Porto Velho enfrenta agora risco de água contaminada
Os netos de Eduardo Barbosa, 45, e Raimunda Madalena, 55, brincam nas águas do rio Madeira em um bairro pobre de Porto Velho, alheios aos males que o líquido imundo pode causar à saúde. "A gente até sabe do perigo, mas são crianças, né? Difícil segurar", diz Barbosa.
A cheia história do rio Madeira faz as autoridades ligarem o alerta para um grande perigo: a contaminação da água que chega até os bairros e se mistura a fossas sépticas, esgoto, lixo e animais mortos.
A cidade já enfrenta alta nos casos de leptospirose, doença transmitida pela urina do rato, e os peixes das áreas alagadas continuam servidos à mesa, embora o consumo seja totalmente desaconselhado pela Secretaria Municipal de Saúde.
Cheia do rio Madeira em Porto Velho (RO)
O problema é convencer os moradores de que a água que sempre trouxe fartura agora pode até matar.
"Não é fácil dizer ao ribeirinho para evitar o contato com a água, evitar o peixe. Historicamente, as pessoas vivem em torno do rio", diz o secretário de Saúde da capital, Domingos de Araújo.
Na praça Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, cartão-postal da cidade tomada pelas águas, crianças chegam a mergulhar para buscar peixes, vivos ou mortos, geralmente por falta de oxigênio.
"A água está 100% contaminada. Peixes que habitam as águas paradas da cheia, segundo análise, também estão impróprios", diz Araújo.
Nesta terça-feira (18), funcionários instalavam uma cerca na praça para evitar que as pessoas se aproximem da água. Mas é impossível evitar o contato da população em outros bairros.
O aposentado Manoel de Castro, 59, gritava para o filho Israel, 14, sair da água. No bairro Nacional, ele e outros cinco garotos passaram a tarde pulando das árvores na água que rodeia os quintais das casas.
"Preocupação mesmo é se eles batem a cabeça um no outro. Não sei se a água é problema", diz Manoel. Um sobrinho dele surge com uma vara e um mandi na outra mão. "Dá pra comer. É peixe, veio do rio, então é bom."
Entre janeiro e ontem, oito casos de leptospirose foram confirmados, segundo o Centro de Medicina Tropical de Rondônia, que acolhe a maior parte dos casos epidemiológicos da capital. No mesmo período de 2013 houve seis suspeitos, nenhum positivo.
O total de casos chega a 13, segundo a prefeitura.
O surto da doença, porém, deve começar quando a água baixar e as pessoas voltarem para casa, onde terão contato com toda a sujeira que o rio deixa para trás.
Malária e dengue também preocupam as autoridades locais. Dia e noite, caminhões espalham inseticida para eliminar os insetos.
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