Descrição de chapéu Itália

Conheça a Basilicata, região italiana que une história, charme e penhascos

Um dos lugares menos visitados do país, área traz vilarejos esquecidos e paisagens que parecem de outro planeta

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Potenza (Itália)

A julgar pelas estatísticas, a Basilicata é uma das regiões italianas com menos apelo aos estrangeiros. É a penúltima da Itália em volume anual de turistas do exterior —atrás dela, só Molise.

A não ser pela cidade de Matera, conhecida por suas casas encravadas em pedras, inclusive um hotel, quase nada dali costuma aparecer em guias internacionais sobre a Itália. O que é um bocado surpreendente quando se visita a região, já que ela reúne algumas das paisagens naturais mais inusitadas do país, além de cidadezinhas adoráveis e praias relaxantes.

A cidade de Matera, que é a principal atração da região da Basilicata, na Itália
A cidade de Matera, que é a principal atração da região da Basilicata, na Itália - Nadia Shira Cohen/The New York Times

Localizada no sul da península itálica, a Basilicata fazia parte no passado de uma área conhecida por Lucânia. Caracteriza-se por pictóricas áreas montanhosas no interior e, no litoral, balneários banhados por dois mares diferentes.

Na curta faixa que dá para o mar Tirreno, a oeste, destaca-se a graciosa Maratea. Na parte à beira do mar Jônico, ao sul, sobressaem-se cidades como Policoro e Metaponto — esta última, abrigando ruínas da época em que a cidade foi colonizada pelos gregos, no séc. 7º a.C.

O trecho jônico é mais extenso, com praias agradáveis, mas que não trazem nada de incomum. Já a faixa tirrena é puro charme. Maratea tem um envolvente centro antigo no topo de uma montanha, de onde, por um lado, se pode ver a praia banhada por um mar esplendorosamente azul, emoldurado por rochedos, e, por outro, no ponto mais alto, uma imagem de Jesus Cristo.

Sim, a cidade tem no cume da montanha um Cristo Redentor inspirado na do Rio de Janeiro, embora com outro design e menor em escala.

A existência do Redentor contradiz, de certa forma, um antigo ditado local, que diz: "Cristo parou em Eboli". A frase faz referência à miséria e ao abandono da região até metade do século 20: Eboli era a última parada da linha de trem, ainda na região da Campânia, e os locais diziam que Jesus havia desembarcado ali e deixado o resto do sul da Itália à própria sorte.

O escritor Carlo Levi, aliás, escolheu esse ditado como título para o seu mais famoso livro, lançado nos anos 1940, talvez a obra literária que melhor descreva a região.

Em 1979, o cineasta Francesco Rosi adaptou o romance, e imortalizou em seu filme várias das paisagens lucanas. O grande destaque fica para Craco, cidade majestosamente localizada no topo de um morro, mas que após séculos de miséria, terremotos e deslizamentos, acabou por se tornar um vilarejo fantasma.

Desde os anos 1980, ninguém mora ali, mas a estrutura da cidade permanece, ilhada em meio a uma paisagem árida, de pedras calcárias com silhuetas curvilíneas.

Com o tempo, as casas de Craco sofreram danos, o que impediu a presença de turistas por alguns anos, mas desde o último mês de março o burgo voltou a receber visitantes.

O problema é conseguir chegar lá. Há, sim, ônibus de excursões, mas o transporte público —como no sul da Itália, em geral— é deficiente. É possível contratar o serviço de motoristas particulares nas cidades praianas por preços relativamente em conta para conhecer o antigo povoado.

"Muitas vezes, chego a ir ao aeroporto de Bari, na região da Apúlia, para trazer turistas para cá", diz o motorista Osvaldo Melidoro, que ganha a vida transportando pessoas Basilicata adentro. Ele acaba sendo uma espécie de guia —conhece muito os vilarejos e as preciosidades mais recônditas, como os desfiladeiros de Montalbano, que sugerem a paisagem de algum outro planeta.

Mais ao norte fica Potenza, capital e maior centro urbano da Basilicata. Íngreme, a "cidade das escadarias" também conta com uma curiosa rede de escadas rolantes que fazem as vezes de funiculares e ajudam os locais a circular. No ponto mais alto, o centro antigo compensa o aspecto rotineiro e funcional da parte baixa: tem lojinhas e restaurantes espraiados pelas ruas de pedras, prédios históricos muito bem preservados e belas vistas panorâmicas.

A província de Potenza tem alguns dos burgos mais populares no turismo interno local, como Venosa, Acerenza e Melfi. Mais perto ainda da capital, a diminuta Pietragalla traz um diferencial: preserva uma série de estruturas conhecidas como "palmenti" —pequenas casas onde os locais produziam vinho no século 19. Há cerca de 200 delas em um parque na entrada do vilarejo, mas só uma ainda funciona.

"São como se fossem grutas escavadas no solo, com tanques internos onde uvas eram pisadas e onde havia a fermentação do mosto", diz Rocchina D’Amico, que gerencia a cooperativa turística Pietragalla Experience. Quem visita a cidade não pode deixar de provar o vinho local, o Terre di Acquaviva, ainda hoje produzido à moda antiga.

Um pouco mais ao sul fica um dos lugares mais impressionantes da Basilicata: os Dolomiti Lucane, uma cadeia montanhosa pontiaguda que parece esculpida a mão —lembra alguns dos igualmente fálicos pontos dos Dolomiti mais famosos, localizados no norte.

É difícil saber se é mais bonita vista da cidade de Castelmezzano ou da que fica do outro lado, Pietrapertosa. O Volo dell’Angelo é um passeio em uma tirolesa que liga as duas cidades, permitindo momentos de adrenalina enquanto se observa uma vista estonteante. Apesar de pacata e quase isolada, a Basilicata é capaz de oferecer alta voltagem.

Como chegar

Saindo de Roma, ônibus vão diretamente a Potenza ou Matera. Há poucos trens diretos até Potenza —em geral, é preciso fazer baldeação em Nápoles

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