Polícia responsabiliza condutor por acidente com bondinho em Campos do Jordão
Dez meses após o descarrilamento de um bondinho turístico na região de Campos do Jordão (SP) deixar três mortos, a Polícia Civil responsabilizou o condutor do veículo por demora no acionamento do freio.
O acidente causou as três mortes, entre elas a de uma grávida, e ferimentos em 40 pessoas. A automotriz --nome oficial do veículo-- é da Estrada de Ferro Campos do Jordão (EFCJ), do governo paulista.
Após 6 meses parado, Bondinho de Campos do Jordão volta a funcionar
Empresa diz que condutor causou acidente com bondinho; 3 morreram
Freio de emergência de bondinho falhou, afirma condutor
O laudo do Instituto de Criminalística, entregue à polícia somente no mês passado, descartou falha mecânica nos freios, diferentemente do que afirmara à polícia o condutor Luciano da Silva, 36.
Na época do acidente, Silva disse que o sistema de freios de emergência falhou. Segundo seu depoimento à polícia, é normal o veículo perder contato com o trilho e patinar, o que já havia ocorrido outras vezes em outros trechos. "Quando ocorre [a perda de tração], a primeira coisa que o motorneiro faz é acionar um mecanismo que joga areia no trilho, para dar atrito", disse. Esse mecanismo, segundo o depoimento de Silva, foi insuficiente.
"Foi acionado então o freio de emergência, um eletroímã que cria um campo magnético que prende o bonde no trilho, ocasionando uma parada abrupta. Nesse caso, o sistema não funcionou."
O laudo também concluiu que os bancos do bondinho soltos na colisão --e que atingiram as vítimas-- estavam mal fixados. Os parafusos não transfixavam o assoalho e não tinham porcas. Segundo a perícia, o arremesso dos bancos pode ter agravado as consequências da batida.
Silva vai responder por suspeita de homicídio culposo e lesão corporal culposa (sem intenção de causar dano).
"O freio não foi acionado no momento em que deveria ter sido. Pode ter sido um momento de distração", disse o delegado Vicente Lagioto. "Não havendo falha mecânica, só sobra a falha humana."
Segundo o delegado, além de destacar o problema da afixação dos bancos, a perícia fez outras recomendações à estatal responsável, como instalar um sistema automático de acionamento dos freios e cintos de segurança.
"O banco estava fora do padrão? Não tem padrão para isso. Não existe norma para cintos de segurança em trens", afirmou o delegado, justificando a não responsabilização do Estado.
O bondinho descia um trecho crítico de serra a cerca de 70 km/h, segundo a apuração policial. De acordo com a Estrada de Ferro Campos do Jordão, o limite para entrar na curva é de 30 km/h.
A companhia afirmou que o condutor trafegou com "imperícia e imprudência". Quanto aos bancos, informou que sua fixação foi modificada e passou a ser feita no chassi.
"Nos últimos dois anos, a EFCJ recebeu investimentos de R$ 14 milhões", afirmou.
Silva, que conduzia o bondinho, não foi localizado pela Folha para comentar o assunto.
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