Morretes, no Paraná, é boa opção para descansar ou se aventurar pela natureza

Pequeno município fica em reserva da Mata Atlântica e pode ser acessada por carro ou trem

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Morretes (PR)

Em viagens, como na vida, algumas das melhores coisas acontecem de surpresa. Um pequeno desvio de rota pode significar uma grande descoberta, daquelas que ficarão conosco para sempre. A descoberta de Morretes, pequena cidade histórica do Paraná, a 70 km de Curitiba e 410 km de São Paulo, certamente é uma delas.

Portal de entrada da estrada da Graciosa, que liga Morretes a Curitiba (PR)
Portal de entrada da estrada da Graciosa, que liga Morretes a Curitiba (PR) - Wikimedia Commons

O leitor irá me perdoar pelo uso da primeira pessoa. O relato em forma de crônica se justificará, espero, ao longo dos próximos parágrafos. Acredito ser a melhor maneira de registrar a dupla descoberta: de Morretes e de algo pessoal na cidade.

Numa das muitas viagens feitas de carro entre Porto Alegre e São Paulo, ida e volta, pensei em percorrer o trajeto da Estrada da Graciosa até Paranaguá, pois sempre fui atraído pelas placas que o indicavam no percurso da rodovia Régis Bittencourt, entre Curitiba e a divisa do Paraná com São Paulo.

Um amigo me deu a dica: Paranaguá é legal, mas é também uma cidade maior, menos turística. Mais bacanas para conhecer são as cidades históricas de Morretes e Antonina, que ficam no caminho. Aliás, a Estrada da Graciosa termina em Antonina, antes de Paranaguá.

As três cidades ficam dentro da Grande Reserva da Mata Atlântica, na Serra do Mar, que ocupa boa parte dos estados de Paraná e São Paulo, além de trechos de Santa Catarina.

Pesquisando sobre elas, minha esposa, que me acompanhou em algumas das viagens, descobriu que Morretes é preparada para receber turistas, e nela há uma hospedaria antiga chamada Hotel Nhundiaquara, na beira do rio de mesmo nome, que funciona desde 1945 e que antes disso havia sido cassino, escola, fábrica de meias e até um centro espírita.

No site do hotel, existe uma "História da Família Alpendre". Como assim? Desconhecia a existência de parentes em Morretes, ainda mais com esse pendor histórico, embora ciente de que na capital paranaense há um ramo distante da família. A curiosidade aumentou.

Os sites de reservas davam como esgotadas as vagas nesse hotel histórico. Lá, contudo, descobrimos que alguns quartos mais antigos estavam vagos. Ficamos num quarto de pé direito alto, com vista para o belo rio Nhumdiaquara.

Que o leitor não entenda o relato como uma propaganda do hotel. Existem outros na cidade, presumivelmente tão bons quanto este. Fomos atraídos a ele primeiramente pela história, depois pela história da família. Foi, portanto, uma opção bem pessoal. Daí o uso da primeira pessoa.

Montando base em Morretes, cidade fundada em 1733, atualmente com cerca de 17 mil habitantes, dá para ir a Antonina e a Paranaguá com facilidade e rapidez. Morretes, portanto, é também um ponto estratégico para conhecer a região.

Antes, porém, foi necessário encarar a Estrada da Graciosa, com suas curvas desafiadoras, a lama causada pelas obras em sua extensão, os belos paralelepípedos, as vistas da Serra do Mar.

Já é uma experiência por si só inesquecível. Mas tivemos sorte de passar por ela antes de a chuva chegar. Não me parece um caminho viável após algumas gotas de chuva, a lama das obras se misturando à que escorre das encostas.

Passeio de trem Serra do Mar, feito pela Serra do Mar Express, entre Curitiba e Morretes
Passeio de trem Serra do Mar, feito pela Serra do Mar Express, entre Curitiba e Morretes - Divulgação

Não é o único caminho possível. Existem outras estradas para quem estiver de carro, e um atraente passeio de trem, que sai de Curitiba em direção a Morretes, numa viagem que dura mais de quatro horas.

Em conversa com o atual dono do Hotel Nhundiaquara, primo de algum grau distante, ele me mostrou uma árvore genealógica que encomendou de um historiador. Nessa árvore, espalhada por um longo rolo panorâmico, o ramo que eu conhecia da família estava isolado, no canto inferior esquerdo.

Completei algumas lacunas desse ramo com um lápis e descobri que a raiz do sobrenome, provavelmente, vem da matriarca, Maria da Glória, que gostava de se sentar ao alpendre de sua casa na Guarda, em Portugal. Foi como um passeio até o início do século 19 e às origens do sobrenome Alpendre.

Apesar da chuva que caía fraca e incessantemente pela cidade, conseguimos conhecer bem Morretes, seu ar romântico, a beleza dos casarões à beira do rio, a Ponte Velha, a estação ferroviária, o charme das mesas embaixo das árvores, em suma, cartões postais de uma belíssima cidade, que se estivesse na Europa receberia milhares de turistas por dia.

As opções de almoço são vastas. Quase todos os casarões do centro, à beira do rio, incluindo o do hotel, viraram restaurantes, onde se come o prato típico da região, o barreado. Basicamente, é um punhado de carne bovina cozida por oito horas ou mais e misturada à goma de farinha de mandioca.

A apresentação do prato é uma performance, em que o garçom faz a mistura e praticamente vira o prato em cima de nossas cabeças, provocando algum susto, atenuado pela segurança com que executa os movimentos.

Nada acontece. A comida adere ao prato com impressionante firmeza. Penso que a maçaroca vai grudar no estômago também, mas após um tempo tudo se harmoniza e podemos saborear um ótimo prato enquanto observamos as gotas da chuva ondulando o reflexo no rio.

Podemos misturar a carne com arroz também. Fica uma delícia. E saborear os frutos do mar que são servidos no conjunto. É uma ótima experiência.

Após o almoço, várias opções se oferecem. Uma delas é dar uma volta na beira do rio, atravessando pelas duas pontes, a velha e a nova, que limitam o centro da cidade. A beleza da cidade se revela então de vários ângulos, sejam quais forem as condições meteorológicas.

Outra é se aventurar pelos diversos parques e trilhas na região, incluindo as do Parque Estadual Pico do Marumbi e as do Parque Estadual do Pau Oco, de onde se tem belas vistas da região, incluindo algumas cachoeiras belíssimas.

Passar de três a cinco dias em Morretes, com ou sem visitas a Antonina ou Paranaguá, é uma excelente opção de férias, seja para descansar ou contemplar belezas naturais e históricas, seja para se aventurar pela natureza ou ter um frio na espinha com a apresentação do barreado.

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