Com doença 'esquecida', pernambucano fica 20 anos sem tratamento
Aos 44 anos, um ambulante pernambucano passou metade da vida sem buscar tratamento médico porque desconhecia a filariose, doença parasitária que, no Brasil, só é considerada endêmica em algumas áreas da região metropolitana de Recife.
Áreas pobres do país ainda sofrem com doenças 'esquecidas'
Análise: É preciso mais recursos para diagnósticos e tratamentos
Assim como a filariose, outras doenças como tracoma, hanseníase, esquistossomose, leishmaniose, doença de Chagas e geohelmintíases estão esquecidas, mas ainda fazem vítimas no país. Elas são classificadas pelo Ministério da Saúde como doenças negligenciadas ou, ainda, doenças transmissíveis relacionadas com a pobreza.
O ambulante pernambucano, que pediu para ser identificado apenas como João, achava que as dores e o inchaço progressivo de uma das pernas, consequências da infecção, eram problemas "de circulação".
"Eu tomava remédio por conta própria", disse. "Era menino novo e só pensava em sair, beber e ir à praia", afirmou. "Quando sentia dor, tomava logo um analgésico."
Segundo ele, amigos ainda o alertaram para a possibilidade de ele ter contraído filariose, mas João só decidiu procurar um médico por insistência da mulher.
"Ela me levou duas vezes para o posto de saúde", disse. "Na primeira vez, eu não me liguei e tomei umas em cima do remédio. O tratamento foi-se embora", declarou.
Com a perna cada vez mais inchada, João voltou ao posto uma semana antes do Natal. E disse que agora "é para valer". "Eu ainda sou um cabra novo para ficar assim", afirmou. "Quero me tratar e fazer uma cirurgia na perna."
CASOS REGISTRADOS
O Programa Sanar, de enfrentamento das doenças negligenciadas da Secretaria Estadual de Saúde, registrou 304 casos de filariose no Estado nos últimos cinco anos, sem ocorrência de mortes.
O número de infectados, entretanto, vem caindo ano a ano, e a previsão da secretaria é que a doença esteja controlada a partir de 2015.
Em 2008, foram constatados 177 casos, o equivalente a 0,11% do total de pessoas examinadas. Este ano, só foram confirmados cinco casos, em 140 mil exames.
Segundo o coordenador do programa, José Alexandre Menezes, para que a doença seja considerada sob controle é preciso também reduzir a presença do vetor.
Transmitida pela picada do pernilongo comum infectado, a filariose está restrita a algumas áreas de Paulista, Olinda, Recife e Jaboatão dos Guararapes em Pernambuco.
A doença pode levar anos para se manifestar. Além do inchaço nas pernas, nos testículos ou nas mamas --no caso das mulheres--, os pacientes podem sofrer ainda com infecções na pele.
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