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Turistas enfrentam dilema ético após terremoto no Marrocos; veja como proceder

Moradores defendem continuidade do turismo por motivos econômicos

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Ceylan Yeginsu
The New York Times

Alguns dos destinos turísticos mais populares do planeta - Turquia, Grécia, Havaí e, agora, Marrocos - foram atingidos por desastres este ano, com terremotos, incêndios florestais e inundações que arrasaram cidades e aldeias inteiras, matando moradores e destruindo ou danificando monumentos culturais.

A série de eventos catastróficos fez com que muitos turistas tivessem de encarar um dilema sobre como reagir. Aqueles que já estão em um país quando este é atingido por um desastre precisam decidir se devem ficar ou partir. Aqueles que têm viagens programadas se perguntam se devem cancelá-las. Será que eles, e as receitas que geram, podem mesmo ajudar, ou serão um fardo? Até que ponto é apropriado permitir que o turismo continue enquanto um país ainda está em luto coletivo e esforços de resgate estão em andamento?

. - Jarbas Oliveira/Folhapress

Não há respostas fáceis, dizem os especialistas em viagens. O impacto de cada desastre é único e, embora os viajantes sejam aconselhados a seguir as orientações das autoridades governamentais depois de eventos como esses, as comunidades locais nem sempre concordam quanto à melhor forma de agir.

Depois que os incêndios florestais de Maui destruíram grande parte da cidade de Lahaina em agosto, matando pelo menos 115 pessoas, os residentes da ilha, que depende do dinheiro dos turistas, entraram em conflito sobre a decisão de permitir que o turismo continuasse enquanto os habitantes locais lamentavam tudo aquilo que foi perdido.

No Marrocos, porém, onde um forte terremoto de magnitude 6,8 atingiu os Montes Atlas, a sudoeste de Marrakech, em 14 de setembro, matando milhares de pessoas, há uma perspectiva mais coesa. Com a alta temporada de turismo em andamento e a maior parte da destruição afetando áreas rurais distantes dos pontos turísticos, muitos moradores locais desejam que os visitantes estrangeiros continuem chegando, para que possam apoiar a economia e trazer fundos para os esforços de socorro.

"Depois da Covid-19, o abandono dos turistas seria terrível para Marrakech, onde tantos recursos vêm do turismo", disse Mouna Anajjar, editora-chefe da I Came for Couscous, uma revista local. "Direta ou indiretamente, todos os habitantes estão ligados a esse recurso e seriam afetados de forma terrível".

Abaixo, eis as questões sobre as quais viajantes que estão diante da perspectiva de visitar um país onde houve devastação devem pensar.

O local está aberto para o turismo?

Verifique as orientações oficiais do governo e as reportagens da mídia local para avaliar a situação na área. Quando incêndios florestais mortíferos varreram partes de Maui no mês passado, as autoridades locais pediram aos turistas que ficassem em casa. Até o momento, o governo marroquino se limitou a divulgar declarações sobre a situação dos esforços de resgate, e o serviço de turismo do país não respondeu avárias solicitações de comentários.

A secretaria do Exterior do Reino Unido aconselhou os cidadãos britânicos que planejam viajar para o país a verificar com seus organizadores de excursões sobre quaisquer dificuldades quanto aos planos.

Embora o Departamento de Estado dos EUA não tenha alterado sua recomendação quanto a viagens ao Marrocos, é uma boa ideia verificar o site do departamento antes de viajar para qualquer país que tenha sido atingido por um desastre.

Sala do hotel Grand Riad Mansour, em Marrocos
Sala do hotel Grand Riad Mansour, em Marrocos - Divulgação

Determine exatamente onde ocorreu o desastre e que áreas foram afetadas. Quando a Grécia foi devastada por incêndios florestais em julho e milhares de visitantes foram evacuados das ilhas de Rodes e Corfu, muitos turistas cancelaram suas férias, mesmo aqueles que viajariam para áreas não afetadas. O ministro do Turismo grego divulgou uma resposta, destacando que a maior parte do país, incluindo partes das ilhas afetadas, permanecia segura para os turistas.

Quando o terremoto atingiu o Marrocos, em 8 de setembro, o tremor foi sentido em muitos destinos turísticos populares, incluindo Marrakech e as cidades de Imsouane e Essaouira, mas a maior parte dos danos está concentrada perto do epicentro, na província de Al Haouz.

Imediatamente após o terremoto, a maioria das excursões ao Marrocos foi cancelada, enquanto operadoras de turismo se esforçavam para fazer avaliações críticas de segurança, certificando-se de que todos os seus clientes e membros de suas equipes estivessem em segurança e que os turistas não estivessem prejudicando os esforços de resgate.

