Acusação diz que defesa quer confundir jurados do caso Mércia
A equipe responsável pela acusação no julgamento do ex-policial e advogado Mizael Bispo de Souza afirmou nesta segunda-feira, ao término do primeiro dia de júri, que a defesa está tentando confundir testemunhas e jurados. O dia foi marcado por provocações e discussões entre as duas partes.
Assista ao julgamento do ex-PM ao vivo
Ligações contradizem versão de Mizael, diz testemunha
Alga em sapato de Mizael é a mesma de represa de SP
Mizael perseguia Mércia, diz testemunha e irmão da vítima
Discussão faz juiz pedir suspensão da transmissão do júri
"Me parece que a defesa adotou a tática de confundir as testemunhas", afirmou o advogado Alexandre de Sá Domingues, contratado pela família da vítima, Mércia Nakashima, e assistente da acusação. Já o promotor Rodrigo Merli Antunes disse que a defesa também tenta "tirar a calma" da equipe de acusação.
"Eles só precisam das duvidas dos jurados. Estou achando que nos tirar do sério é uma estratégia deles", afirmou Antunes, que acrescentou, em tom humorado, que pretende tomar calmante hoje para se preparar para o segundo dia de julgamento.
Já próximo ao término do primeiro dia de julgamento, durante o depoimento do engenheiro Eduardo Amato Tolezani, a defesa e a acusação discutiram devido às insistentes perguntas da defesa que confundia os sinais de recepção de celular e os sinais das antenas da empresa de telefonia.
Nesse momento, o promotor disse ao advogado de defesa "não seja tão ignorante, doutor", o que provocou uma discussão. A defesa então sugeriu que as câmeras de transmissão do júri fossem ligadas. Com isso, o promotor disse, irritado, "você acha que eu tenho medinho de câmera".
Apenas o depoimento do engenheiro não foi transmitido ao vivo, a pedido dele.
TESTEMUNHAS
A última testemunha a ser ouvida foi o engenheiro Eduardo Amato Tolezani, que afirmou que que a versão de Mizael de que estava estacionado no Hospital Geral de Guarulhos (na Grande São Paulo) na hora da morte de Mércia não é possível, de acordo com os registros telefônicos do celular dele.
Mizael havia dito durante as investigações que estava com uma prostituta, em seu carro, na noite do crime. O engenheiro, no entanto, cruzou as informações enviadas pela operadora de telefonia Oi com os dados do GPS do carro do policial aposentado, o que contesta a afirmação.
O estudo, feito a pedido do Ministério Público, mostrou que, enquanto o GPS do carro apontou que o veículo estava no estacionamento do hospital, ligações feitas e recebidas pelo celular de Mizael, usavam antenas de telefonia que não atendiam aquela área.
Antes de Tolezani, prestou depoimento o biólogo Carlos Eduardo de Mattos Bicudo, que analisou os sapatos de Mizael e afirmou que havia neles a mesma alga encontrada na represa de Nazaré Paulista (a 64 km de São Paulo), onde o corpo de Mércia foi encontrado.
"O sapato analisado foi submerso na água da represa. Não há outra hipótese para essa alga estar lá", afirmou a testemunha. Apesar disso, ele afirmou que a alga existe sim em outros locais do Estado de São Paulo.
Também foi ouvido no plenário Márcio Nakashima, irmão de Mércia. Ele disse que o réu fazia ameaças e perseguia a vítima. "Quando ele não conseguia falar com ela, ele saía atrás dela. Ele gostava de controlar o que ela fazia", afirmou.
Márcio disse ainda que, mesmo após o fim da parceria profissional --eles eram sócios em um escritório de advocacia-- e do relacionamento, Mizael continuava passando em frente ao prédio da vítima. O acusado também ligava repetidamente para o celular de Mércia, o que fez com que ela trocasse o número do celular diversas vezes.
Durante o depoimento de Márcio, Mizael foi retirado do plenário a pedido do Ministério Público. De acordo com a acusação, a testemunha se sentia ameaçada pelo réu. A defesa contestou que, por ser advogado, Mizael faria sua autodefesa, porém o juiz Leandro Bittencourt Cano deu seu parecer favorável à Promotoria.
