Análise: Fracasso de lei não tira obrigação da prefeitura de conservar monumentos
Monumentos existem por razões simbólicas e estão relacionados com a memória da sociedade. Não é incomum serem doados, e a municipalidade aceita-os com o compromisso de conservá-los.
Repassar a conservação dos monumentos à iniciativa privada em troca de publicidade tem um lado positivo: desonera os cofres públicos. O negativo é privilegiar obras de maior visibilidade. O fato de a lei não pegar não tira a responsabilidade pública.
Adoção de monumentos não atrai empresas há três anos
Falta de mão de obra e custo alto impedem adoção de obra
É um ciclo vicioso: o governo não mantém as obras, a população não se importa, e as empresas são sensíveis à indiferença. Por que isso ocorre?
Cidadãos e políticos não possuem relações simbólicas com a maioria dos monumentos. E, se o mato cresce nas praças e as calçadas são esburacadas, o que dizer do bronze de outrora que, aparentemente, não tem significado?
A qualidade do espaço público possui conexão direta com a cidadania e a autoestima da população, e indireta com a segurança pública. A ordem social é expressa nos detalhes. A municipalidade deveria garantir a conservação de todo o sistema.
HÁ DE TUDO
Entre os monumentos a serem adotados há de tudo: de obra com relevância artística a cópias. De índios sem lança na Paulista à Aurora, lampadário de ferro fundido do francês Mathurin Moreau.
Jogada de uma praça na Liberdade para outra em Santo Amaro, a coitada da Aurora foi pichada e perdeu o braço. Ao contrário da famosa Vênus de Milo, a ausência do membro não resultou em notoriedade. Antes ela tivesse perdido a visão, para não enxergar que todos --sociedade, municipalidade e empresas--, deram-lhe as costas.
FERNANDO SERAPIÃO é crítico de arquitetura e editor da revista "Monolito"
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