Mas agora, depois de constatar que os danos estão localizados em áreas rurais e seguindo as orientações do governo marroquino, a maioria das excursões está de volta, com alguns itinerários alterados. Os hotéis em geral não foram afetados, de acordo com a associação de hotéis do Marrocos.

"Há áreas dentro da medina [cidade histórica] de Marrakech que foram danificadas, alguns monumentos históricos estão fechados, mas a maioria das áreas dentro das cidades está totalmente OK para ser visitada", disse Zina Bencheikh, diretora executiva de operações da Intrepid Travel na Europa, Oriente Médio e África, que nasceu em Marrakech. "A maior parte do país está aberta, com aeroportos, escolas, hotéis, lojas e restaurantes funcionando normalmente apesar do choque do incidente".

A Intrepid Travel tinha 600 clientes no Marrocos na noite do terremoto, e apenas 17 interromperam suas viagens. A TUI, a maior operadora de viagens da Europa, disse que alguns de seus itinerários estavam sendo revisados, mas que a maioria de seus clientes havia decidido permanecer no país depois que a empresa realizou inspeções de segurança e optou por apoiar a decisão de manter o Marrocos aberto para o turismo.

Como turista, serei um fardo para as comunidades locais?

Quando um terremoto de magnitude 7,8 atingiu o sul da Turquia em fevereiro, a Turkish Airlines, a companhia nacional de aviação do país, cancelou dezenas de voos em território turco a fim de liberar recursos para os esforços de resgate. Durante os incêndios florestais em Maui, as companhias de aviação também cancelaram voos para o Havaí para que os aviões pudessem ser usados no transporte de turistas de volta ao continente. A maior parte de West Maui ainda está fechada para turistas, mas a expectativa é de que seja reaberta em 8 de outubro.

No Marrocos, o acesso às áreas mais atingidas nos Montes Atlas continua restrito, enquanto os esforços de resgate prosseguem, e o conselho para os turistas é que não entrem nessas áreas. Mas em outras áreas do país, que não foram afetadas, as atividades turísticas são incentivadas.

Hafida Hdoubane, uma guia baseada em Marrakech que conduz visitantes em excursões de caminhada e trekking, incentivou os visitantes a irem, argumentando que o perigo do terremoto já havia passado há muito tempo e que as autoridades de Marrakech estavam isolando cuidadosamente todas as edificações que apresentavam sinais de danos.

Ela disse que os turistas que entraram em contato para cancelar suas expedições se sentiam desconfortáveis com a ideia de passar férias em um país que tinha acabado de sofrer tamanha devastação, mas que os habitantes locais não compartilhavam dessa opinião. "Acho que é melhor vir e mostrar que a vida continua", ela disse. "O que um turista de montanha pode fazer para ajudar é vir, mostrar que está aqui e que é solidário".

Devo mudar meu comportamento?

A maioria dos moradores locais não espera que os visitantes o façam, mas é importante ser receptivo e estar atento ao clima ao seu redor.

Ángel Esquinas, diretor regional do Barceló Hotel Group, que tem propriedades em Marrakech, Casablanca e Fez, disse que não havia necessidade imediata de os turistas encurtarem suas viagens, a menos que achassem necessário.

"É absolutamente aceitável que os turistas continuem com suas atividades planejadas, como participar de excursões, relaxar na piscina ou aproveitar a vida noturna. O Marrocos continua sendo um destino vibrante e acolhedor", ele disse. "No entanto, incentivamos os visitantes a estarem atentos àquilo que os cerca e a respeitarem as circunstâncias específicas das comunidades locais. É importante encontrar um equilíbrio entre apoiar a economia local e não sobrecarregar a comunidade".

O que posso fazer para ajudar?

Visitar um país pode ser um grande apoio aos esforços de socorro em caso de desastres, pois muitos habitantes locais dependem da receita do turismo para sua subsistência. No Marrocos, o turismo é responsável por 7,1% do Produto Interno Bruto (PIB) e é uma fonte de renda crucial para as famílias de baixa e média renda. Muitos restaurantes e hotéis iniciaram campanhas de arrecadação de fundos para ajudar seus funcionários e as famílias deles nas áreas mais afetadas.

Você pode doar dinheiro para algumas das organizações assistenciais, como a Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho, que estão respondendo ao desastre. E a Intrepid Foundation, a instituição de caridade da empresa de viagens, criou uma campanha de apoio às vítimas do terremoto no Marrocos, para apoiar os esforços de fornecimento de alimentos, abrigo, água potável e assistência médica às comunidades locais.

No Havaí, a Hawaii Community Foundation continua a administrar um fundo de apoio às necessidades de longo prazo das pessoas afetadas pelos incêndios florestais.

Se você é um turista que já está em um país que foi atingido por um desastre, considere a possibilidade de doar sangue em bancos de sangue locais, que frequentemente são estabelecidos pelas autoridades depois de desastres naturais.

Tradução de Paulo Migliacci

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