-
CRONOLOGIA DO CASO MÉRCIA
Divulgação |
Mércia Nakashima, encontrada morta na represa de SP |
23 de maio de 2010
A advogada Mércia Nakashima desaparece após almoçar com a família
10 e 11 de junho
O carro da advogada é encontrado na represa de Nazaré Paulista (64 km de SP) no dia 10 de junho, e seu corpo no dia seguinte
25 de junho
A Justiça de São Paulo decreta a prisão preventiva do vigia Evandro Bezerra Silva, depois de ele não aparecer para prestar depoimento no DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa)
9 de julho
O vigia Evandro Bezerra Silva é preso na cidade de Canindé do São Francisco, em Sergipe
10 de julho
Justiça decreta a prisão temporária de Mizael Bispo de Souza, 40, ex-namorado da advogada Mércia Nakashima, suspeito de ter participado do crime
Andre Vicente/ Folhapress |
Carro de Mércia é retirado da represa em Nazaré Paulista (SP) |
14 de julho
Justiça suspende pedido de prisão de Mizael, que não chegou a ser preso
2 de agosto
O Ministério Público oferece denúncia (acusação formal) contra Mizael e Evandro por homicídio qualificado e ocultação de cadáver
3 de agosto
A Justiça de Guarulhos aceita a denúncia e decreta a prisão preventiva dos dois acusados
4 de agosto
O advogado de Mizael Bispo de Souza, Samir Haddad Junior, entra com pedido de habeas corpus. Mizael não se entrega e é considerado foragido
5 de agosto
A desembargadora Angélica de Almeida, da 12ª Câmara de Direito Criminal do Tribunal de Justiça, suspende a prisão preventiva de Mizael
9 de agosto
A 12ª Câmara de Direito Criminal do TJ suspende a prisão preventiva de Evandro
11 de agosto
Polícia faz a reconstituição de parte do dia em que Mércia Nakahima desapareceu. A polícia refez os passos de Mizael das 11h do dia 23 de maio até por volta de 18h40. Mércia teria sido vista pela última vez por volta de 18h30. Segundo o delegado Antônio de Olim, que coordenou a investigação, a vistoria serviu para reforçar as contradições no depoimento de Mizael
31 de agosto
O Instituto de Criminalística entrega à Polícia Civil e ao Ministério Público o laudo sobre a morte de Mércia. A principal evidência apresentada no documento é uma alga encontrada em um sapato de Mizael, que seria compatível com espécie presente na represa de Nazaré Paulista onde o corpo dela foi encontrado
18 a 21 de outubro
Justiça de Guarulhos ouve 21 testemunhas do caso, além dos dois acusados, durante audiência de instrução
7 de dezembro
Juiz decreta a prisão preventiva de Mizael e Evandro e decide levar os dois acusados a júri popular. Os dois não se entregam e são considerados foragidos
17 de dezembro
Os advogados de defesa de Mizael e Evandro entram com recursos contra o decreto da prisão preventiva no Tribunal de Justiça
27 de dezembro
A desembargadora Angélica de Almeida, da 12ª Câmara Criminal do TJ, nega habeas corpus em favor de Mizael e Evandro
10 de janeiro de 2011
O STJ (Superior Tribunal de Justiça) nega pedido de habeas corpus feito pela defesa de Mizael
24 de fevereiro de 2012
Mizael se entrega à Justiça após mais de um ano foragido. Advogado diz que pediu prisão domiciliar para ele
21 de março
A 12ª Câmara de Direito Criminal do TJ mantém decisão de levar Mizael e Evandro a júri popular
15 de maio
A 2ª Turma do STF (Supremo Tribunal Federal) nega pedido de habeas corpus a Mizael
23 de junho
Evandro é preso no povoado de Candú, zona rural de Carneiros, sertão de Alagoas
Livraria da Folha
- Box de DVD reúne dupla de clássicos de Andrei Tarkóvski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade
- 'Fluxos em Cadeia' analisa funcionamento e cotidiano do sistema penitenciário
- Livro analisa comunicações políticas entre Portugal, Brasil e Angola
- Livro traz mais de cem receitas de saladas que promovem saciedade
Acompanhe toda a cobertura dos blocos, festas e desfiles do Carnaval 2018, desde os preparativos
Tire as dúvidas sobre formas de contaminação, principais sintomas e o processo de imunização
Folha usa ferramenta on-line para acompanhar 118 promessas feitas por Doria em campanha