Pilotos da Air France receberam informações erradas de equipamento
Pilotos mal treinados foram os principais responsáveis pela queda do Airbus da Air France no oceano Atlântico em 31 de maio de 2009, diz o relatório final de investigação sobre o acidente.
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Na ocasião, as 228 pessoas a bordo morreram. O voo 447 fazia o trajeto Rio-Paris.
Divulgado ontem em Paris, o documento sustenta que os pilotos não souberam reagir a uma série de falhas do avião, a primeira delas o congelamento das sondas pitot, que fornecem a velocidade e a altitude da aeronave.
O problema fez o piloto automático se desconectar sozinho; os pilotos assumiram manualmente o avião, que começou a perder sustentação e, em menos de quatro minutos, caiu no mar.
Com intervenção adequada da tripulação, essas falhas não derrubariam o avião, diz o relatório, elaborado pelo BEA (Birô de Investigações e Análises), órgão do governo francês que apurou o caso.
O erro dos pilotos, por sua vez, foi consequência de um treinamento deficiente pela Air France, diz o relatório. Eles não haviam sido treinados para manejar o avião manualmente em grandes altitudes, quando o avião voa normalmente no automático. A companhia diz que a sua tripulação estava treinada.
CONVERSAS
A descrição das conversas da cabine revela que as informações desencontradas sobre velocidade e altura deixaram os pilotos perdidos.
No escuro e sob tempestade, não sabiam nem se o avião subia ou caía. Para tentar corrigir, colocavam o avião para cima e para baixo.
Um exemplo da tensão ali: por sete vezes, comandante e copiloto moveram o sidestick (espécie de joystick que controla os movimentos do Airbus) em direções distintas.
A quatro segundos de cair no mar, o copiloto diz: "Vamos bater. Não pode ser verdade... mas está ocorrendo". Os passageiros não foram informados de nada e possivelmente não notaram a queda.
FALHA ELETRÔNICA
O relatório também menciona que a tripulação foi induzida a erro por uma falha eletrônica de um equipamento chamado "diretor de voo".
O equipamento mandou o piloto subir quando o correto seria descer; essa manobra fez o avião perder a sustentação que lhe permite voar.
O BEA não destacou isso ontem. Foi um consultor de uma associação de famílias das vítimas, o piloto da Air France Gerrard Arnoux, quem trouxe o tema à tona.
"O BEA minimizou de propósito o aspecto tecnológico e nos desinformou quando deveria dar explicações", disse Daniele Lamy, presidente de uma associação francesa de parentes de passageiros. O principal sindicato de pilotos franceses diz que a falha explica a sucessão de erros.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
SUSPEITA
Por trás do questionamento está a suspeita de que o BEA tenha tentado proteger a Air France e principalmente a Airbus, da qual o governo francês é um dos donos.
O órgão diz ter agido com imparcialidade. Afirmou ainda que um desastre se dá por uma série de fatores, não um.
O relatório não tem função de responsabilizar criminalmente ninguém; a intenção é propor melhorias para evitar novas tragédias.
Na Justiça francesa há apuração para definir responsabilidades penais. Air France e Airbus foram indiciadas sob suspeita de homicídio não intencional.
A Airbus disse que tomará todas as medidas para melhorar a segurança aérea.
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