Polícia do Rio investiga se hospital foi negligente ao negar socorro a fotógrafo morto
A Polícia Civil do Rio investiga se houve negligência por parte do Instituto Nacional de Cardiologia (INC), que teria se recusado a prestar socorro ao fotógrafo Luiz Cláudio Marigo, 63, nesta segunda-feira (2), por volta das 11h. Marigo passou mal com sintomas de infarto quando estava num ônibus, em Laranjeiras, zona sul do Rio. Logo, o motorista o levou para o hospital mais próximo, referência em doenças cardíacas, mas o fotógrafo demorou a ser atendido e morreu.
Testemunhas disseram à polícia que o motorista do ônibus foi informado por funcionários do instituto que somente uma ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) poderia prestar o atendimento à vítima. Passageiros chegaram a ligar para os bombeiros, que só chegaram 20 minutos depois. O fotógrafo não resistiu.
A Folha entrou em contato com parentes de Marigo, mas não localizou ninguém. O Instituto Nacional de Cardiologia informou em nota que "uma senhora [que estava no ônibus] chegou à recepção do hospital pedindo atendimento a um cidadão que 'estava passando mal na rua'". " Por não ter sido dimensionada a gravidade do caso, o segurança do instituto a orientou a chamar o serviço de emergência móvel - já que o INC não conta com uma unidade de emergência", disse.
"Nesse intervalo de tempo, a equipe de saúde de uma ambulância que trazia um paciente ao instituto foi acionada por passageiros do ônibus onde a vítima estava. Esses profissionais entraram no veículo e, ao constatar que se tratava de uma parada cardíaca, imediatamente iniciaram as manobras de ressuscitação até a chegada da equipe médica dos bombeiros, que assumiram o atendimento", explica o hospital na nota.
A unidade afirma ainda que chegou a disponibilizar um leito no CTI para recepção do fotógrafo em caso de sucesso da reanimação. O instituto diz que não foi realizada a remoção imediata da vítima para o INC, pois, de acordo com o protocolo de reanimação cardíaca, não é recomendável a mobilização do paciente.
"Apesar de não contar com serviço de emergência, ainda assim o INC disponibiliza infraestrutura necessária para atendimento de urgência 24 horas por dia. Vale destacar que na manhã de segunda-feira, quatro pessoas em situação de emergência chegaram ao Instituto e foram atendidas pela equipe médica do ambulatório para tratamento especial", disse.
O caso foi registrado, nesta segunda-feira, na 10ª DP (Botafogo), que já ouviu o motorista e o cobrador do ônibus. Agora, as investigações estão a cargo da 9ª DP (Catete), que instaurou inquérito policial para apurar se houve mesmo negligência do hospital.
A polícia ainda vai ouvir o socorrista do Corpo de Bombeiros e também identificar os médicos que estavam de plantão no hospital para prestarem depoimento na delegacia. Outras duas testemunhas, que não tiveram os nomes divulgados, também serão ouvidas.
Reprodução/Facebook | ||
O fotógrafo morreu após ter seu atendimento recusado no Instituto Nacional de Cardiologia |
PRÊMIOS
Especialista em fotos de natureza, Luiz Cláudio Marigo, publicou vários livros e ganhou duas vezes o Prêmio Jabuti em 1984, com o livro "Jardins e Riachinhos", com textos de Guimarães Rosa, na categoria Obra Avulsa, e em 2011 na categoria fotografia com o livro "Fotografias da Natureza".
Recebeu também o 1º prêmio no Wildlife Photographer of the Year, organizado pela BBC, Natural History Museum e Fauna and Flora Preservation Society, de Londres.
Algumas de suas fotos ficaram muito conhecidas nos anos 80 porque acompanhavam os chocolate Surpresa da Nestlé.
Marigo fotografou para as revistas "Revista Geográfica Universal" e "Fotografe Melhor". Publicou também fotos e artigos em revistas como Ciência Hoje, , Manchete, Iris Foto, Ventura, Ícaro, além de outras de países como Suécia, Espanha, Inglaterra, França, Alemanha, EUA e Japão.
Segundo amigos, a "determinação e compromisso" o levaram a flagrar, no sertão da baiano, os últimos representantes da espécime da Ararinha-Azul, provando que sua extinção total não tinha se consumado. A partir daí a comunidade científica teve elementos para investir na recuperação da espécie.
Marigo foi enterrado no final da tarde de terça-feira, no cemitério São João Batista, em Botafogo (zona sul).
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