Ausência de testemunha de defesa atrasa início do júri do Carandiru
A última etapa do julgamento do massacre do Carandiru está atrasada devido a ausência de uma das testemunhas arroladas pela defesa dos 15 policiais militares acusados pela morte de oito detentos durante a invasão à Casa de Detenção, em outubro de 1992. O início do júri estava marcado para as 9h.
De acordo com o advogado dos réus, Celso Vendramini, o agente penitenciário Francisco Carlos Leme foi intimido a comparecer no fórum da Barra Funda (zona oeste de São Paulo), porém, até as 12h20, não havia chegado ao tribunal.
Como a defesa declarou que a presença de Leme é "imprescindível", o juiz Rodrigo Tellini solicitou a busca do agente penitenciário e adiou o início dos trabalhos para as 13h.
Vendramini afirmou que, caso a testemunha não seja localizada, ele pedirá ao juiz o adiamento do júri e um novo agendamento para o julgamento.
Neste bloco, estão sendo julgados 15 PMs do COE (Comando de Operações Especiais). Eles também são acusados por duas tentativas de homicídios.
No mês passado, esses réus começaram a ser julgados, porém a defesa abandonou o plenário após acusar o juiz de ser "parcial". Com a saída de Vendramini, o julgamento foi adiado e remarcado para hoje.
A testemunha não localizada até agora chegou a falar no plenário adiado, no mês passado. Na ocasião, Leme afirmou que antes da PM entrar no pavilhão onde ocorria a rebelião já havia muitos detentos mortos no pátio.
Ao todo, foram arroladas pela acusação seis testemunhas. Entre elas, estão os dois sobreviventes que estavam no terceiro andar. Já a defesa arrolou cinco testemunhas.
Devido ao grande número de réus e de vítimas, o julgamento está sendo feito em etapas, conforme os andares do antigo prédio. Ao todo já foram condenados 58 PMs pelas mortes ocorridas no primeiro, segundo e quarto andares. Eles recorrem em liberdade.
ARGUMENTAÇÃO
O grande desafio da acusação nesse último bloco será convencer os jurados da responsabilidade dos réus por cada morte de que são acusados.
Uma característica apontada pela perícia que deverá ser exposta ao jurados é o fato de o terceiro andar ser o pavimento com menos sinais de disparos de arma de fogo nas paredes.
O laudo que aponta as poucas marcas de bala no pavimento podem ser utilizados pelo advogado dos réus para indicar que não houve confronto por parte dos policiais durante a invasão do local.
A defesa afirmou que irá mostrar aos jurados que os PMs reagiram às agressões dos detentos, apontando as marcas de armas de fogo nos escudos e coletes usados pelos policiais durante a ação na Casa de Detenção.
Vendramini voltou a dizer que não há como comprovar a responsabilidade dos réus, uma vez o confronto balístico não foi feito. Esse exame permitiria identificar de qual arma saiu os disparos que atingiu cada preso morto.
O promotor Márcio Friggi, no entanto, disse que explicará ao júri como se deram as "execuções". A tese da ação coletiva que resultou no massacre e o excesso de violência durante a ação serão os principais pontos da acusação.
"Cada qual, com sua posição, concorre para a realização da obra comum. Pela tese, não importa se o disparo que matou saiu da arma do policial A ou do policial B. O fato é que agindo daquela maneira eles produziram o resultado daquela forma, como um todo, como uma obra coletiva", afirma o promotor.
VIGÍLIA
Um grupo de cerca de 30 pessoas se concentra na manhã de hoje em frente ao fórum da Barra Funda (zona oeste de São Paulo), e fazia uma vigília em apoio aos policiais acusados pelas mortes.
Portando faixas e cruzes, eles pediam em frente ao tribunal que os 15 PMs fosse absolvidos. Segundo eles, os réus obedeceram uma ordem do secretário de Segurança na época, Pedro Franco de Campos, e do então governador, Luiz Antônio Fleury Filho.
"Estamos aqui para dar uma demonstração de solidariedade aos policiais. Estou amplamente convicto que esse grupo será absolvido e abrirá caminho para absolvição dos outros", disse o deputado estadual major Olímpio Gomes (PDT), que é oficial da reserva.
Entre os manifestantes estão integrantes do grupo Reaja São Paulo, Associação dos Cabos e Soldados da PM de São Paulo, Associação dos Policiais Militares Deficientes Físicos e Legião de Idealistas.
Marina Gama Cubas/Folhapress | ||
vigília em frente ao fórum da Barra Funda em apoio aos policiais acusados pelo massacre do Carandiru |
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