Bares e restaurantes de São Paulo driblam a falta d'água
Já imaginou ter de tomar a cervejinha do happy hour num copo de plástico?
Para os frequentadores da pizzaria Nova Bella, na zona norte da capital paulista, é essa a realidade há 20 dias.
A alternativa é uma dentre várias outras utilizadas por 13 bares e restaurantes ouvidos pela Folha nas cinco regiões da cidade, que têm tentado driblar a falta d'água.
Davi Ribeiro/Folhapress | ||
Funcionário enche caixa d'água do restaurante Mocotó com galões de água mineral |
A Nova Bella optou por servir bebidas aos clientes em copos de plástico numa noite em que as torneiras secaram e a louça se acumulou na pia. "Só não trocamos os talheres [por de plástico] porque quebram quando precisa cortar carne", diz o gerente Cléber de Carvalho.
Perto dali, o Acarajé da Dona Inês diz sofrer com a falta d'água diariamente após às 17h. Os garçons foram orientados a perguntar ao cliente se os pratos e os talheres do segundo pedido podem ser os mesmos usados no primeiro.
Na mesma vizinhança, o restaurante Mocotó, do chef Rodrigo Oliveira, também precisou se adequar à crise.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
Eles trocaram todas as torneiras por válvulas automáticas que reduzem a pressão e a saída da água. "Só com isso, reduzimos o gasto em 15%", conta Ricardo Lima, gestor administrativo de lá.
Mas não foi suficiente, a casa teve de encher a caixa d'água com 50 galões de 20 litros de água mineral. "Era isso ou fechar e, fechar, nem pensar."
Na tentativa de minimizar ainda mais o problema, o restaurante pretende construir uma cisterna (depósito, abaixo do nível da terra, para receber e conservar água da chuva) capaz de armazenar 20 mil litros no terreno ao lado.
Nos Jardins, o Micaela e o Tordesilhas também estão economizando. No primeiro, um balde recolhe o vapor do forno combinado, que rende cerca de 20 litros de água, para depois lavarem o chão.
No segundo, água do banho-maria e da lavagem de legumes é reutilizada na rega das plantas do jardim.
O La Frontera, em Higienópolis, que servia água filtrada como cortesia, suspendeu o agrado no último sábado, segundo eles, porque a "água da torneira está vindo suja".
Outros nove restaurantes com quem a Folha conversou mantiveram a cortesia. Os 23 estabelecimentos consultados dizem não ter repassado os prejuízos aos clientes.
ALERTA
O D.O.M, de Alex Atala, na região oeste, implementou um sistema criado por eletricistas da casa que produz um alerta visual quando o nível da caixa d'água cai demais.
É o sinal que precisam para pedir um caminhão-pipa.
A contratação desse tipo de serviço, com 15 mil litros de água, custa, hoje, em torno de R$ 800. "Há quatro, cinco meses, não passava de R$ 300", diz André Mifano, chef do Vito, em Pinheiros.
"Você começa o dia já devendo", diz ele, que prefere pagar o caminhão a não abrir. Desde junho, no entanto, foi obrigado a fechar seis vezes por não encontrar caminhão-pipa disponível. "São 70 couverts a R$ 100 cada no jantar, é uma graninha que se perde."
A reclamação geral dos locais consultados pela Folha é a falta de informação sobre os dias em que faltará água.
"Se dizem que tem racionamento, a gente se prepara", diz Rodrigo, gerente do restaurante Tantra, no Tatuapé, que há 15 dias conta com uma caixa d'água extra, para receber água não potável de caminhões-pipa mais baratos.
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