópole, que, para ultraortodoxos de diferentes matizes, evoca as bíblicas Sodoma e Gomorra, destruídas pela ira divina, é uma ensolarada cidade de noites quentes situada à beira do Mediterrâneo, uma ode ao hedonismo.

Lá casais de todos os tipos —héteros, gays e sem definição— passeiam seus corpos sarados no calçadão de 22 km. Com seus pets a tiracolo, desfilam tranquilos por entre cadeiras de praia, guarda-sóis e torres salva-vidas.

Orla da praia central de Tel Aviv - Roberto de Oliveira/Folhapress

À noite, aquela gente bronzeada vai para as ruas em busca de diversão. De domingo a domingo, Tel Aviv não dorme. De olhos abertos 24 horas por dia, sete dias por semana, a cidade é um convite aos encontros.

Guia de bares e baladas, Avital Levin, 28, leva turistas a shows de heavy metal, a rodadas de drinques em clima romântico ou a um lugarzinho simples onde se possa tomar um suco de romã para refrescar a quentura da madrugada.

"Você tem lugares chiques com vista de 360 graus dos telhados no 16º andar, assim como ambientes subterrâneos escondidos, secretos. É uma cidade que não para. Nem mesmo no shabat."

Dia sagrado para os judeus, o shabat começa com o pôr do sol da sexta e termina ao anoitecer do sábado. Na tradição judaica, esse é um dia dedicado ao descanso, ao recolhimento e à oração, mas Tel Aviv não se cansa e não para. "Somos uma cidade festeira, gay friendly, vegan friendly, cães friendly", diz Levin.

Da música eletrônica ao rock, o Rothschild Boulevard reúne clubes que atendem diferentes perfis. Muitos "inferninhos" costumam ter espetáculos de música ao vivo. Num mesmo espaço eclético, é possível encontrar três ambientes em sintonia.

Turista passeia na praia central de Tel Aviv, banhada pelo mar Mediterrâneo - Roberto de Oliveira/Folhapress

As ruas Ben Yehuda (nome do linguista que reconstruiu a língua hebraica no século 19) e Dizengoff vão de norte a sul e percorrem praticamente todo o centro, sendo a segunda, perto da esquina com a rua Frischmann, bastante animada.

Gostoso é explorá-las a pé e ir parando pelo caminho entre pubs e bares de coquetéis.

Sob a luz solar e sem o efeito dos drinques noturnos, dá para botar reparo na arquitetura Bauhaus, tão presente em Tel Aviv. São ao menos 4.000 construções, erguidas nos anos 1930 e 1940.

Esses prédios foram projetados por arquitetos imigrantes, saídos, sobretudo, da Alemanha, onde a escola de arte e design, que gerou uma abordagem revolucionária do design e da arquitetura, funcionou de 1919 a 1933, quando se tornou alvo da perseguição nazista.

Em 2003, a Unesco reconheceu o legado Bauhaus em Tel Aviv e declarou a "cidade branca" patrimônio mundial.

Uma metrópole com cerca de 400 mil habitantes, Tel Aviv naturalmente tem bairros com identidade própria, mas, mesmo assim, com características comuns entre si: em todos eles, muita gente, de idade variada, circula de bike e, sobretudo, de patinete elétrico, a febre do momento.

As vias planas que interligam os bairros favorecem o uso descontraído e saudável desses meios de locomoção.

O sol começa a se despedir, tingindo de dourado as ruas estreitas e os edifícios de pedra calcária da antiga Jaffa, e ainda faz um calor danado. Aos poucos, a brisa leve do Mediterrâneo se mistura ao ar quente da região, conhecida, em hebraico, como Yafo, lugar que, diz a Bíblia, foi fundado por Jafé, filho de Noé, após o dilúvio.

Praça Kedumim em Jaffa antiga - Roberto de Oliveira/Folhapress

A antiga região portuária, que, no século 18 a. C, foi morada de egípcios e, até a metade do século 20, recebeu ingleses, é hoje uma vitrine pulsante da boêmia e da diversidade em Israel. Lá se reúnem artistas, judeus, árabes e turistas de muitos lugares do planeta à procura de um refúgio à beira-mar.

Bares e restaurantes moderninhos, com mesas externas, pipocam pela animada rua Rabbi Yohanan, cujo nome remete a um importante rabino que viveu de 180 a 279 d.C., a quem geralmente se atribui a compilação do Talmude de Jerusalém.

Entre um boteco e outro, passam pelos olhos anfiteatro, museu, mercado de pulgas, mesquita, igreja, galerias de arte, praça. Jaffa, ou "Yafo", palavra que significa "bela", em hebraico, vai se descortinando e, aos poucos, nos ajuda a entender melhor a cosmopolita Tel Aviv.

Na manhã seguinte, surpresa: um padre reza missa em português no Mosteiro de São Nicolau, datado de 1667, onde são recebidos forasteiros e também a comunidade armênia de Jaffa.

Para se ter uma vista incrível da orla de Tel Aviv, o alto da Ponte dos Desejos é parada certeira. Diz a crença popular que será agraciado com a realização de um pedido aquele que o fizer quando, ao atravessar a ponte e, de olhos voltados para o mar, tocar a placa de bronze no corrimão na qual se insculpe a representação do seu signo zodiacal.

Jovens gostam de fazer um trocadilho que sintetiza o espírito das duas cidades mais importantes de Israel: "While Jerusalem prays, Tel Aviv plays" ("enquanto Jerusalém reza, Tel Aviv se diverte").

Não à toa, a cidade banhada pelo azul-turquesa do Mediterrâneo foi considerada um dos melhores lugares do mundo para pegar uma praia; na areia branquinha, garrafas de vidro são proibidas e, em breve, plásticos também o serão.

Foi ainda premiada como o melhor lugar de turismo gay do planeta. É comum ver penduradas nas janelas dos prédios bandeiras do arco-íris, símbolo da comunidade LGBTQIA+.

Elegante e cultural, o bairro Neve Tzedek é um oásis artístico no coração da cidade. As lojas, de decoração a alimentos, são pequeninas e aconchegantes, um convite para conferir de perto o que cada uma oferece. Como nem tudo é perfeito, é bom preparar o bolso, pois Tel Aviv é cara. Uma long neck artesanal não sai por menos de US$ 10, cerca de R$ 55 (US$ 1 = 3,58 shekels, a moeda local).

Casa florida no bairro de Neve Tzedek, um dos lugares mais descolados em Tel Aviv - Roberto de Oliveira/Folhapress

Neve Tzedek ganhou vida no final da década de 1880, quando um grupo de famílias judias que escapava da superpopulação do porto de Jaffa ali se instalou. Ainda hoje o local mantém o ar de vilarejo, com suas ruas estreitas, ladeadas por muros altos e uma mistura de estilos arquitetônicos.

Boa parte das janelas das casas, quando não toda a sua fachada, é enfeitada com flores coloridas. O bairro, que abriga também o Centro Suzanne Dellal de Dança e Teatro, passa por um programa intenso de reforma e restauração.

De repente, num atalho arborizado que parecia esquecido do mapa da agitação, lá está um café estiloso com assentos coloridos na calçada. No menu, 20 tipos de bebida: moca, machiatto, capuccino e muitas outras. Leite, por ali, só se for de amêndoas. Nada mais Tel Aviv.


O jornalista viajou a convite do Ministério de Turismo de Israel.

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