Em júri do Carandiru, acusação lista outras mortes cometidas pelos réus
No terceiro dia do julgamento de dez policiais pelas mortes no quarto andar do antigo pavilhão 9 do Carandiru, durante o massacre de 1992, a Promotoria apresentou aos jurados a "ficha" dos réus. Ao menos 8 dos 10 réus já haviam se envolvido em homicídios antes do episódio na antiga Casa de Detenção.
O julgamento do massacre está sendo feito em etapas desde 2013. Nesta fase, estão sendo julgados dez policiais do Gate (Grupo de Ações Táticas Especiais) acusados de matar presos no quarto andar do pavilhão 9.
Por volta das 11h30 desta quarta-feira (19), o juiz Rodrigo Tellini declarou a sessão suspensa até as 13h, quando será a vez da tréplica da defesa.
Citando o livro "Rota 66", do jornalista Caco Barcellos, o promotor Márcio Friggi afirmou nesta manhã que o então comandante do Gate, capitão Wanderley Mascarenhas, envolveu-se em 34 mortes e era considerado, na época em que o livro foi escrito (no início da década de 1990), o quinto policial mais letal do Estado.
Para convencer os jurados de que houve excesso de violência policial na ação, o promotor citou rebeliões ocorridas antes do massacre que terminaram com um número de mortos bem inferior ao da Casa de Detenção.
Uma delas foi uma rebelião ocorrida na Penitenciária do Estado, em 1987, em que cerca de mil detentos fizeram 70 reféns. A entrada da PM para conter o motim acarretou 31 mortes.
"Uma ação coordenada com reféns resultou em menos de um terço das mortes do Carandiru", comparou o promotor, destacando que no Carandiru não havia reféns.
A principal tese da acusação é a de que houve excesso na atuação da PM. A defesa contesta, alegando que os policiais agiram no "estrito cumprimento do dever legal" e que não havia outra forma de conter a rebelião a não ser atirando.
"Não confundam estrito cumprimento do dever legal com agir arbitrariamente e de forma ilegal", disse Friggi aos jurados.
Na tentativa de emocionar os jurados, a acusação apresentou fotos de familiares dos presos, logo após o massacre, em busca de informações sobre os detentos, e pediu que não compactuassem com a violência policial.
"Executar pessoas não melhora em nada a segurança pública", disse Friggi, em resposta ao advogado de defesa Celso Vendramini que, ontem, baseou seu discurso, segundo a Promotoria, na máxima "bandido bom é bandido morto".
Devido ao grande número de réus e de vítimas, o julgamento do massacre foi dividido em etapas, conforme os andares do antigo pavilhão 9. Em 2013, foram condenados 48 policiais da Rota pelas mortes no primeiro e no segundo andares. Eles recorrem em liberdade.
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