Protestos em SP reduzem tarifa, bloqueiam avenidas e têm cenas de namoro
Com uma cartolina em uma mão e o namorado na outra, a estudante Alessandra Guedes, 19, observava, na praça do Ciclista, na avenida Paulista, a concentração de milhares de pessoas.
Neste mês, os protestos em São Paulo --ora pacíficos, ora com cenas de violência-- bloquearam grandes avenidas, tiveram cenas de vandalismo, forte repressão policial e conseguiram barrar o aumento da tarifa do transporte público.
A manifestação do dia 11 era o primeiro protesto de que participava na vida. "Sempre quis vir, mas ficava meio tímida", afirma.
Depois de ver dois atos pela televisão, decidiu enfrentar a timidez. Deu um ultimato no parceiro: "Ou você vai comigo, ou vou sozinha".
O também estudante Carlo Valli, 19, aceitou e os dois formaram um das centenas de casais que, nas últimas semanas, participaram das manifestações em São Paulo.
De mãos dadas, "protegendo um ao outro", os dois juntaram-se na avenida a pessoas de perfis variados: punks, estudantes, militantes de partidos de esquerda, hackers, anarquistas e debutantes em manifestações de rua.
Apesar de pertencerem a este último grupo, o casal assegura que as pautas dos movimentos sociais (educação, moradia, saúde, tarifa do ônibus) sempre fizeram parte de suas discussões nos quatro meses de relacionamento.
"Conversamos muito sobre essas coisas, porque amamos São Paulo", diz Alessandra, estudante de direito na PUC.
Era véspera do dia dos namorados."A gente quer ficar um pouco sozinho, curtir um pouco, se você não se importa", sugere Carlo à reportagem.
Também debutante em protestos, o casal de namorados Talita Cordeiro, 18, e Pedro Henrique Campos, 17, foi à Paulista com outros três amigos da zona norte, onde moram. "A decisão de vir foi minha, quando percebi que as coisas estavam mais pacíficas", diz Talita, estudante de odontologia.
Fabio Braga/Folhapress | ||
O casal de namorados Talita Cordeiro, 18, e Pedro Henrique Campos, 17, foi a um protesto pela primeira vez neste mês |
DE LONGE
Os namorados Daniel Pelichek, 27, e Mariana Moretti saíram de Vinhedo, no interior de São Paulo, para participar do protesto na Paulista do dia 20.
"Queremos fazer volume, mostrar nossa indignação contra o que o governo faz na saúde e na educação", diz Daniel, engenheiro elétrico, enrolado em uma bandeira do Brasil -um presente da namorada, R$ 15 em Vinhedo.
"Aproveito e já guardo [a bandeira] para a Copa", diz.
De mais longe veio Floris Bove, 32, artista plástico holandês. Ao lado da namorada brasileira Julia Costa, 31, ele aproveitou para checar de perto o protesto que, naquela quinta-feira, reuniu 110 mil pessoas na avenida Paulista, segundo o Datafolha.
"É uma demonstração que uma manifestação popular pode mudar alguma coisa", afirma ele, em inglês, com uma garrafa de Heineken na mão.
"A gente é contra essa putaria que o governo brasileiro faz. Anotou aí putaria? Pode colocar no jornal", diz Julia, que mora com o namorado há três anos na Holanda.
Eles estão em São Paulo há dois meses para uma exposição de Floris na cidade.
POLÍCIA
O publicitário Diego Hernandez, 25, disse que ficou confuso com o rumo que as manifestações tomaram nos dias após o prefeito Fernando Haddad (PT) e o governador Geraldo Alckmin (PSDB) anunciarem a revogação do aumento da tarifa do transporte público no dia 19.
"Tinha uma causa clara, depois não mais. As pessoas estão protestando pelo quê? Não sei bem o que estamos fazendo aqui", diz ele, ao lado de Mayara Munhoz, 20, editora de vídeo.
Junto há pouco mais um mês --não namoram-- o casal esteve em três manifestações. Ele foi detido pela polícia no último dia 13, protesto que teve forte repressão da PM. "Me soltaram logo em seguida", diz Diego.
"Fiquei preocupada no dia", conta Mayara. "Não me arrependo, apoio o MPL (Movimento Passe Livre), eles têm um causa", diz o publicitário.
"E tem uma líder chamada Mayara, né?", brinca a editora, referindo-se a Mayara Vivian, membro do MPL.
Em um protesto com ares de micareta, uma manifestante aproveitou para, com um cartaz contra a PEC 37, tirar uma foto ao lado de um policial.
"É hoje que arrumo uma namorada", disse o PM, após a mulher ir embora.
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