Com medo, mulheres em Goiânia se arrumam menos e evitam a rua
Jovens vaidosas preferem agora prender o cabelo e se arrumar menos para ir à faculdade à noite. Outras se escondem atrás da cobertura do ponto de ônibus e há quem chame um táxi para andar apenas três quarteirões.
A Folha ouviu 40 mulheres em ruas, portas de faculdades e colégios, pontos de ônibus e bares de Goiânia ao longo da última semana.
Elas relatam ter mudado a rotina e redobrado a atenção no trânsito especialmente nas últimas duas semanas, com medo de se tornarem novas vítimas de uma série de assassinatos que ocorre na cidade.
Desde o início do ano, 15 jovens entre 13 e 29 anos foram mortas a tiros por um motociclista, com o rosto coberto, que em geral nada roubou. Até o final da semana, a polícia não havia conseguido elucidar os crimes.
Com medo, quem anda de ônibus prefere aguardar a condução em grupo ou atrás da cobertura do ponto.
Weimer Carvalho/Folhapress | ||
A estudante Thays Duarte, 18; pais ficam apreensivos se ela demora para voltar para casa |
A estudante de direito Leilane Queiroz, 22, costumava deixar os coletivos lotados passarem para pegar um mais vazio. "Agora acho ótimo quando está cheio de gente."
A assistente administrativa Lays de Araújo, 18, é outra que não gosta mais de esperar na parada de ônibus. Agora, ela fica na guarita da empresa e sai correndo quando vê o seu se aproximar.
Estudante do período noturno, Raynara Pessoa de Souza, 24, conta que está abrindo mão da vaidade. "Eu me arrumo menos agora e prendo sempre o cabelo para não chamar a atenção."
A designer de iluminação Stephani Dourado, 23, também prende os longos cabelos escuros. E, no calor forte de Goiânia, anda de vidros sempre fechados, mesmo sem ter ar-condicionado.
"É horrível essa situação. A gente tem que viver com medo de ser mulher. Com homem isso não acontece", diz.
Ao menos sete taxistas relataram à Folha que há mais mulheres jovens pegando táxi para curtas distâncias.
"Tive uma cliente que fez uma corrida só de três quarteirões, porque ela disse que temia andar a pé", diz o taxista Antônio Farias, 63.
Após as aulas, a "esticadinha" para um cinema ou bar, por exemplo, foi suspensa.
Karoline Borges, 21, aluna de direito, passou a ir à academia de carona com o vizinho, e não mais sozinha.
Até para esperar a mãe buscá-la na faculdade, Bruna Borges, 22, prefere ficar do lado de dentro do portão.
A estudante Laís da Silva, 21, deixou de ir ao supermercado e à casa dos vizinhos durante a noite. "Acaba que o assassino fica solto, e a gente, presa", resume.
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