crítica
Técnica eleva receitas clássicas no Valero, restaurante no Jockey Club
Gladstone Campos/Divulgação | ||
Salão, no Jockey Club, com ar nostálgico e piso dos anos 1970 |
Vamos à cena que embala a refeição -às vezes vale a pena se deter aos detalhes.
O salão do novo Valero, no Jockey, tem ar nostálgico e uma elegância de antigamente. Pé-direito alto, cadeiras estofadas, piso de madeira maciça, louças Vista Alegre, pratarias restauradas.
É nesse cenário que o francês Pascal Valero (ex-Le Coq Hardy e Kaá) mostra seu talento. No cardápio de acento francês, com interferências da Itália, surgem pratos que o acompanham ao longo da estrada, de execução precisa.
Serve de exemplo a coxa de pato feita na gordura da ave (R$ 75), com pele crocante e interior úmido, pujante.
Gladstone Campos/Divulgação | ||
Coxa de pato com batata sautée, do chef Pascal Valero |
Valero é capaz de valorizar, com simplicidade, o sabor dos cogumelos-de-paris que acompanham a pescada-amarela (R$ 64). Eles aparecem em finas fatias e em um purê, que preserva pequenos pedaços, combinado com um creme delicado, feito à base da água do cozimento do próprio cogumelo, o que acentua o sabor do ingrediente.
Também se sai bem sua versão do espaguete à carbonara (R$ 46), sob um ovo pochê -ao ser rompido, a gema escorre e se infiltra na massa. Ressalva para a doçura que ronda o prato, quiçá vinda da cebola caramelizada que o chef acrescentou à receita.
As entradas mereciam mais vigor. O ceviche (R$ 34) com maçã-verde, por exemplo, é mais uma marinada. Falta "punch" no preparo, que dispensa caldo de peixe e mantém o coentro e a pimenta quase ocultos. É suave e bem-feito, mas, vendido como ceviche, fica devendo.
O steak tartare (R$ 33 o pequeno) também carece de potência. Tem tempero brando, no qual pouco aparecem mostarda, tabasco e molho inglês.
Sobremesas contribuem para um final feliz. Além de clássicos como mil-folhas, há uma musse de chocolate levemente amargo, com cobertura, sobre base crocante e pasta de avelã (R$ 22).
Pontos baixos: carta de vinhos com poucas opções em taça e serviço despreparado. Garçons repetem a torto e a direito que os pratos são ótimos-e-isso-e-aquilo e não há constrangimento em descrevê-los como bem entendem, em nada conectados à realidade. Caso da geleia de mirtilo servida com paleta de cordeiro que vira "de damasco" e da marinada do ceviche, apresentada como um "molho de cogumelos".
Aos fins de semana, a casa, com vista para a pista verdejante, serve brunch a R$ 98.
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